64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil
AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO DA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO INTERNO.
Maurilene de Andrade Lima Bacelar de Arruda 1
Fernanda Marti Garcia Chavez 1
Arlene Raianny Melo Oliveira 1
Artenira Silva e Silva 2
1. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - UFMA
2. Profa Dra/Orientadora/Depto de Saúde Pública-UFMA
INTRODUÇÃO:
Muito se tem pesquisado na comunidade acadêmica internacional sobre o ensino das habilidades relacionais para a prática médica. Ainda há, apesar das discussões, discrepância entre teoria e prática quanto ao assunto¹. O relacionamento entre professores, alunos e pacientes é fundamental, pois os estudantes tendem a assimilar por vivência o comportamento dos mestres, construindo, assim, sua própria identidade. Por isso, o professor apresenta importante papel para um bom aprendizado da relação médico-paciente². No entanto, queixas nessa área se fazem presentes entre os estudantes de muitas escolas brasileiras³. O aspecto relacional é frequentemente estudado com menor importância que o aspecto técnico do ato médico, quando ocupam o mesmo patamar na prática profissional. Torna-se, portanto, fundamental que seja estudado com mais profundidade, pois a aderência dos pacientes ao tratamento e à implantação de atitudes preventivas depende dessa relação4. Faz-se necessário, então, que o médico incorpore essa habilidade ao longo de sua formação, desenvolvendo-se desde o início a capacidade de ser educador em saúde num contexto de boa relação médico-paciente. Caso contrário, o atendimento pode tornar-se iatrogênico². A análise desse estudo é voltada para a percepção dos internos.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo qualitativo descritivo com entrevistas diretas semi-estruturadas direcionadas a estudantes de medicina no último ano do internato, ou seja, 11º e 12º períodos, com uma amostra aleatória por saturação de resposta. As entrevistas foram realizadas nos locais das praticas acadêmicas, de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. O roteiro de entrevista contém cinco tópicos principais: o primeiro é relativo ao ensino da relação médico-paciente; o segundo ao desenvolvimento de habilidades de comunicação e humanização durante o curso de Medicina; o terceiro às expectativas de realização dos alunos; o quarto, quanto ao conteúdo técnico e o último quanto aos modelos de atenção, conforme preconizado pelo SUS. Os entrevistadores utilizaram como recurso um gravador digital portátil, e, as entrevistas foram realizadas individualmente, com os estudantes que assinaram voluntariamente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram realizadas 15 entrevistas, tendo como critérios de inclusão estar matriculado no último ano de internato e ter cursado toda a graduação na presente universidade. Todos os dados coletados foram gravados e transcritos na íntegra, sendo posteriormente selecionados alguns trechos para apreciação, através da Análise do Discurso.
RESULTADOS:
Três idéias fazem-se presentes no discurso dos estudantes: a impossibilidade de se ensinar relação médico-paciente; a obrigação do estudante de escolher o que é bom e o que é mau exemplo na relação com os professores; a sensação de que a comunicação melhora com o domínio do conteúdo técnico: “Relação médico-paciente não se ensina. É uma habilidade que trazemos de casa. Ou a pessoa tem ou não tem, mas com o tempo podemos melhorar.” “Tem professor que a gente gosta muito, admira e quer ser como ele. Tem professor que a gente já entra na aula sabendo que não quer ser igual a ele. A gente vai dividindo assim.” Quanto às expectativas financeiras, todos os entrevistados priorizaram o reconhecimento e não exibiram no discurso altas expectativas salariais. Nenhum dos entrevistados conseguiu conceituar humanização, relaciondo a “ser mais humano”, mas isso com um significado prático de compaixão e empatia, apenas. O tema não foi bem estudado pelos alunos durante a graduação: “Esse conceito nem deveria existir, humanização é o que a gente é, o que tem que ser, seres humanos.”Quanto aos princípios do SUS, os estudantes demosntraram-se confusos em relação aos conceitos. Apesar disso, afirmaram ter presenciado muitas vezes a aplicação dos mesmos no Hospital Universitário.
CONCLUSÃO:
Nota-se a necessidade de padronizar o ensino da relação médico-paciente como um objetivo didático entre os professores e, também, de dar mais corpo ao ensino de humanidades e dos valores e habilidades apregoados pelo SUS. Para esse fim sugere-se a capacitação dos docentes quanto ao tema. Os resultados apontam para a necessidade de inclusão do ensino de habilidades de comunicação e de suporte psicológico e preparo emocional dos alunos para o cotidiano estressado do trabalho e responsabilidade que perpassam a profissão médica. Podemos perceber uma desinformação gritante quanto às possibilidades didáticas para ensinar humanização e habilidades de comunicação. Em não saber o que devem aprender e as formas de aprendizado que tem sido testadas e bem sucedidas em outras universidades, os alunos acomodam-se, tentando adaptar-se com o que lhes é oferecido, e aceitando sem maiores questionamentos quanto ao assunto.
Palavras-chave: Ensino médico, Relação Médico-paciente, Humanização.