64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
Nas graças do Divino: Festa do Divino Espírito Santo em Porto Nacional – TO.
Odair Giraldin 1
1. Prof. Dr. Departamento de História - UFT - campus de Porto Nacional
INTRODUÇÃO:
Os festejos do Divino Espírito Santo são amplamente praticados por todo o Brasil, apresentando características peculiares a partir de diferentes locais de manifestação. Presentes desde o século XVIII, com a economia de mineração no antigo norte de Goiás, a festa do Divino permanece no atual Tocantins em diversas cidades, como em Natividade, Monte do Carmo e Porto Nacional. Ao longo do tempo sofreu transformações, mas ainda mantém as estruturas fundamentais da festa e sua simbologia.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado através do acompanhamento dos festejos de 1993, 1999, 2002, 2008, 2009, 2010 e 2011. Foram realizados registros fonográficos, fotográficos e áudio-visual das diversas atividades constituintes do festejo: organização e saída das folias; organização da elaboração dos “bolos do Divino”; acompanhamento das folias em seus giros pela cidade e nos respectivos pousos; encontro das folias, missa e festa do Capitão do Mastro e missa e festejo do Imperador; bem como a coroação do imperador passado e escolha do novo imperador. Além dos registros audio-visuais, houve a realização de diálogos durante os giros, pousos e bailes, a partir do método de trabalho de campo e observação participante. Como o festejo era registrado a cada ano, após sua realização realizava-se a análise e interpretação dos dados.
RESULTADOS:
As folias (idealmente 3) são compostas (idealmente) por 12 homens (representando os 12 apóstolos), que giram durante 40 dias (idealmente) por caminhos independentes e exclusivos (elas não podem se cruzar) incluindo “sertão” e cidade. Os foliões resguardam-se de sexo enquanto giram. As folias almoçam e jantam em lugares diferentes, pousando na casa que oferece o jantar. Após os cantos religiosos da chegada, agradecimento pela comida recebida, benzimento da casa e seus membros, iniciam-se as danças de sussia, jiquitaia e forró. Músicas são compostas pelos foliões durante o giro dando origem as chamadas rodas, cantadas nos pousos. Partindo das definições de ritual em V. Turner a partir das noções de communitas e estrutura, bem como da idéia de R. DaMatta de rito como discurso sobre a vida em sociedade, interpretou-se este festejo nesta chave de ritual. O festejo do Divino pode ser visto como um ritual tanto de neutralização quanto de reforço. O giro masculino das folias e a esmola geral podem ser vistos como momentos de neutralização pois os participantes tem neutralizadas suas posições sociais na categoria de foliões ou de esmoleiros. Já nas missas e festas do capitão do mastro e imperador, ocorre situação de reforço pois a “corte” é montada e posições sociais são reforçadas.
CONCLUSÃO:
Através da observação participante durante as festas do Divino praticadas em Porto Nacional, compreende-se que este festejo mantém a estrutura presente em outras festas (número de folias, giros, produção e distribuição de alimentos). Nessa estrutura a distribuição de alimentos é parte fundamental pois uma característica do Divino é ser sempre generoso e provedor. Mas a festa também revela aspectos importantes como a noção de santidade atribuída à bandeira do Divino. Os foliões a consideram santificada, condição que os coloca em situação de sacralidade não podendo ter contatos com mulheres, consideradas, nessa condição, como profanas pois podem representar a tentação demoníaca. Neste sentido, a presença feminina não é permitida na parte sagrada. Interessante que isso se revele o oposto no caso das folias do Divino em Alcântara (MA), onde as mulheres são parte do sagrado pois elas são as folias e caixeiras.
Palavras-chave: Cultura Popular, Festa, Ritual.