64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras |
IMAGINÁRIO E SURREALISMO EM VIAJE A LA LUNA DE FEDERICO GARCÍA LORCA E UM CÃO ANDALUZ DE SALVADOR DALÍ E LUÍS BUÑUEL |
Igor Nilton de Araujo Rodrigues 1 Sueli Maria de Oliveira Rergino 2 |
1. Faculdade de Letras - UFG 2. Profa. Dra. / Orientadora - Faculdade de Letras - UFG |
INTRODUÇÃO: |
Em 1929, foi lançado em Paris o filme que atualmente é reconhecido como um dos mais importantes representantes do cinema experimental surrealista, Um Cão Andaluz. Realizado pelo cineasta Luis Buñuel e pelo pintor Salvador Dalí, o filme oferece imagens e metáforas que falam por si mesmas, adquirindo sentido próprio com o decorrer das cenas. O surrealismo foi um movimento de vanguarda europeia que surgiu com o Manifesto Surrealista de André Breton. Esse movimento propõe que o homem se liberte da razão, da crítica e da lógica. Foi um movimento que procurou investigar o inconsciente, desvendando as profundidades da psique humana. Nas obras surrealistas, uma constante é a atmosfera onírica, com imagens retiradas de sonhos e devaneios. Nesse mesmo ano é lançado, também, o roteiro cinematográfico Viaje a La Luna escrito pelo poeta e dramaturgo Federico García Lorca, durante o período em que viveu em Nova York. Trata-se de uma obra de ruptura, que expõe as emoções do poeta em relação a devastadores acontecimentos pessoais. Ao que tudo indica, Lorca escreveu Viaje a La Luna como resposta ao filme de Salvador Dalí e Luís Buñuel. O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar a configuração simbólica presente em ambas as obras, considerando que há uma confluência nas obras desses artistas. |
METODOLOGIA: |
A análise do filme Um cão andaluz, de Luiz Buñuel e Salvador Dali, como também o roteiro cinematográfico Viaje a la Luna escrito por García Lorca, se dará por meio da hermenêutica simbólica, proposta por Gilbert Durand, buscando compreender a dinâmica dos símbolos e arquétipos configurados pelo imaginário e pelo surrealismo presentes nas obras. Também serão considerados o manifesto surrealista de André Breton e as teorias freudianas sobre os sonhos, assim como os estudos de símbolos realizados por Carl Jung. |
RESULTADOS: |
É possível encontrar no filme de Dalí e Buñuel uma série de símbolos que podem fornecer significados para as imagens inquietantes que são apresentadas, assim como no roteiro de Lorca, no qual muitos dos símbolos configuram o estado de solidão no qual o poeta grandino se encontrava. Nas cenas iniciais de Um Cão Andaluz, uma mulher tem o seu olho cortado por uma navalha. A imagem que sucede às dessa cena é a da lua. Em suas representações, a lua pode se conectar simbolicamente ao imaginário da morte, assim como também à imagem do feminino. Dessa forma, um processo de simbolização, típico dos estados oníricos, pode ser detectado no filme surrealista de Buñuel e Dalí. Esse processo, que Freud chama de “disposição pictórica do material psíquico”, diz respeito à transformação dos elementos dos sonhos em símbolos e metáforas. Lorca em Viaje a la Luna retoma a imagem da lua, dando ênfase na ideia de exílio absoluto, ou seja, a morte. Outra cena na qual é possível ver uma exposição simbólica, é a da mão que apresenta um orifício negro de onde saem formigas. Em outra cena, um grupo de pessoas se amontoam, fazendo um círculo em torno de uma mão, em uma possível referência às formigas da cena anterior. As formigas, na cultura do budismo tibetano, fazem alusão simbólica à vida industrial. |
CONCLUSÃO: |
Tais obras estão conectadas diretamente e indiretamente ao campo simbólico e às teorias do imaginário. Este trabalho, portanto, procura desvendar alguns dos significados e propor possíveis interpretações nas obras de Lorca, Dalí e Buñuel. Retomando a presença simbólica do feminino, é interessante destacar a cena da película em que uma mulher nua é acariciada de forma grosseira por um homem e, logo em seguida, vê-se esse mesmo homem impedido de tocá-la, pois está amarrado a um piano. Em cima do piano, há dois asnos mortos e, logo atrás, os cadáveres de dois padres são também puxados por grossas cordas, juntamente com o piano. Nessa cena, o piano tanto poderia representar o sentimento de culpa do personagem, pois este o impede de ter a mulher, como também uma agressão a García Lorca, na época um concertista de grande expressão na Espanha. Os jumentos e os cadáveres dos padres se referem, possivelmente, aos pesos mortos da cultura, que eram criticados por Dalí e Buñuel. Os padres poderiam também representar simbolicamente a religião, que, ainda hoje, proíbe a seus fiéis muitas coisas, entre elas o ato sexual. Esses e outros símbolos e arquétipos serão apresentados e discutidos neste trabalho. |
Palavras-chave: Um Cão Andaluz, Viaje a la Luna, Gilbert Durand. |