64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
UM EXERCÍCIO ETNOGRÁFICO SOBRE A EXTRAÇÃO DE AÇAÍ (Euterpe oleracea ) NA COMUNIDADE RIBEIRINHA DO RIO IGARAPÉ GRANDE (ILHA SARACÁ) – PARÁ.
Genisson Paes Chaves 1
Lourdes Gonçalves Furtado 2
Denise Machado Cardoso 3
Deizeane Costa dos Santos 4
Irana Bruna Calixto Lisboa 5
Suziane Palmeira dos Santos 6
1. Coord. de Ciências Humanas / Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG
2. Profa. Dra./ Orientadora - Coord. de Ciências Humanas / Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG
3. Profa. Dra./ Co-orientadora – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UFPA
4. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Faculdade de Ciências Sociais – UFPA
5. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Faculdade de Ciências Sociais – UFPA
6. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Faculdade de Ciências Sociais – UFPA
INTRODUÇÃO:
O estudo sobre a extração de açaí (Euterpe oleracea) desenvolvida cotidianamente pelos moradores da comunidade ribeirinha do Rio Igarapé Grande, na Ilha Saracá, no município de Limoeiro do Ajuru (Nordeste Paraense), permite compreender, através de um enfoque sócioantropológico, os papéis sociais de homens e mulheres, os processos de sociabilidades e as simbologias existentes no âmbito do circuito produtivo de tal atividade. A escolha da comunidade deve-se ao fato de nossas experiências e vivências em relação às tarefas que seus habitantes desenvolvem diariamente, o que oportunizou nossa participação no extrativismo, seja para consumo local e/ou para venda em cidades próximas. Tais experiências apontam a existência de uma rica teia de relações envolvendo diversos agentes sociais da própria comunidade, assim como de outras também. Tal estudo foi desenvolvido no âmbito do Projeto RENAS III: Populações Tradicionais Haliêuticas - Impactos Antrópicos. Uso e Gestão da Biodiversidade em Comunidades Ribeirinhas e Costeiras da Amazônia Brasileira, da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi, tendo como financiamento o CNPq.
METODOLOGIA:
Utilizou-se de pesquisa e revisão bibliografia sobre as principais obras que norteiam o tema da investigação, além de pesquisas de campo realizadas desde o ano de 2009 na comunidade. Tal estudo foi realizado seguindo os moldes antropológicos, com enfoque no uso da etnografia, buscando compreender as dinâmicas culturais de tal segmento social amazônico no âmbito do universo produtivo do açaí, principal atividade econômico-cultural da comunidade. Além da utilização de entrevistas formais e informais, observação participante, por meio da participação nas etapas da cadeia produtiva do açaí e registros de imagens fotográficas, que segundo Barbosa e Cunha (2006, p. 13), possibilita “ampliar o olhar do cientista na medida em que ‘estabiliza’ ou ‘fixa’ os dados que foram obtidos em campo facilitando análises posteriores”.
RESULTADOS:
Evidenciou-se que a população possui uma economia mista, destacando-se, principalmente, a atividade pesqueira e o extrativismo do açaí (Euterpe oleracea), combinados com a criação de pequenos animais e do cultivo de pequenas hortas. Em relação à cadeia produtiva do açaí é perceptível a presença de vários agentes sociais, que apanham, "disbulham" e que vendem o açaí em cidades às proximidades. No âmbito da atividade, cada indivíduo é parte integrante e fundamental e as redes de relações construídas pela participação destes atores sociais, conectam diferentes indivíduos, demonstrando relações sociais que extrapolam o lado econômico, cujos integrantes adquirem laços de confiabilidade e de amizade, “pois o açaí é muito mais que um fruto”. A rigor, percebe-se que não há uma divisão de trabalho marcada de modo significativo entre os indivíduos da comunidade, já que homens e mulheres participam de tal atividade, mas com algumas diferenciações e intensidades na execução da mesma.
CONCLUSÃO:
O extrativismo do açaí em relação às demais atividades realizadas pela comunidade do Rio Igarapé Grande é visto como a atividade econômica mais rentável e mais segura, já que basta realizar manejo periodicamente da palmeira para que o fruto não falte na mesa da população. Além disso, tal atividade representa uns dos complexos culturais mais importantes e significativos de tal população amazônica, transformando o vinho do fruto, não apenas num mero acompanhante da alimentação diária, mas como o prato principal essencial e que não pode faltar nas tigelas e cuias, já que muitos preferem não comer caso não haja a bebida. A importância que o fruto assume transformou-o na bebida e fruta símbolo do Estado do Pará, através da Lei número 6.413, de 29 de novembro de 2001. Nesse sentido, o açaí é o “verdadeiro tesouro das várzeas da Amazônia”, onde tudo é aproveitado pela população. É uma bebida que há séculos é consumida pelas populações indígenas da região amazônica e que se constitui como um dos mais fortes traços culturais das populações caboclas dessa região do Brasil.
Palavras-chave: Açaí, Sociabilidade, Ribeirinhos.