64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 7. Paleobotânica
AS WELWITSCHIACEAE DA BACIA DO ARARIPE, CEARÁ, NA PERSPECTIVA MUNDIAL
Ana Paula de Assis Oliveira Westerkamp 1,2
Maria Helena Hessel 3
Christian Westerkamp 4
1. Escola de Ensino Médio Liceu do Crato - Ceará
2. Instituto de Paleontologia e Geologia do Cariri, UFC, Crato - Ceará
3. Orientadora - Departamento de Geologia, UFC, Crato - Ceará
4. Departamento de Agronomia, UFC, Crato - Ceará
INTRODUÇÃO:
Representantes da família Welwitschiaceae formam um grupo vegetal que reúne feições tanto de gimnospermas quanto de angiospermas. Ao longo de toda a vida, que pode durar 1500 anos, cresce um só par de folhas. Com tronco de cerca 80cm de altura, têm raízes que atingem 30m. As folhas perenes medem até 4m de comprimento, sendo duras e paralelinérveas, com nervuras transversais em ‘chevron’. São plantas masculinas e femininas, que formam ‘flores’ (anteróforos) e cones com sementes nuas dispersas pelo vento. Possuem grãos de pólen monocolpados e poliplicados. Atualmente é representada por uma única espécie, Welwitschia mirabilis Hooker 1963, que ocorre do sudoeste da Angola até o deserto do Kalahari, norte da Namíbia. A Bacia do Araripe é uma área do nordeste brasileiro localizada ao sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí. Sua sequência sedimentar inclui a Formação Santana, uma unidade datada do Neoaptiano-Eoalbiano (115 a 105Ma), composta por calcários laminados (Membro Crato), gipsita (Membro Ipubi) e folhelhos (Membro Romualdo), onde ocorrem abundantes e bem preservados fósseis de Welwitschiaceae. Este trabalho tem como objetivo principal identificar as Welwitschiaceae no registro geológico, colaborando para o melhor entendimento da paleontologia da Bacia do Araripe.
METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho, foram coletados fósseis nos afloramentos onde ocorrem restos de Welwitschiaceae nos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri, Ceará. Os exemplares coletados foram fotografados e numerados para posterior estudo e descrição ao microscópio. Além disso, registrou-se a ocorrência de Weleitschiaceae no museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Para melhor embasar este trabalho, também foi realizada uma exaustiva revisão na literatura especializada sobre a paleobotânica da Bacia do Araripe e sobre as Welwitschiaceae de modo geral, com suas ocorrências geográficas e temporais. Com a listagem das ocorrências selecionadas por período de tempo geológico e informações paleoclimáticas de cada ocorrência foi efetuada uma correlação dos dados.
RESULTADOS:
A ocorrência mais antiga de Welwitschiaceae é controvertida: Siphonospermum simplex Rydin & Friis 2010, das camadas Jianshangou (Eoaptiano, 124.6Ma) da Formação Yixian em Liaoning, China. Do Neoaptiano (cerca de 110Ma) da Bacia do Araripe (Membro Crato), Brasil, há quatro gêneros que referem-se a uma só espécie: Priscowelwitschia austroamericana (Dilcher, Oliveira, Pons & Lott 2005), Cratonia cotyledon Rydin, Mohr & Friis 2003 (cotilédones), Welwitschiophyllum brasiliense Dilcher, Oliveira, Pons & Lott 2005 (folhas) e Welwitschiostrobus murili Dilcher, Oliveira, Pons & Lott 2005 (cones). Ainda são conhecidas sementes aladas e grãos de pólen (Singhia montanaensis (Brenner 1968) e Gnetaceaepollenites orealis Srivastava 1968), que também ocorrem na Formação Codó da Bacia de Grajaú, Maranhão. Há Welwitschiaceae aptianas no Grupo Potomac em Virginia, Estados Unidos: Drewria potomacensis Crane & Upchurch 1987. Em camadas cretáceas mais recentes, no Cenomaniano (cerca de 95Ma), foram encontrados fragmentos de Conospermites hakeaefolius Ettingshausen 1867 em Vidovle, República Czecha, e grãos de pólen Singhia montanaensis e Gnetaceaepollenites orealis no Peru. No Terciário, há grãos de pólen similares aos de Welwitschia mirabilis em xistos do Eoceno do rio Syr-darya, oeste do Kazakhstão.
CONCLUSÃO:
As Welwitschiaceae são megafósseis vegetais raros no registro geológico. Em cerca de 125 milhões de anos, há apenas cinco espécies descritas com partes vegetativas e reprodutivas: três aptianas (China, Brasil e Estados Unidos), uma cenomaniana (República Tcheca) e uma holocênica (Angola e Namíbia). Talvez este registro seja reflexo das poucas possibilidades de fossilização oferecidas pelas condições ambientais desfavoráveis onde vivem: solos arenosos e pobres de locais estressantes, quentes e secos. As quatro ocorrências cretáceas, aparentemente endêmicas, mostram uma distribuição geográfica em baixas latitudes (sul da Laurasia e norte do Gondwana), porém não na África, onde hoje vivem. A disputa com as angiospermas, que então se diversificavam, por ambientes de vida similares talvez justifique esta migração para maiores latitudes, assim como ocorreu com as gimnospermas neste mesmo período. Grãos de pólen de Welwitschiaceae são referidos no Cretáceo do norte da América do Sul e Terciário da Ásia. A raridade destas ocorrências fossilíferas mostra a importância das formas preservadas na Bacia do Araripe, onde são espécimes comuns e bem preservados, permitindo um estudo que pode auxiliar no entendimento taxonômico, filogenético e paleobiogeográfico deste intrigante grupo vegetal.
Palavras-chave: Welwitschiaceae, Cretáceo, Membro Crato.