64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
PERCEPÇÕES DE ALFABETIZADORES VOLUNTÁRIOS ACERCA DO PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO NO NORDESTE BRASILEIRO
MARIA CRISTINA AMÉLIA BORGES DOS SANTOS 1
MARA FRANCO DE SÁ 2
ADMÁRIO LUIZ DE ALMEIDA 3
1. MEC/UNESCO
2. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL
3. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
INTRODUÇÃO:
O trabalho objetiva refletir sobre as percepções que os alfabetizadores voluntários possuem acerca do Programa Brasil Alfabetizado em um estado do nordeste brasileiro. De acordo com Moscovici (1978), as representações situam-se na encruzilhada entre o indivíduo e a sociedade, o que Peluzo também observa em Jodelet, ao afirmar que a “sociedade fala, mas o indivíduo é quem emite o discurso” (Peluso, 2003, p. 323). Para Moscovici, as interações humanas pressupõem representações independentemente de ocorrerem entre duas pessoas ou entre grupos. E isso se dá no processo de comunicação e de cooperação. “Representações, obviamente, não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem (Moscovici, 2003, p. 41). Assim, reflexões apresentadas permitem compreender as representações sociais que orientam as ações dos participantes do programa de alfabetização.
METODOLOGIA:
Para a realização desse trabalho, adotamos a abordagem de pesquisa quantiqualitativa. A coleta de dados foi realizada, inicialmente, pelo uso da técnica de Grupo Focal e aplicação de questionários. O Grupo focal foi realizado com 12 participantes do programa e nos permitiu conhecer as percepções dos sujeitos sociais envolvidos no Programa Brasil Alfabetizado. Segundo Barbour (2009), essa primeira etapa da pesquisa torna-se fundamental por permitir uma participação mais efetiva dos sujeitos envolvidos a partir das reflexões apresentadas sobre questões que lhe são pertinentes e que podem não ter recebido a devida atenção do pesquisador. A partir das questões que emergiram do Grupo Focal elaboramos um questionário, com 8 questões fechadas que tratavam sobre auto-avaliação; avaliação da estrutura e noção de pertencimento ao projeto, aplicado a 60 membros do programa para que pudéssemos verificar se os demais participantes apresentavam percepções convergentes ou divergentes com o grupo focal.
RESULTADOS:
Os resultados evidenciaram que o núcleo central da representação social dos sujeitos sociais pesquisados era a percepção de doação. No entanto, ao emergir o sistema periférico da representação social surgiu a ideia de combate a desigualdade social. O grupo apresentou um posicionamento unânime quanto à concepção de alfabetização como um mecanismo de superação das históricas desigualdades existentes. Os dados do grupo focal demonstraram que o sistema periférico foi ampliado e a representação de compromisso constitui-se como mais um elemento da representação. Os resultados dos questionários corroboraram as falas presentes no Grupo Focal, destacando-se os dados referentes às dificuldades encontradas para execução das atividades, principalmente quanto as carências matérias e a percepção da necessidade de uma presença constante do Estado. Nesse aspecto evidenciou-se a manifestação da importância da coletividade no Programa ao compreender que a problemática da não alfabetização de jovens e adultos não pode limitar-se a ações voluntárias de membros da comunidade, mas também da elaboração e aplicação de políticas públicas voltadas para os jovens e adultos trabalhadores que não tiveram acesso a escola para que assim evitar a continuidade de uma inclusão social precária.
CONCLUSÃO:
Tendo em vista o objetivo do presente trabalho, os resultados permitiram-nos compreender que as percepções dos participantes do programa tende a ultrapassar a concepção de doação e compreender o acesso a educação como um rompimento com a assimilação e consolidação da crença do potencial transformador da ação individual em detrimento de ações mais coletivas, compreendendo assim a importância do papel do Estado e do efetivo cumprimento das previsões legais já estabelecidas. A percepção dos envolvidos expressa que o processo de alfabetização se deve limitar-se a aquisição da leitura e da escrita, mas também ao acesso aos diversos bens materiais e simbólicos de inserção social e que só podem ser garantidos pela atuação efetiva do Estado mediante ações que alcance os problemas estruturais que impedem gerações de ingressarem e concluírem o processe educativo formal.
Palavras-chave: Políticas Públicas em educação, Representações sociais e educação, Estado e educação.