64ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Turismo e Hotelaria - 2. Planejamento e Projetos Turísticos |
A PROBLEMÁTICA DA REAPLICAÇÃO DO VOUCHER ÚNICO DE BONITO (MS) PARA O PARQUE NACIONAL DOS LENÇÓIS MARANHENSES, BARREIRINHAS (MA) |
David Leonardo Bouças da Silva 1 Helena Araújo Costa 2 Elimar Pinheiro do Nascimento 3 |
1. Departamento de Turismo e Hotelaria / Universidade Federal do Maranhão (DETUH/UFMA) 2. Departamento de Administração da Universidade de Brasília (ADM/UnB) 3. Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB) |
INTRODUÇÃO: |
O sistema do voucher único de Bonito (MS) é considerado, no Brasil, um modelo de excelência ligado à governança. Este conceito compreende a auto-organização de atores caracterizada pela interdependência, troca de recursos e regras compartilhadas (NORDIN; SVENSSON, 2006). Nesse sentido, o voucher desponta como um mecanismo de controle da visitação realizado, exclusivamente, por meio da venda de um ingresso unificado aos atrativos naturais, garantindo o respeito à capacidade de carga, a visitação acompanhada e a reversão dos recursos à administração pública local (CDS/UNB, 2008). Na possibilidade da reaplicação, em 2011, os empresários de Barreirinhas (MA) implementaram o voucher, visando eliminar a “concorrência desleal” dos autônomos (guias, proprietários de lanchas e de veículos 4x4) que ofertam os mesmos passeios com preços inferiores aos das agências. Contudo, o voucher despertou diversas reações dos atores turísticos locais, sobretudo do empresariado que tanto advogou a seu favor. Assim, tem-se como objetivo maior, analisar a reaplicação do sistema de voucher único de Bonito para Barreirinhas. Embora exaltada como experiência inovadora, poucas são as reflexões sobre a reaplicabilidade desta iniciativa em outros destinos turísticos, o que ratifica a relevância deste estudo. |
METODOLOGIA: |
O presente estudo possui caráter analítico-descritivo e qualitativo. Com base nos interesses mencionados, entende-se que a abordagem qualitativa seja a mais adequada, porquanto “os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser” (HAGUETTE, 1992, 63). Na pesquisa de campo, o público-alvo compreendeu 10 empresários e executivos de micro, pequenas ou médias empresas de Barreirinhas – selecionados dentre os participantes da pesquisa de Costa (2009) – escolhidos por terem sido os mais citados como parceiros de outras empresas que participaram da investigação, situação que revela sua representatividade no grupo social em estudo (DUARTE, 2002). Entrevistou-se cinco empresas ligadas à hospedagem (hotéis e pousadas) e cinco de receptivo turístico (passeios, formatação de pacotes, serviços de guias e etc). As entrevistas foram semi-estruturadas, presenciais e realizadas em novembro de 2011. A pesquisa se centrou no entendimento dos entrevistados a respeito do voucher único, colhendo suas percepções acerca dos pontos positivos e negativos da sua reaplicação. As falas dos entrevistados foram gravadas e analisadas, a posteriori, com a técnica de análise do discurso (BECKER, 2008; FLICK, 2009). |
RESULTADOS: |
Funcionando desde junho de 2011, o sistema do voucher único de Barreirinhas já expõe as dificuldades, angariando opiniões contrárias ao modelo, mas também favoráveis, com ressalvas à necessidade de rever os percursos delineados pelo poder público municipal e pelos próprios agentes da cadeia. Como situações positivas advindas da reaplicação do modelo de Bonito têm-se: o voucher abre possibilidades para o diálogo intersetorial e com o governo; o empresariado permanece favorável à implementação do voucher; o voucher estimula a formalização das empresas e dos prestadores de serviço do turismo; e as agências de receptivo ganham mercado na prestação dos serviços de passeios. Os aspectos negativos identificados foram: estratégia impositiva do governo municipal na implementação do voucher; carência de informações e indefinição na aplicação do montante arrecadado; prejuízos às empresas em virtude da responsabilidade de cobrança do voucher; processo dispendioso para as agências de receptivo na operacionalização do voucher; fiscalização deficiente na cobrança do voucher; e sistema de cobrança do voucher é desigual. A partir do exposto, evidencia-se o reconhecimento de pontos positivos na reaplicação do voucher, todavia, os negativos foram mais recorrentes na percepção do empresariado local. |
CONCLUSÃO: |
A reaplicação do sistema de voucher único para Barreirinhas se revelou mais controversa do que o esperado, pois situações negativas se evidenciam, impondo novos desafios aos atores turísticos locais. Costa (2009) apontou possíveis oportunidades e ameaças relacionadas a este modelo de gestão, na época de sua concepção. Sob um prisma, a governança conduzida pelo setor privado potencializava soluções inovadoras para o destino, protegendo recursos naturais, incrementando a experiência turística e ampliando o diálogo com outros atores sociais. Por outro lado, poderia excluir os grupos com que as agências de receptivo divergem, afinal, a reaplicação do voucher constitui uma real tentativa de eliminar a clandestinidade, ofuscada pelo discurso de melhoria dos serviços turísticos e ordenamento da atividade. Possíveis desafios a serem enfrentados se assemelham ao que ocorre no Parque Nacional de Fernando de Noronha (PE): dupla cobrança para o turista (voucher e ingresso para o Parque), constituindo um dos maiores efeitos ligados ao fato dos principais atrativos serem públicos (ao contrário de Bonito). Como estudos prospectivos, delineia-se a identificação dos fatores que influenciam o sucesso de um modelo de governança como este e das possibilidades de sua reaplicação em outros destinos. |
Palavras-chave: Governança, Voucher único, Barreirinhas. |