64ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 6. Zootecnia - 2. Nutrição e Alimentação Animal
SINAIS DE INTOXICAÇÃO EM OVINOS ALIMENTADOS COM TORTA DE ALGODÃO – RELATO DE CASO
Luis Afonso Cruz dos Santos 1
Fred da Silva Julião 2
Pablo Teixeira Viana 3
1. Graduando em Zootecnia do Instituto Federal Baiano, Campus Santa Inês
2. Professor do Instituto Federal Baiano Campus Santa Inês
3. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UESB/Itapetinga - BA
INTRODUÇÃO:
O algodão (Gossypium hirsutum) é uma das culturas oleaginosas mais cultivadas no setor da agricultura brasileira, originando após o beneficiamento deste o co-produto tortas de algodão posteriormente destinados a alimentação animal. O adequado desempenho produtivo dos ruminantes está relacionado principalmente ao consumo alimentar e do valor nutricional do alimento. O gossipol é uma substância fenólica tóxica presente na semente do algodoeiro (Gossypium sp.) e de seus co-produtos. Grande parte do gossipol é removida no processo de cozimento e extração do óleo da semente para obtenção da torta de algodão, entretanto, ainda assim podem ser encontradas as formas livre ou ligado às proteínas. A torta de algodão apresenta em sua composição teores médios de 9,0% de extrato etéreo (gordura), valores estes, consideravelmente altos no que tange aos níveis máximos diário de 5 a 7% permitidos na alimentação de ruminantes. Neste contexto, o uso de fontes de lipídios e níveis de gossipol em dietas para ruminantes ainda é motivo de muitas contradições, haja vista o conhecimento ainda restrito dos níveis e das formas de inclusão e de seus efeitos no consumo. O estudo experimental com os animais foi realizado objetivando-se avaliar o consumo e digestibilidade dos nutrientes em ovinos alimentados com dietas contendo torta de algodão proveniente da extração do óleo sob diferentes condições de processamento e feno de capim Tifton cv. 85.
METODOLOGIA:
Foram utilizados 10 ovinos da raça Santa Inês, machos inteiros com peso corporal médio de 27,7 kg e cinco meses de idade distribuídos estatisticamente em dois quadrados latinos 5 x 5 alojados em gaiolas metabólicas individuais. O experimento teve duração de 60 dias com cinco períodos de 12 dias, dos quais sete dias para adaptação à mudança das dietas e cinco dias para coleta de dados. Os animais foram alimentados com dietas contendo 40% de torta de algodão oriunda das quatro usinas e 60% de feno de capim Tifton cv. 85 em porcentagem da matéria seca (MS), constituindo assim os tratamentos IA, IB, IC e ID, respectivamente. A dieta basal foi composta exclusivamente de feno. Para efeito de quantificação e avaliação do consumo voluntário foram considerados os alimentos fornecidos entre o 8° e 12° dia de cada período experimental, sendo as sobras computadas entre o 9° e 13° dia. A dieta foi pesada diariamente e fornecida ad libitum duas vezes ao dia, às 7:00 e 16:00 h. As tortas de algodão utilizadas apresentaram variação em sua composição quanto aos teores de gossipol livre e extrato etéreo.
RESULTADOS:
Foram relatados sinais de intoxicação em dois dos animais com interrupção total do consumo diário e respiração curta e ofegante no terço final do terceiro período experimental, observados no horário do segundo arraçoamento dos animais. De acordo com as descrições supracitadas referente aos níveis ideais de extrato etéreo e gossipol, os sinais clínicos apresentados pelos animais podem estar relacionados com a presença destes constituintes na dieta. Após apresentação dos sinais clínicos já relatados, os animais foram submetidos ao tratamento imediato com a aplicação via intramuscular profunda segundo recomendações do fabricante do ANTITÓXICO UCB® injetável, indicado para animais coadjuvante no tratamento hepatoprotetor de intoxicações por alimentos, auxiliando no tratamento das afecções hepáticas, possuindo ação lipotrópica nas infiltrações gordurosas do fígado, dentre outros, (posologia vide bula). A aplicação foi realizada oito horas após o fornecimento da primeira alimentação do dia, observando-se resultado positivo de desintoxicação no dia seguinte com o retorno do consumo voluntário da dieta oferecida aos animais.
CONCLUSÃO:
Nas condições em que o experimento foi realizado, os níveis de gossipol livre e extrato etéreo disponíveis nas dietas não estavam acima dos valores máximos recomendados por dia, entretanto, os níveis de tolerância de consumo destes constituintes podem variar entre animais. Em função da utilização do ANTITÓXICO UCB® injetável no momento em que foi diagnosticada a redução do consumo dos animais, pôde-se concluir que não houve interferência nos resultados finais do estudo experimental sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes da dieta fornecida.
Palavras-chave: co-produto, extrato etéreo, gossipol.