64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
ENTRE A ORDEM, O CAOS E A PARTICIPAÇÃO AUSENTE: UM ESTUDO DE CASO.
Angélica Duarte Lima 1
Claudimar Freire 1
Eliseu Bozzetto 1
Roger Pereira 1
Roger dos Santos Rosa 1,2
Jacqueline Oliveira Silva 1,2
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
2. Prof(a). Dr(a)./Orientador(a) – Depto. Medicina Social - UFRGS
INTRODUÇÃO:
Este trabalho foi realizado através do Programa de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes intitulado “Controle e participação social em saúde”, com atuação no bairro Belém Velho. O SASE (Serviço de Apoio Socioeducativo) é um programa de assistência social oferecido pelo município, conveniado à FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania). Sob a direção da Associação comunitária (ASCOBEV), oferece atendimento crianças e adolescente na faixa etária de 07 a 14 anos, com atividades culturais, esportivas, pedagógicas, alimentação e apoio psicossocial, no turno inverso ao escolar. Este arranjo institucional exemplar dos processos de transferência de serviços do Estado para as organizações da sociedade civil. Nem sempre em condições de executá-las e com processos de gestão difusos herdados do clientelismo. Nosso objetivo é compreender, sob a ótica do movimento institucionalista, o processo de gestão e participação no SASE. Entendendo que “... o movimento institucionalista se propõe propiciar, apoiar, deflagrar nas comunidades, nos coletivos, nos conjuntos de pessoas, processos de auto-análise e processos de autogestão” (Baremblitt, 1992: 18). A investigação interroga quais são e como ocorrem as formas de participação de usuários, funcionários e associação.
METODOLOGIA:
Para a pesquisa, realizamos entrevistas com roteiro temático destinadas aos funcionários, usuários e ASCOBEV, com temas relacionados às formas de participação na gestão, sua presença nas discussões referentes ao SASE e seu planejamento pedagógico. A observação participante foi o fio condutor das análises produzidas a campo, pois houve um cruzamento entre os discursos gerados nas entrevistas com as observações realizadas, compreendendo assim, quais são e como ocorrem as formas de participação. Para as entrevistas utilizamos gravadores de áudio. O diário de campo deu suporte à observação. As visitas ocorreram em dias e horários diversificados, visto que há diversas atividades diárias, acompanhamos a rotina da instituição, reuniões organizacionais e eventos realizados no local. As entrevistas foram com dois educadores e duas cozinheiras (totalidade dos funcionários); presidente da Associação comunitária (coordenadora e diretora do SASE); e quatro usuários (entre 10 a 14 anos). Utilizamos um roteiro para as entrevistas. Foram elencadas para este trabalho as seguintes categorias empíricas: Conflito e autoridade. Estas foram analisadas, a partir das entrevistas, e cruzadas com as observações obtidas no campo. Essas categorias dialogam diretamente com o objetivo do trabalho.
RESULTADOS:
Quanto à autoridade observou-se que a Associação de moradores tem fraca e irregular presença. No entanto, é dela que emanam as “ordens” a serem cumpridas, a decisão sobre os funcionários e recursos interinstitucionais. Os usuários do SASE a reconhecem apenas em situações extremas de conflito. Os educadores e a cozinheira são os representantes da autoridade real.
As diferentes relações e percepções de autoridade geram conflitos funcionário/funcionário, funcionário/usuário e funcionário/ASCOBEV. Estes conflitos foram observados em alteração de rotinas, ausência de funcionários sem aviso, troca de turmas em decorrência do relacionamento conflituoso entre educador e usuários.
As formas de participação, que poderiam ser potencializadoras da resolução negociada de conflitos são formalmente as seguintes: reunião mensal entre presidente da ASCOBEV e educadores, roda de conversa entre presidente e usuários e reuniões de pais e mães. Na prática a única reunião regular é entre presidente e educadores, chamada de “formação”, que objetiva organizar as atividades pedagógicas e condutas. Apesar desses objetivos observou-se que não há rotinas estabelecidas. As atividades e condutas alteram-se rapidamente.
CONCLUSÃO:
Os conflitos apresentados entre funcionários, associação (diretoria) e usuários, engendrados pelo formato organizacional da instituição, onde a participação dos sujeitos é restrita a momentos determinados; formação (direção - funcionários), “roda de conversa” (usuários – direção), conflui à autoridade ou hierarquia formal (direção, funcionários e usuários), pois esta não condiz com a relação cotidiana evidenciada nas vistas de campo. Há uma hierarquização funcional no dia-a-dia e dependente da situação, em que os funcionários dão as diretrizes do SASE.
Percebeu-se que a participação acontece em duas esferas: Uma formal e outra real, desenvolvendo conflitos passivos entre os atores, principalmente no que se refere à gestão do SASE e seu projeto pedagógico. As manifestações de autoridade são difusas e contradizem a hierarquia formal da organização. Na perspectiva institucionalista a gestão seria considerada caótica. Buscado o suporte da esquizoanálise, de Deleuze, constatamos que o suposto caos é a ordem de gestão, mantendo assim sua funcionalidade.
Palavras-chave: Participação, Análise Institucional, Gestão.