64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
O GERENCIAMENTO NA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA: O PROCESSO DE TRABALHO DOS GERENTES MUNICIPAIS DE SAÚDE EM MUNICÍPIOS DO ESTADO DO MARANHÃO
Maria Ieda Gomes Vanderlei 1
Adriana de Jesus Furtado Melonio 4
Wanessa Cristina Filgueiras Fonsêca 2,3
1. Profª. Dra./ Orientadora - Depto. de Saúde Pública - UFMA
2. Depto. de Saúde Pública - UFMA
3. Faculdade Pitágoras de São Luís
4. Secretaria Municipal de Saúde de São Luís - SEMUS
INTRODUÇÃO:
Os princípios que norteiam “a gerência não são estáticos, neutros, absolutamente racionais, ou eminentemente técnicos, que se moldam imediatamente à resolução dos problemas que se apresentam no processo de trabalho. A atividade gerencial é sim, extremamente dinâmica, dialética, na qual as dimensões técnica, política e comunicativa, estão em permanente articulação exigindo constante reflexões/tomada de decisões por parte do agente executor da mesma” (MISHIMA, 1995, p.18). Entendemos que a gerência constitui um instrumento de trabalho e que também se apresenta como componente da construção de cidadania. O desenvolvimento da cidadania implica tomar a gerência como uma atividade que contém uma perspectiva de emancipação de sujeitos sociais e que está contida nela, quer sejam eles agentes presentes no processo de trabalho ou clientes (ALMEIDA et al., 1994).
A pesquisa tem a intenção de analisar o processo de trabalho da gerência através da prática dos gerentes municipais de saúde, como instrumento que possibilita a reorientação do modelo assistencial voltado para a integralidade das ações. Acredita-se que a gerência local é uma ferramenta importante, pois imprime uma direcionalidade ao processo de trabalho nas unidades locais voltada para a produção do cuidado da saúde da família.
METODOLOGIA:
Trata-se de pesquisa qualitativa devido aos objetivos propostos e por possibilitar a incorporação do significado e da intencionalidade como inerente aos atos, às relações e às estruturas sociais. No objeto de estudo se destacam 2 técnicas de coleta de dados: a observação direta do trabalho dos gerentes das unidades de saúde e a entrevista semi-estruturada com os gerentes municipais de saúde. Assim, foram selecionados: 2 municípios com mais de 80 mil habitantes e cobertura de PSF até 50%, mediante sorteio aleatório, ficando definidos os seguintes: Codó e São José de Ribamar e 2 municípios com população menor que 20 mil habitantes e cobertura de PSF acima de 80% (Miranda do Norte e Morros). Os instrumentos adotados para a coleta de dados foram um instrumento fechado: ‘’Inventário das atividades desenvolvidas pelos gerentes’’ e o outro instrumento foi à técnica da observação direta, que é um processo rico para a coleta de dados, na pesquisa qualitativa. Os entrevistados foram os gerentes locais (coordenadores do PSF e diretores das unidades de saúde da família). Para a etapa da análise dos dados referentes ao inventário das atividades, utilizamos a avaliação da frequência das atividades, nos quais se buscou evidenciar as atividades de maior e menor frequência e as não realizadas.
RESULTADOS:
As atividades voltadas à organização do processo de trabalho no que diz respeito à infra-estrutura, planejamento do serviço (ações administrativas), são desenvolvidas de acordo com a categoria profissional do gerente. Observam-se atividades comuns a todos os gerentes, independente de sua categoria profissional e nível de escolaridade, tais como: supervisionar a limpeza, providenciar reparos e manutenção de material, planejar, coordenar e supervisionar os serviços de saúde, prever material permanente, distribuir tarefas, enviar relatórios e ainda atividades que são desenvolvidas especificamente pelos gerentes que são profissionais da área da saúde como planejar, implantar e ou participar de planos e programas de saúde, planejamento de ações junto às famílias, treinamento de funcionários, planejamento dos serviços de enfermagem. Na observação direta do trabalho, verificamos a presença de atividades de organização de fluxo relacionadas à assistência, à gerência da unidade, de recursos humanos e materiais, assim como atividades voltadas para a tomada de decisões (reuniões de trabalho), fixação de instrumentos de comunicação e de informação e também foram mencionadas as dificuldades por falta de recursos materiais, de transporte, de infra-estrutura, de recursos humanos e medicamentos.
CONCLUSÃO:
O estudo mostrou que a gerência pode ser uma ferramenta importante para a transformação do processo de trabalho. Mediante as observações das atividades verificamos que a gerência está centrada na lógica tradicional, porém com perspectivas de mudança, uma vez que na prática cotidiana dos gerentes existem brechas que sinalizam o estabelecimento dessas relações mais acolhedoras com os usuários. Entretanto, observamos que nas atividades da organização do processo de trabalho se concentra o maior volume de atividades, cujo campo de responsabilidade é comum aos gerentes, independe da categoria profissional. Destacamos que a falta de recursos materiais, infra-estrutura, e de RH se constitui uma das grandes limitações para a operacionalização dos serviços, o que se torna um peso para os gerentes e os mobilizam com sentimento de impotência e de responsabilidade individual.
Para que a gerência tenha um papel de articulação das relações entre os trabalhadores, tecnologias e projeto político assistencial, no sentido da produção de serviços que atendam de fato as necessidades de saúde da população, é necessário utilizar-se cada vez mais de tecnologias leves no cotidiano da prática gerencial, objetivando com isso estabelecer relações horizontais e simétricas com a equipe e usuários.
Palavras-chave: Gerência de serviços de saúde, Processo de trabalho em saúde, Saúde da Família.