64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
ADEQUAÇÕES DE NATUREZA FONÉTICO-FONOLÓGICA MANIFESTADAS POR FALANTES DA CAPITAL MARANHENSE DIANTE DE PRENOMES IMPORTADOS DA LÍNGUA INGLESA
Suzana Maria Lucas Santos de Souza 1
Gladis Massini-Cagliari 2
1. Universidade Federal do Maranhão - UFMA
2. Orientadora / Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP/Araraquara
INTRODUÇÃO:
A pesquisa se justifica por sua relevância em verificar a influência de outras línguas, em especial o inglês americano, como fonte de empréstimos ao léxico do Português do Brasil (PB), particularmente no que diz respeito à criação de nomes próprios de pessoas. Julga-se importante considerar a necessidade de investigar a força do sistema fonológico da língua de destino no processo de incorporação de palavras estranhas a esse sistema.
Com este estudo, pretende-se demonstrar que, na escolha de antropônimos estrangeiros, os falantes do PB, em geral desconhecendo a estrutura fonológica da língua-fonte, muitas vezes desencadeiam vários processos de acomodação fonológica. Entre eles, o que se convencionou chamar de ressilabação, isto é, ajuste que reestrutura a organização das sílabas dos nomes “alienígenas” de acordo com os padrões fonético-fonológicos da língua-alvo. Por outro lado, com relação a alguns nomes específicos, pode haver uma tentativa de reprodução do som original do nome, trazendo para o contexto do PB pronúncias que não lhe são características, sobretudo no domínio da prosódia.
As análises fonético-fonológicas pontuam semelhanças e diferenças de pronúncias, bem como os processos fonológicos realizados pelos sujeitos brasileiros.
METODOLOGIA:
O corpus da pesquisa foi constituído por 323 prenomes coletados em 5 escolas da rede pública na cidade de São Luís-MA. As turmas investigadas foram de 5ª a 8ª séries, compostas por alunos com idade entre 11 e 15 anos. Após a coleta dos dados foram realizadas gravações com falantes do PB, como também com falantes nativos do inglês, pertencentes a uma escola da cidade de West Salem, Winsconsin, EUA. Com base na escuta, procedeu-se às análises fonológicas, que tomaram por base os modelos teóricos não-lineares. Por meio da análise de oitiva e apoio de dicionário especializado (BOLLARD, 1993), foi possível realizar transcrições de natureza fonética, bem como fonológica para as duas línguas. A categoria dos prenomes contemplados para as gravações foi aquela dos antropônimos não adaptados morfológica e ortograficamente, tendo em vista o interesse da pesquisa em mapear os processos fonológicos de acomodação realizados por falantes do PB. Foram selecionados aleatoriamente 30 nomes apenas com o intuito de constituir uma amostra que pudesse operar como base de pronúncia para a análise.
RESULTADOS:
A pesquisa revelou que vários antropônimos preservaram a forma gráfica e traços da pronúncia em língua inglesa, como Bryan, Jennifer, Jessica, Steve, Michael, Stephany, Wellington, etc. Muitas adaptações ocorreram no nível da ortografia, sendo motivadas pelo sistema sonoro da língua estrangeira. Interpreta-se o fato como um desejo do falante brasileiro de preservar a pronúncia original do nome. O fenômeno foi observado em Carolayne, Daiana, Greicy, Diully, Diônas, Maicon, Uésley, entre outros. Muitas acomodações foram reguladas pela regra de decifração da ortografia do PB, fato identificado em Elisabeth, Ruth, Hellen, Agatha, Gerald, etc. Os processos fonológicos mais recorrentes foram epêntese – no início do vocábulo (prótese) e no final (paragoge) – nasalização de vogais, vocalização de “l” em posição de coda, fricativização do “r” retroflexo inglês e palatalização de “t” e “s”, em virtude do dialeto examinado. Muitas vogais em contexto de PB foram articuladas de forma plena devido à inexistência do som de vogal reduzido (sempre em posição átona) do inglês, o schwa. O processo foi verificado, por exemplo, nos recorrentes sufixos ton e son.
CONCLUSÃO:
Os principais resultados obtidos com a pesquisa levaram às seguintes conclusões:
Os falantes do PB se rendem a processos de acomodação linguística sempre que se deparam com uma estruturação silábica que foge aos padrões admitidos em sua língua materna;
os processos fonológicos desencadeados alteram a realização fonética dos segmentos conforme a posição que eles ocupam na sílaba;
vários ajustes de pronúncia são regulados pela decifração da ortografia do PB;
apesar da evidência de preservação de aspectos prosódicos e segmentais característicos da língua inglesa em vários prenomes, todos sofrem adaptações fonológicas, quer de forma plena, quer de forma parcial, o que lhes confere um status fonológico de formas, em algum sentido, “nativizadas”, mesmo que apresentem, assumidamente ou não, características que ainda remetam à língua de origem;
ao optarem conscientemente pelo padrão prosódico não canônico do PB, quando da criação de prenomes que lhes parecem “estrangeiros”, os falantes brasileiros assumem que têm pleno conhecimento de sua identidade linguística.
Palavras-chave: Adequações fonético-fonológicas, Português brasileiro, Inglês americano.