64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística |
O TABU LINGUÍSTICO: A LEXIA DO DIABO NO FALAR DOS MUNICÍPIOS DE PINHERO E ALTO PARNAÍBA |
Bruno Mancêbo Araújo 1 Luan Passo Cardoso 2 Tammys Loyola Rolim 3 Conceição de Maria de Araujo Ramos 4 |
1. Universidade Federal do Maranhão - UFMA 2. Universidade Federal do Maranhão - UFMA 3. Universidade Federal do Maranhão - UFMA 4. Profª. Dra./Orientadora - Depto.de Letras - UFMA |
INTRODUÇÃO: |
Apoiando-nos na ideia de que o homem é um ser lingüístico e cultural e que por meio de sua língua e cultura interpreta o mundo ao seu redor, visão esta corroborada pelo autor Câmara Junior (1972, p.273), quando afirma que: “(...) cada língua aparece como constituindo um veículo privilegiado de expressão, como instrumento extraordinariamente rico (...) de pensar, de dizer, de fazer e de atuar sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre a vivência coletiva e individual”, investigaremos a tabuização da lexia diabo no falar maranhense, em particular em dois municípios – Pinheiro e Alto Parnaíba. A linguagem, veículo utilizado pelo homem para comunicar-se veicula costumes, hábitos, crenças e valores, dada sua estreita relação com o social. Sendo assim, como ressalta Preti (1930), “A vida das palavras torna-se um reflexo da vida social e, em nome de uma ética vigente, proíbem-se ou liberam-se palavras, processam-se julgamentos de ‘bons’ ou ‘maus’ termos, apropriados ou inadequados aos mais variados contextos”. (apud ALMEIDA, J. 2008. p. 285-286). Nessa estreita relação língua/cultura, a tabuização é um dos aspectos mais notáveis. Para efeito deste estudo, entendemos o tabu como a abstenção ou proibição de atos, como: matar, comer, ver, dizer qualquer coisa sagrada ou temida Ao cometer tais ações o resultado envolve desgraças que pairam sobre a coletividade, comunidade e individuo. |
METODOLOGIA: |
A fim de investigarmos a tabuização religiosa nas cidades de Pinheiro e Alto Parnaíba, fizemos uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, teses e dissertações, acerca dos campos: língua, cultura, tabu, tabu lingüístico, lexicologia, léxico e sociolinguística. Fizemos uso do questionário semântico-lexical do projeto, questão 159, que é: “Deus está no céu e no inferno está _________?”, bem como as gravações referentes aos informantes das localidades citadas. Além do uso dos questionários e gravações, nos utilizamos também das fichas dos informantes buscando levantar questões do âmbito social (sexo, escolaridade,idade e religião) objetivando atrelar estes dados sociais as respostas obtidas pelo questionário semântico lexical de forma a compreender como os aspectos sociais podem influenciar na pronunciação da lexia tabuizada. O corpus da pesquisa foi extraído do banco de dados ALiMA, que é obtido por meio da aplicação de questionários a quatro informantes por localidade, exceto na capital São Luís. Os informantes do ALiMA são selecionados por faixa etária (faixa I, 18 a 30 anos, e faixa II, 50 a 60 anos), sexo (homens e mulheres) e escolaridade (ensino fundamental até a 6ª série e ensino superior completo, apenas em São Luís). |
RESULTADOS: |
Notamos que os informantes da faixa etária I tabuizaram menos do que os da faixa etária II. Um dos motivos que pode ter contribuído para esse resultado é o fato dos entrevistados da faixa II estarem mais envolvidos pelos conceitos religiosos do que os da faixa I, porque se levarmos em consideração a idade dos informantes da faixa II que varia de 50 a 60 anos perceberemos que os mesmos, por pertencerem a épocas mais antigas, trazem consigo uma formação social alicerçada nas ideias da igreja por esta estar mais próxima da população mais antiga. Verificamos que a baixa escolaridade atrelada as faixa etárias I e II são fatores que contribuem para a pouca variação apresentada pelos informantes que compõe esta a pesquisa, sendo utilizadas por estes no máximo 3 lexias (cão, satanás e diabo) é de se notar também que este fenômeno acorre tanto na faixa etária I e faixa etária II desconsiderado assim a diferença entre idades. Em relação a variável sexo vale destacar que as homens tabuizaram mais do que as mulheres, o que pode-se notar nos informantes masculinos tanto de Pinheiros quanto os de Alto Parnaíba que se utilizaram de outros interdições lingüísticas(satanás,cão,cão costo) e um dos informante alegou desconhecimento da lexia embora afirmasse ser cristão o que apresenta um típico exemplo de fuga do tabu.Em relação as mulheres verificamos que o uso da lexia do diabo é constante em todas as informantes, embora paralelamente usassem de interdições lingüísticas também. |
CONCLUSÃO: |
O estudo apresentado não pretende se esgotar por meio desta pesquisa, pois apresentamos uma pequena faceta do tema em pauta que é o tabu linguístico, mais precisamente o tabu religioso.Trabalhamos com as visões de língua e cultura de Câmara Junior ,Almeida e Preti e nos baseamos nos estudos de tabu apresentado por Guérios, a fim de embasar e explicar a compilação de dados do projeto ALiMA no que cerne ao léxico do diabo. Embora haja tabuização nos municípios pesquisados verificamos que por intermédio desta pesquisa e das variáveis aqui pesquisadas notamos uma diminuição do temor em relação à entoação da “palavra proibida” principalmente por parte da faixa I e faixa II, embora em uma frequência menor. Com o aumento do acesso da população as novas tecnologias e a facilidade na obtenção destes bens materiais, novas visões e comportamentos estão sendo assimilados por esta população que antes influenciada em grande parte pela igreja não diziam determinadas palavras, mas que após a ascensão financeira e social do Brasil e a globalização das informações buscam adotar novas ideias e conceitos se adaptando aos novos comportamentos globais. O intuito desta pesquisa é contribuir não apenas nas pesquisas de área dialetológica como também evidenciar os aspectos culturais e sociais apresentados nas regiões aqui apresentadas pela pesquisa. Esperamos que o trabalho realizado sirva de estimulo a pesquisas de mesmo cunho e de preferência nos estudos voltados a tabuização no Maranhão. |
Palavras-chave: Interdições linguísticas, Tabu, Lexia do Diabo. |