64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO HUMANA NO CURSO NORMAL DE NÍVEL MÉDIO NO IEJC
Leni Hack 1
1. Curso de Educação Física - UNEMAT - Cáceres/MT
INTRODUÇÃO:
Objetivo apresentar considerações sobre a formação humana, desenvolvida no Instituto de Educação Josué de Castro – IEJC, em Veranópolis/RS. A experiência vivenciada pelos Sem Terra, nos acampamentos e assentamentos, deixou evidente que a luta pela reforma agrária está diretamente relacionada com o acesso à educação. Assim, construir espaços pedagógicos, com uma teoria pedagógica diretamente vinculada às lutas da classe trabalhadora é considerado uma estratégia nesse processo. A Educação do Campo assume então sua particularidade, que é o vínculo com sujeitos sociais concretos, e com um recorte específico de classe, mas sem deixar de considerar a dimensão da universalidade. O processo educacional no IEJC tem a função preponderante de instigar a consciência do ser humano sobre a sua condição no mundo, potencializar a sua humanidade e reproduzir-se, enquanto sujeito social e não objeto para o mercado de trabalho. Esse elemento se contrapõe à desumanização e individualização da sociedade capitalista, gerando novas formas de práticas sociais. Nesse sentido, é fundamental compreender as relações que se estabelecem, pontuando avanços na busca de caminhos alternativos ao modelo de “educação bancária”, para superação da dicotomia existente entre o trabalho manual e o trabalho intelectual.
METODOLOGIA:
Tais análises são decorrentes de um processo de estudo dos documentos produzidos pelo Setor Nacional de Educação do MST, relacionados aos princípios filosóficos e pedagógicos, da educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, às políticas públicas da educação do campo e, a convivência com a coletividade no IEJC, particularmente, durante uma oficina pedagógica desenvolvida naquele espaço educativo, com educandos/as do Curso Normal de Nível Médio, no período de realização da pesquisa para a tese de doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGEDU/UFRGS.
RESULTADOS:
A Educação é uma das bandeiras de luta do MST, entendida tanto em seu sentido amplo de formação humana, quanto no sentido restrito, de formação de quadros para o conjunto das lutas dos trabalhadores/as. Assim, o processo educacional acontece tanto no espaço formal das escolas, quanto na relação dialética entre os sujeitos e a realidade; inseridos na dinâmica das relações sociais. Um dos elementos que perpassa todo o conjunto bibliográfico produzido pelo MST, no que tange à educação é o compromisso com a transformação da estrutura social vigente, através, fundamentalmente, de uma educação que leve em conta o conjunto das dimensões da formação humana, cujos pilares estão baseados na justiça social, a radicalidade democrática, e os valores humanistas e socialistas. A base teórica tem influências educacionais advindas principalmente de Makarenko, a partir da constituição do conceito de coletividade como sujeitos da educação. Também de Pistrak, que preconiza a integração do ensino com o trabalho real na produção juntamente com o processo de auto-organização dos educandos. O terceiro autor que dá sustentação a esta concepção é Paulo Freire, que insiste na necessidade da conexão entre a educação e a transformação da consciência do sujeito em consciência crítica, bem como na emancipação humana.
CONCLUSÃO:
A força de qualquer organização está na construção coletiva, a partir de uma dada realidade concreta, cuja principal característica é a dicotomia entre o trabalho manual e trabalho intelectual, entre os que pensam e dirigem e, os que fazem, executam. Transformar esta realidade é um desafio, pautado pelo MST, que procuram pensar uma prática libertadora. Essa busca exige uma postura contra a “domesticação” e uma ação educativa “em suas relações dialéticas com a realidade”, no sentido de pensar e considerar o ser humano, enquanto sujeito que ensina e aprende, na constância da vida. A educação no IEJC traz para a pedagogia algo mais do que a discussão teórico-metodológica dos conteúdos previstos nos projetos de curso, além de recolocar a ética, a cultura, a identidade coletiva e o trabalho nas dimensões da convivência humana, os/as educandos/as vivenciam os processos educativos de modo peculiar, onde o conhecimento socialmente construído não se atém ao que está registrado na matriz curricular. A partir destas reflexões constatamos que tais ações e práticas pedagógicas, vislumbram a possibilidade da construção de novos caminhos e, nos permitem ainda, constatar a existência de alternativas, de sonhar um sonho coletivo em busca de um mundo melhor para a humanidade e os demais seres, que conosco habitam este planeta.
Palavras-chave: Formação Humana, Educação do Campo, MST.