64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE BEBÊS INSTITUCIONALIZADOS
Fernanda Regina de Oliveira 1
Geraldo A. Fiamenghi Junior 2
1. UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (IC)
2. Prof. Dr. - UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (Orientador)
INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento motor normal da criança é aquele que se processa de forma progressiva e harmônica, sendo base para outras aquisições. A variabilidade de experiências às quais a criança é exposta, principalmente no primeiro ano de vida, explica o complexo desenvolvimento nessa faixa etária. O processo de abrigamento, na maioria dos casos, ocorre de forma dolorosa e pode trazer efeitos danosos para o desenvolvimento da criança uma vez que no abrigo ocorre uma restrição na estimulação, exploração do ambiente e nos contatos com adultos. Muitas pesquisas mostram a importância da estimulação para o desenvolvimento motor dos bebês e das crianças pequenas e propõem situações que possam incentivar as crianças a interagirem com o meio de forma a transporem os principais marcos do desenvolvimento. Assim, observando as dificuldades motoras vivenciadas por crianças em situação de abrigamento, esta pesquisa propôs-se avaliar o desenvolvimento motor de crianças numa faixa etária de 0 a 18 meses de idade, que vivem em um abrigo na região metropolitana de São Paulo e que passaram grande parte de sua vida naquele local, com restrições óbvias ao acesso a situações adequadas de estimulação ambiental e, após avaliação realizar sessões de intervenção e reavaliá-las para observar se houve mudanças.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa envolveu uma metodologia quali e quantitativa, com mensurações objetivas realizadas por um instrumento padronizado (AIMS), juntamente com observações realizadas pelo pesquisador. Foram participantes desta pesquisa 6 crianças, meninos e meninas, numa faixa etária de 0 a 18 meses, que vivem numa instituição de abrigamento na região metropolitana de São Paulo. Para a avaliação do desenvolvimento motor, foi utilizada a Escala Motora Neonatal de Alberta (AIMS) com 58 itens. Após o contato com a instituição e apresentação da Carta de Intenções e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram agendadas as visitas e a aplicação da AIMS nas crianças. Após a primeira avaliação e detecção de atraso motor, iniciaram-se as intervenções, totalizando 20 sessões, e ao termino dessas foi novamente aplicada a AIMS para comparar os resultados pré e pós intervenção. As sessões foram feitas em grupo, uma vez por semana e tiveram duração de 1h e meia cada. Após a primeira avaliação, foram estabelecidas as dificuldades principais de cada criança e os marcos motores em que esta deveria estar; assim, foi criado um prontuário com as atividades que deveriam ser estimuladas com cada participante, baseando nos itens da AIMS e na literatura de desenvolvimento motor normal.
RESULTADOS:
A primeira avaliação com a Escala Alberta, realizada com 6 bebês, mostrou que 67% (4) dos bebês estavam abaixo do percentil 25TH, evidenciando atrasos no desenvolvimento motor; e 33% (2) estavam acima do percentil 25TH, ou seja, dentro dos padrões de normalidade. A segunda avaliação com a Escala Alberta, realizada com 6 bebês, mostrou que 17% (1) dos bebês estavam abaixo do percentil 25TH, mostrando atrasos no desenvolvimento motor e 83% (5) estavam acima do percentil 25TH, ou seja, dentro dos padrões de normalidade. A partir da pesquisa, é possível constatar que as crianças abrigadas sofrem consequências para o desenvolvimento motor com a falta de vivências e exploração do ambiente, porem percebemos que com programas de intervenção esse quadro de atrasos pode mudar positivamente. Segundo Pollak (2011), o cérebro é um órgão capaz de sofrer com as interações ambientais, e isso pode explicar o atraso no desenvolvimento motor e cognitivo de crianças em situação ambiental pobre que proporciona poucas experiências. Porem o atraso motor e cognitivo pode ser revertido, na maioria dos casos, se essas crianças receberem os estímulos necessários, o que nos remete à priorização de intervenções nas cuidadoras dos abrigos.
CONCLUSÃO:
Os resultados dessa pesquisa confirmaram que as crianças abrigadas sofrem com a falta de vivência e exploração do ambiente e isso reflete no atraso motor de grande parte dessas crianças. Porem, por meio do trabalho também podemos constatar que a intervenção fisioterapêutica auxilia e melhora o desenvolvimento motor, dando resultados positivos. Os resultados nos remetem à necessidade de maior intervenção na rotina dessas crianças, a fim de proporcionar mais vivências, experiências de exploração do ambiente e desenvolvimento motor continuo e normal. Posteriormente são necessárias novas avaliações do desenvolvimento motor para detectar se o desenvolvimento motor continuou na mesma linha ou se houve piora ou melhora. A partir dos resultados também podemos observar que torna-se evidente a necessidade de um plano governamental para o aumento do número de cuidadoras/educadoras em instituições de abrigamento, uma vez que são elas que têm contato com as crianças e, portanto, o papel de estimular o desenvolvimento motor e cognitivo, além da necessidade de estimular a formação continuada dessas educadoras e de toda a equipe que trabalha nas instituições.
Palavras-chave: criança institucionalizada, desenvolvimento motor, intervenção.