64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 2. Paisagismo e Projetos de Espaços Livres Urbanos
ESTUDO DA PAISAGEM SONORA DO JARDIM BOTÂNICO BOSQUE RODRIGUES ALVES EM BELÉM-PA
Thamys da Conceição Costa Coelho 1
Antonio Carlos Lobo Soares 1
José Luis Bento Coelho 2
Felipe Melo da Costa 1
1. Museu Paraense Emílio Goeldi, Brasil - MPEG
2. CAPS, Instituto Superior Técnico, UTL, Lisboa, Portugal
INTRODUÇÃO:
O Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves (Bosque) é formado por um fragmento de floresta preservado numa quadra de 15ha no bairro do Marco, em Belém, Brasil. Criado como espaço de lazer nos limites da cidade em 1881, hoje se insere em uma malha urbana complexa, cuja ocupação do solo tem se mostrado prejudicial e impactante à sua conservação.
Medições de níveis de pressão sonora (LAeq), de 2002 a 2004, indicaram no entorno do Bosque 65dB(A) a 75dB(A).
Um dos objetivos deste estudo consiste em identificar se o fluxo intenso de veículos nestas vias e a ocupação do solo no entorno do Bosque comprometem a sua qualidade ambiental e, por conseguinte, as atividades desenvolvidas em seu interior. O outro visa caracterizar a paisagem sonora do Bosque, tendo como referência Leis municipais, Normas Brasileiras e recomendações do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Para isso, entrevistaram-se visitantes e funcionários, e identificaram-se e mediram-se os sons naturais e os derivados de atividades humanas em seu interior e exterior.
Esta pesquisa se insere em um contexto de Análise da Paisagem Sonora de Parques Públicos Urbanos de Belém do Pará, Brasil, sendo relevante na medida em que constrói novas ferramentas de planejamento urbanístico.
METODOLOGIA:
Para melhor caracterizar as áreas verdes de interesse público, o Plano Diretor de Belém enquadra o Bosque em dois zoneamentos, o de Ambiente Urbano (ZAU6, setor II) e o Especial de Interesse Ambiental, este último por ter como função a conservação das características ambientais da cidade e oferecer espaços destinados ao lazer da população. A Norma Brasileira Regulamentadora nº 10151, bem como a Lei Municipal 7990/2000, definem para área mista predominantemente residencial, como a ZAU6, valores máximos de LAeq de 55dB(A) diurno e 50dB(A) noturno.
Visando identificar as fontes sonoras e os níveis sonoros presentes no Bosque e seu entorno, foram escolhidos sete pontos (7) externos, a partir da circulação de transporte rodoviário, e quinze (15) pontos de concentração de visitantes e funcionários nas vias internas, onde se identificaram os componentes da paisagem sonora, mediram-se os níveis de pressão sonora com uso de sonômetros, contaram-se os veículos (nos pontos externos ao Bosque), e entrevistaram-se visitantes e funcionários do Bosque. Estes procedimentos foram executados no período diurno, durante a semana e aos domingos.
RESULTADOS:
Os valores de LAeq obtidos apontaram que apenas dois pontos no interior do Bosque atendem aos parâmetros de conforto acústico definidos na legislação. Os pontos internos refletem as atividades (educação, lazer e comércio) que se desenvolvem as proximidades e, ainda, são influenciados pelo tráfego gerado nas avenidas de entorno.
Algumas características do Bosque contribuem para que o ruído seja perceptível em toda a sua extensão: o gradil que o cerca; as trilhas de visitação que são vetores de propagação de ruído; e a vegetação de sub-bosque pouco densa. Algumas atividades desenvolvidas no entorno do Bosque revelaram-se determinantes nos níveis de LAeq obtidos como: construção civil privada na Tv. Enéas Pinheiro; o Aeroporto Brigadeiro Protásio de Oliveira, situado a duas quadras do Bosque; e o ginásio da Universidade do Estado do Pará, na Tv. Perebebuí, alugado regularmente para atividades esportivas, cultos religiosos e shows. No que se refere à caracterização da paisagem sonora, identificaram-se fontes distintas, provenientes de: tráfego rodoviário, tráfego aéreo, uso de materiais e equipamentos na conservação do Bosque, construção civil, animais, vento, água e atividades recreativas, educativas e de lazer.
CONCLUSÃO:
A maioria dos pontos de medição no Bosque excederam o LAeq normatizado em 55dB(A). Os mais prejudicados situam-se na periferia do Bosque, influenciados pelo tráfego rodoviário, porém, obtiveram-se níveis de LAeq elevados também em pontos mais ao centro. Os pontos de pressão sonora acima de 65dB(A) confirmaram a Av. Almirante Barroso como a via que mais influencia a paisagem sonora do Bosque.Além tráfego e os sons intrínsecos ao Bosque, somam a sua paisagem sonora as obras de construção civil e decolagem de aviões no aeroporto próximo. No entanto, estas fontes sonoras não foram percebidas pela maioria (80%) dos entrevistados. 74% deles não se sentiram incomodados com a intensidade dos sons, considerada normal por 54% deles. Com exceção de 10% que se referiram aos gritos de crianças e pessoas de forma negativa, 90% dos entrevistados disseram que não existem sons desagradáveis no Bosque. 42% referiram-se ao som do tráfego rodoviário no entorno do Bosque como negativo.
Algumas características arquitetônicas, como a grade de proteção e o desenho paisagístico do Bosque sensibilizam ainda mais seus espaços. A primeira por apresentar permeabilidade acústica total, e a segunda por facilitar a penetração no interior do Bosque dos ventos dominantes e do ruído do entorno.
Palavras-chave: Amazônia, Parque Urbano, Paisagem Sonora.