64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
Etnoterminologia da língua Mundurukú (Tupí)
Nathalia Martins Peres Costa 1,2
Tânia Borges Ferreira 1
1. Universidade de Brasília - UnB (LIP)
2. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Cnpq (bolsista)
INTRODUÇÃO:
Os Mundurukú (MDK) são um povo indígena brasileiro, composto por aproximadamente 10 mil pessoas, que se localizam no alto, médio e baixo rio Tapajós, no Pará, e nas proximidades do rio Madeira, no Amazonas.
O presente estudo pretende documentar, descrever e explicar a terminologia do sistema de cura tradicional dos Mundurukú do Pará. Em contextos de especialidade, chamamos de etnotermos aqueles empregados no lugar do vocabulário cotidiano, mais especificamente nos discursos orais de pajés e parteiras. Apoiados na Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT) e na Socioterminologia, entendemos aqui a Etnoterminologia como a terminologia voltada para os discursos de especialidade de uma língua indígena. Este estudo, essencialmente linguístico, tem também uma interface antropológica, por ser um registro de uma cultura, e educacional, posta a possibilidade de aplicação didática dos resultados.
METODOLOGIA:
Foram realizados dois trabalhos de campo, quando entrevistamos pajés e fizemos discussões terminológicas com professores e outros MDKs. Coletamos aproximadamente 170 min. de entrevistas abertas sobre a medicina tradicional, além de determinarmos qual seria a melhor forma de reverter os dados terminológicos em algo que pudesse ser útil para a comunidade. Além da análise linguística dos termos já coletados, está sendo pensado um material didático para a comunidade com base nesses resultados; por isso, está sendo preciso repensar o fazer terminográfico de tal forma que possamos construir uma obra de fácil acesso e amplo emprego para a população, visando também atender à comunidade quanto à manutenção dos saberes tradicionais.
RESULTADOS:
A partir da análise dos dados, temos chegado aos termos, aproximadamente 125, destes quase todos já estão catalogados em português, e, aproximadamente, a metade também em MDK. Estes termos são extraídos dos relatos dos pajés sobre tratamentos tradicionais. No momento, temos 25 relatos sobre tratamentos de saúde em português e 14 em Mundurukú já totalmente fichados e analisados. Cada tratamento relatado nos gerou aproximadamente 5 termos, desde nomes de doenças a tipo de preparo, administração, recurso natural utilizado, contra indicações, etc. As entrevistas realizadas se convertem também em fichas terminológicas (FTs) totalmente voltadas para a construção do material final.
CONCLUSÃO:
Percebemos cada vez mais que é inviável pensar o saber terminológico de uma língua sem que se leve em conta as questões políticas e culturais que cercam os usuários dessa língua, especialmente se estamos lidando com a língua de uma etnia indígena brasileira, valorizar sua terminologia e seu saber tradicional equivale a valorizar e preservar a língua e a cultura desse povo.
Palavras-chave: Etnoterminologia, Língua Mundurukú, Linguística antropológica.