64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DO VENENO DA CASCAVEL Caudisona durissa terríficus CONTRA Candida albicans
Rebeca Raissa Bezerra de Oliveira 1
Rosália Santos Amorim Jesuino 1,2
Marta Regina Magalhães 3
José Rodrigues do Carmo Filho 3
Fabrícia Paula de Faria 1
1. Laboratório de Biotecnologia de Fungos, ICB – UFG
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular, ICB - UFG
3. Laboratório de Toxinologia, Pontifícia Universidade Católica de Goiás
INTRODUÇÃO:
Fungos patogênicos causam doenças em diversos organismos em todo o mundo, desde plantas a seres humanos. Nas últimas décadas o aumento de pacientes imunocomprometidos fez com que muitos desses fungos se tornassem resistentes às drogas atualmente utilizadas, elevando os índices de mortalidade e dificultando o tratamento de doenças como a síndrome da imunodeficiência humana. Candida albicans é um fungo patogênico oportunista que acomete pacientes soropositivos, quimioterápicos e com órgãos transplantados causando candidíase. Dessa forma tem-se a necessidade de buscar novos medicamentos com potencial contra esses microrganismos, venenos de várias serpentes tem se mostrado eficazes em sua atividade antifúngica in vitro. Os venenos são misturas complexas de compostos bioativos que contém proteínas, peptídeos, carboidratos, lipídeos, aminas biogênicas, nucleotídeos, aminoácidos e metaloproteases, atuando em diferentes sistemas biológicos. O veneno de Caudisona durissa terrificus é composto por neurotoxinas, crotoxinas, crotamina, fosfolipase A2, giroxina e convulxina, sendo que o principal componente neurotóxico é a crotoxina. O gênero Caudisona pertence à família Viperidae, cujo veneno das serpentes desta família tem sido também avaliado quanto ao potencial antimicrobiano.
METODOLOGIA:
A atividade antifúngica do veneno bruto de C. durissa terríficus contra C. albicans foi realizada pelo teste de microdiluição em placa, o qual foi adaptado dos documentos M27-A2 e M27-A3 emitidos pelo National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS). A viabilidade celular das células fúngicas na presença do veneno foi avaliada pelo método descrito por Lee et al (1981). Para analisar as proteínas contidas no veneno bruto foram realizados os seguintes ensaios:
1) Dosagem de proteínas e análise do perfil proteico pelo método de Bradford (1976) e Laemmli (1970), respectivamente;
2) Atividade proteolítica segundo Lomonte e Gutiérrez (1983);
3) Atividade de fosfolipase A2 pelo método de Kudo e Murakami (2002).
Os resultados foram analisados por comparação, sendo que para comparação entre dois grupos foi utilizado o teste t e para três grupos a análise de variância (ANOVA). O desvio padrão foi de 0,95.
RESULTADOS:
O veneno da cascavel C. d. terríficus apresentou atividade antifúngica contra a levedura C. albicans pelo método de microdiluição em placa inibindo completamente o crescimento desta levedura até a concentração de 31,25 µg/mL e sendo a concentração inibitória mínima (CIM) 15,625 µg/mL. Na literatura não há descrição sobre a ação do veneno de C. d. terríficus contra C. albicans, entretanto existem relatos da ação do veneno desta espécie contra outros microrganismos como Leishmania (L.) amazonensis (Passero et al, 2007). O veneno de C. d. terríficus apresentou baixos níveis de atividade proteolítica, como descrito por Santoro (1999). O teor de proteínas contidas no veneno de C. d. terríficus variou de 1.903 µg/mL a 2.674 µg/mL e a maioria das proteínas observadas eletroforeticamente apresentaram massa molecular de 20 kDa ou inferior a este valor, porém foi visualizada uma banda de 100 kDa. Clissa et al (1999) encontrou o valor de 2 mg/mL de proteínas totais, aproximando-se do valor encontrado neste trabalho, e proteínas com massa molecular nesta mesma faixa. O veneno de C. d. terríficus apresentou atividade de fosfolipase A2, assim como verificado em estudos realizados por outros pesquisadores, tanto para esta espécie como nas serpentes em geral (Georgieva et al, 2009).
CONCLUSÃO:
No ensaio de microdiluição em caldo realizado com o veneno bruto de C. durissa terríficus ocorreu inibição do crescimento da levedura C. albicans; por meio da contagem de unidades formadoras de colônia observou-se uma inibição de 51,45% na formação de colônias; assim como no teste de viabilidade celular ocorreu uma significativa (p<0,005) redução no número de células viáveis na presença do veneno, mostrando que o veneno crotálico pode ser utilizado para fins farmacêuticos na fabricação de drogas contra este fungo. O veneno apresentou alta quantidade de proteínas; atividade proteolítica insignificante (p >0,05) e elevada atividade de fosfolipase A2, cuja atividade enzimática está diretamente relacionada com a miotoxicidade do veneno em pessoas que sofrem acidentes ofídicos e está presente na espécie C. d. terríficus mais do que em outras espécies do mesmo gênero.
Palavras-chave: Atividade antifúngica, Caudisona durissa terríficus, Candida albicans.