64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
HIPERTENSÃO ARTERIAL EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CODÓ-MA, BRASIL
Maria do Carmo Lacerda Barbosa 1
Maria do Desterro Soares Brandão Nascimento 2
Luiz Felipe Alves Guerra 3
Mirza Ferreira Lima 4
Dayane Lima Guida 3
Felipe Lacerda Barbosa 3
1. Depto.de Morfologia-UFMA
2. Depto.de Patologia-UFMA
3. Curso Medicina-UFMA
4. Curso Nutrição -UFMA
INTRODUÇÃO:
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clinica multifatorial que se associa frequentemente a alterações funcionais e estruturais em órgãos alvo e a alterações metabólicas. Representa um fator de risco independente, linear e contínuo para doença cardiovascular, trazendo consigo um grande impacto na morbimortalidade de populações. Estima-se que 62% da doença cérebro-vascular e 49% da coronariopatia isquêmica podem ser atribuídas à elevação sustentada da pressão arterial. A pesquisa têve como objetivo analisar a prevalência de hipertensão arterial e os fatores de risco associados em uma comunidade quilombola de Codó-MA, Brasil. A HAS tem uma alta taxa de prevalência, acometendo aproximadamente 25% da população mundial. De acordo com a literatura norte americana, a doença é mais prevalente e mais grave em pessoas de etnia negra e no Brasil os estudos epidemiológicos sobre HAS em negros são escassos. Neste contexto, o Maranhão pode fornecer grande contribuição a cerca de HAS em afrodescentes por possui a terceira maior população negra do Brasil. Em Codó-MA está situada a comunidade quilombola Santo Antônio dos Pretos com 2.139 hectares, distando cerca de 36 quilômetros do município, cuja população sobrevive do agroextrativismo do babaçu.
METODOLOGIA:
Realizou-se um estudo transversal, descritivo, quantitativo na comunidade quilombola de Santo Antônio dos Pretos, no ano de 2010, constituída de 102 famílias. Avaliou-se uma amostra de 65 indivíduos com idade maior ou igual a 30 anos. Utilizou-se um questionário estruturado para coleta de informações sócio-demográficas, clínicas e antropométricas. Para a avaliação da pressão arterial (PA) seguiu-se as orientações da VI Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial. Com relação à antropometria, fez-se uso de uma balança digital portátil, tipo plataforma, marca Plenna®, com capacidade para 150 Kg; um estadiômetro portátil marca Alturaexata, com escala de 0 a 220 centímetros e resolução de 0,1 cm e fita métrica inelástica da marca Cescorf, com medida de 150 centímetros. Para a digitação e processamento de dados utilizou-se o programa EPI-INFO do CDC-Atlanta-EUA. Para análise descritiva univariada o programa Stata 10.0. Para verificar os fatores associados com a hipertensão utilizou-se o modelo de regressão de Poisson. Foram calculadas as razões de prevalência pelo método robusto e seu respectivo intervalo de confiança de 95%. O nível de significância utilizado foi de 95% com valor de p<0,05.
RESULTADOS:
Dos 65 pacientes incluídos no estudo 37 (56,92%) eram mulheres e 28 (43,08%) eram homens. As médias de idade foram de 55,9 para homens e 53,8 para as mulheres. A maioria (84,62%) não era alfabetizada. Em relação aos dados antropométricos a média de IMC foi de 25,44Kg/m2, 38,46% com sobrepeso, 13,85% obesos e 38,46% com circunferência da cintura alterada. Quanto aos hábitos de vida 61,54% afirmaram consumir bebida alcoólica e 52,3% tabagistas. A obesidade central foi maior no gênero feminino (7,14% versus 62,16% p<0,001) e o consumo de bebida alcoólica no gênero masculino (75% versus 51,35% p=0,05), sendo estes dados considerados estatisticamente significativos. Da amostra 34 indivíduos foram considerados hipertensos (52,3%), sem diferença estatisticamente significativa entre os gêneros. Destes 21,54% estavam em uso de anti-hipertensivos não podendo ser categorizados; 13,85% foram considerados HAS leve, 6,15% HAS moderada e 4,62% HAS grave. A prevalência de hipertensão arterial foi superior àquela relatada na literatura brasileira, talvez em virtude, da maior média de idade da população estudada, em relação a outros estudos populacionais, e, depois pelo fato da hipertensão arterial ter maior incidência em populações negras do que em outros grupos populacionais.
CONCLUSÃO:
A pesquisa mostrou elevada freqüência de hipertensão arterial na comunidade de Santo Antonio dos Pretos (52,3%). Foram considerados como hipertensão leve 13,85% dos indivíduos, hipertensão moderada 6,15% e hipertensão grave 4,62%; 21,54% estavam em uso de medicação anti-hipertensiva, não podendo ser incluídos em nenhuma das categorias anteriores. A maioria dos entrevistados eram analfabetos (84,6%). Os fatores de risco associado mais prevalentes foram o consumo de bebida alcoólica (61,4%), tabagismo (52,3%) e excesso de peso corporal 52,31% (sobrepeso 38,46, obesidade 13,85%). A obesidade central foi maior no gênero feminino (7,14% versus 62,16% p<0,001) e o consumo de bebida alcoólica no gênero masculino (75% versus 51,35% p=0,05), sendo estes dados considerados estatisticamente significativos. O estudo apresenta algumas características físicas e biológicas desta parcela da população, como a elevada freqüência de HAS, excesso de peso corporal e obesidade central. Esses achados podem estar relacionados tanto ao padrão hereditário, como também às ao estilo de vida dessa comunidade. Portanto, a pesquisa fornece dados preliminares importantes para estudos que estão em desenvolvimento por esta equipe em outras comunidades quilombolas de Codó-MA.
Palavras-chave: Hipertensão, Quilombolas, Maranhão.