64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
INSTRUÇÕES PARA A LIBERDADE: PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS DE ESCOLAS PARA ESCRAVOS, LIBERTOS E LIVRES DE COR (RIO DE JANEIRO, SÉCULO XIX)
Higor Figueira Ferreira 1
Flávio dos Santos Gomes 2
1. Mestrando em Educação / Graduado em História - UFRJ
2. Professor Doutor / Orientador - Departamento de História - UFRJ
INTRODUÇÃO:
As leituras a respeito do século XIX, da condição escrava, do protagonismo do elemento servil no cotidiano dos grandes centros urbanos, sobretudo na cidade da Corte – maior sociedade escravista urbana das Américas – e das questões educacionais, nos permitiu pensar a possibilidade de estudar a temática da escravidão com uma interface na educação. Portanto, visamos reconhecer como se entrecruzava o cotidiano de escravos, libertos e homens livres de cor na cidade do Rio de Janeiro, em pleno século XIX, com suas projeções e articulações em favor do acesso a educação letrada. Juntamente a isso o processo da pesquisa nos permitiu a localização de experiências escolares para os segmentos negros, algumas delas, inclusive, organizadas e administradas pelos próprios, sobretudo na segunda metade dos oitocentos. Além disso, buscamos sugerir alguns significados da educação para esses grupos, tentando compreender o significado do “educar-se” para eles.
METODOLOGIA:
O primeiro movimento do trabalho foi o de localizar e se lançar a leitura de obras de referência que abordassem os segmentos negros como alvo de experiências de aprendizado, tanto por meio do ensino de ofícios, como por meio da educação letrada. A partir das primeiras leituras específicas – as obras de Marcus Vinícius Fonseca e Adriana Maria Paulo da Silva foram fundamentais nesse sentido – e também através de indícios de escravos letrados na historiografia brasileira, pudemos organizar as ideias centrais da pesquisa. Em seguida, por meio das buscas em arquivos, sobretudo o Arquivo Nacional, localizamos e selecionamos fontes - algumas reutilizadas de outros trabalhos, outras não - que aos poucos foram não só dando corpo ao projeto, como também ajudaram a nortear a pesquisa para o ponto em que hoje estamos. As fontes do Arquivo Nacional mais bem aproveitadas se localizam nos fundos de documentação GIFI 5B 224 (documentações avulsas) e IE 4 2; IE 1 397 (fundo educação). Como documentação textual utilizamos o livro Rascunhos e Perfis de Ernesto Sena, que nos deu uma pista preciosa de uma experiência educacional organizada por um ex-cativo.
RESULTADOS:
Foi possível, por meio do trabalho arquivístico, a localização de experiências educacionais para os segmentos negros residentes no Rio de Janeiro, e na maior parte dos casos especificamente na cidade da Corte, na segunda metade do século XIX. As Escolas Noturnas, tanto do Club dos Libertos Contra a Escravidão de Nitcheroy (Niterói), quanto da Paróquia da Freguesia do Santíssimo Sacramento em Cantagalo, bem como as aulas ministradas pelo ex-cativo Israel Antônio Soares, que, mesmo com parcos recursos, conseguiu organizar e administrar em uma residência uma experiência educacional simples, ainda que não menos interessante, são alguns exemplos de resultados da busca por fontes em arquivos e reforçam as nossas percepções de que o aprendizado e o domínio das letras, mesmo que limitado, era uma projeção realizável na vida dos segmentos negros – escravos, libertos e livres de cor.
CONCLUSÃO:
A partir das fontes encontradas, e também das reutilizadas do trabalho de outros autores, é possível sugerir que os indivíduos negros, escravos, libertos ou livres, se articulavam em favor do objetivo de alçar algum conhecimento letrado, ainda que houvesse para isso, evidentemente, grande dificuldade. Essa é uma indicação de que eles nutriam expectativas e estabeleciam suas próprias projeções de vida, o que não significa que não houvesse limites impostos pelo poder imperial e pela força senhorial, no caso específico dos cativos.
É possível também, a partir das indicações que localizamos, já sugerir, mesmo que provisoriamente, o significado dessas experiências educacionais para esses grupos. Cremos que se possa falar com certa seguridade, coisa que mais pesquisas hão de confirmar, que o domínio da escrita e da leitura, mesmo que incipiente, pôde aproximar sujeitos cativos e libertos estigmatizados pela cor da experiência da liberdade que tanta almejavam.
Palavras-chave: Escravidão, Educação, Rio de Janeiro.