64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
CADEIA AOS LOUCOS, HOSPÍCIO AOS MORPHÉTICOS: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E PRÁTICAS MÉDICO-HIGIENÍSTICAS EM SÃO LUIS NA REPÚBLICA VELHA.
Jorge Antonio Rocha da Silva 1,2,3
1. Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado Acadêmico – UFMA
2. Faculdade do Maranhão – FACAM
3. Centro de Ensino Dr. Tarquínio Lopes Filho - CETALF
INTRODUÇÃO:
A História, a cada dia têm assumido papel de destaque na abordagem da saúde na América Latina, utilizando justamente a noção de representações sociais como pode ser comprovado em inúmeras publicações, como livros, teses e artigos. Historiadores da medicina afirmam que as preocupações com um pensamento social em saúde, não são tão recentes na história da saúde no mundo ocidental. Percebemos claramente esta preocupação à medida que, a partir do final do século XIX e início do século XX, começam a se criar cursos e instituições para a própria reprodução do conhecimento como o Curso de Medicina Social, criado em 1881, em Munich, seguido pelo de Harvard, em 1913, e pelo Departamento de Higiene da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1918.
No contexto nacional, os principais atores públicos, especialmente os sanitaristas e burocratas da saúde, seriam intelectuais ligados aos interesses e estratégias das classes dominantes, obviamente ligados à dinâmica do capitalismo. Na capital maranhense, essas relações revelam um modo similar ao praticado nacionalmente, expressando-se nos interesses de acumulação – representados, por exemplo, nas prioridades atribuídas pelas políticas públicas ao setor da infra-estrutura econômica – e da cidadania – representados pela disponibilidade e acessibilidade de serviços públicos urbanos, revelando um permanente estado de tensão e que, ao longo do processo de urbanização, a acumulação e os interessas privados demarcavam suas práticas.
METODOLOGIA:
Como perspectiva metodológica do estudo, apontamos para a descrição densa sugerida pelo antropólogo cultural Clifford Geertz (1985). Segundo ele, esse recurso metodológico permite garantir ao passado a preservação do seu sentido peculiar que se perderia quando vinculado ao presente numa linha evolutiva histórica.
A principal característica desse tipo de abordagem consiste nas possibilidades creditadas a uma descrição densa do material, tornando-o inteligível mediante a de sua contextualização.
A descrição densa forneceu o instrumental necessário para a construção da narrativa de eventos e fatos construídos a partir da análise das fontes documentais utilizadas na pesquisa, procurando entender a sociedade de São Luís das duas primeiras décadas do século XX.
Para a concretização do projeto foram usadas técnicas de análise linguística e semântica, sendo utilizados como instrumentos de pesquisa, fontes documentais e bibliográficas. Como fontes documentais: os discursos normativos (leis, códigos médicos; estatutos), relatórios e jornais da época. Como fontes literárias, livros de teoria e metodologia, livros de História do Maranhão, livros de história da medicina e livros de sociologia da saúde.
Utilizo as representações sociais presentes no discurso médico higienista como fonte para a reconstrução de uma fração do pensar e do agir desta importante parcela da sociedade maranhense.
RESULTADOS:
Sob a égide do regime republicano, a sociedade ludovicense apropriou-se do discurso da modernidade, buscando acompanhar seus padrões em voga no país. A capital maranhense assistiu a um crescimento urbano desordenado, onde a eminência de um caos sanitário levou as autoridades a oferecerem serviços públicos. Por outro lado, acentuava-se o processo de periferização, com o aparecimento dos bairros operários como: Roma velha, Codozinho, Baixinha e Madre-Deus; além da transformação de muitos sobrados do centro da cidade em habitações coletivas populares.
No início do século, a cidade de São Luís apresentava um quadro sanitário caótico, caracterizada pela presença de diversas doenças de caráter epidêmico que acometiam a população, entre as quais a varíola, a malária, a febre amarela e a peste bubônica, o que acabou trazendo sérias consequências para a saúde pública, comprometendo o desenvolvimento como um todo da cidade, pois boa parte dos investimentos era utilizada no controle destas doenças.
Em São Luís, o pensar sifiliticamente consistiu no rigor determinado dos higienistas, expressado através dos códigos de costumes, normas e prescrições rigorosas da vigilância médica: a ordem e a limpeza eram impostas, decretadas por força de leis.
CONCLUSÃO:
Pensado como um exercício do fazer histórico, este trabalho cumpriu o proposto de início, já que o que aqui se apresenta constitui um ensaio que se propõe fomentar a discussão em torno do objeto.
Exercício que nos permitiu verificar que as ações de saúde pública, traduzidas através das ações higienísticas, restringiam-se às práticas terapêuticas acompanhadas das ações fiscais e policiais, negligenciando-se as medidas profiláticas, como o saneamento básico, as condições de moradia etc. A educação sanitária como técnica rotineira de ação era absolutamente inexistente.
Foi possível perceber ainda, as incipientes ações de saúde pública como práticas higienísticas responsáveis por moldar e controlar a sociedade da época, a partir das representações sociais das classes dirigentes, ou mesmo com o objetivo de se estabelecer uma identidade regional forjada por meio de ações políticas, ou seja, de ações e práticas direcionadas violentamente no sentido simbólico ou mesmo físicas em detrimento de um sentido cultural, no qual as representações são produzidas por intermédio do ideário popular.
Percebe-se claramente que a partir da imposição dos discursos, ocorrem as apropriações, práticas e formações de novas representações por parte dos usuários que na maioria das vezes eram curados apenas por sujeição.
Palavras-chave: Representações sociais, Práticas higienísticas, República Velha.