64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
LITERATURA INFANTIL DE MODA COMO INSTRUMENTO DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO
Michely Calciolari de Souza 1
Valquíria Brito da Rocha 2
Ivana Guilherme Simili 3
1. Universidade Estadual de Maringá
2. Universidade Estadual de Maringá
3. Profa. Dra/Orientadora – Depto de Fundamentos da Educação – UEM
INTRODUÇÃO:
Embora as obras selecionadas para análise tragam no título a moda, o que elas produzem e veiculam são narrativas para a história da indumentária – roupas e acessórios –, com base em periodizações históricas e lineares – da antiguidade até a contemporaneidade. A moda é assim interpretada pelas autoras como a história das aparências que as roupas fabricaram para os homens e mulheres nos períodos históricos.
Justamente pelas características das obras, elas foram examinadas na perspectiva de evidenciar como as narrativas, ao produzirem descrições acerca de como os homens e mulheres se vestiram no decorrer da história, fabricam e veiculam noções de gênero para as roupas.
Como os homens e as mulheres são caracterizados nas narrativas e, como as indumentárias ajudam a produzir as diferenças e os significados para uns e outros, na forma de aparências e comportamentos? De que forma os designs e as cores das roupas são empregados nas descrições e nas imagens? Quais noções constroem e comunicam para a feminilidade e a masculinidade?
A justificativa e a hipótese do estudo é que as crianças, como leitoras, são levadas a entender as roupas como elementos naturais das aparências, estimulando preconceitos contra as pessoas que se vestem de maneira diferente daquela que é tida para o seu “sexo”.
METODOLOGIA:
Um dos princípios que vem orientando os estudos de gênero na área da educação, realizados sob a perspectiva cultural, parte da consideração de que somos educados pelas diferentes instâncias e artefatos pedagógicos, em diferentes espaços e esferas sociais, culturais e educativas.
Representantes dessa tendência são Louro (2008) e Sandra Santos Andrade (2003, p.109), a qual assevera em seu estudo que não é somente no espaço da escola que acontece a educação, que os corpos e as subjetividades dos sujeitos são modelados em seus gestos, comportamentos, atitudes. Em sua concepção, a propaganda, a mídia, a literatura, o cinema, os espaços frequentados pelos sujeitos, bem como a arquitetura, os brinquedos, a moda e as diversas formas de arte etc., cumprem um papel importante na educação, constituindo-se em pedagogias culturais e educacionais que ensinam modos de ver, sentir, consumir, viver, vestir-se e comportar-se.
Ao transformarmos os livros em fontes e objetos de análises, pressupomos que, como artefatos de comunicação são pedagogias culturais de moda e gênero, educando as subjetividades infantis na perspectiva das roupas, incutindo noções e valores acerca de vestuários, cores, design, comportamentos, gestos e aparências para meninos e meninas.
RESULTADOS:
Mesmo com narrativas distintas, no que tange aos recortes temporais e as descrições feitas pelos textos e imagens para cada período histórico, é possível encontrar alguns pontos comuns.
O vestido para as mulheres e o terno para os homens ganham força e destaque nas páginas dos livros. Nesses artefatos indumentários imprimem símbolos e signos históricos para o feminino e a feminilidade; o masculino e a masculinidade. No caso, os vestidos – em diferentes estilos, cores e detalhes, consoante às épocas retratadas, transmitem noções de que a feminilidade da mulher está em seu corpo, em seus gestos, em sua beleza e sensualidade. O terno, conjunto formado por paletó, calças, camisas e gravatas em cores escuras, principalmente, o preto, povoam as descrições e contribuem para produzir aparências de austeridade, seriedade, poder e conquista. As mensagens são claras: mulheres usam saias e homens usam calça. Mulheres e homens são diferentes. Reafirma-se, assim, a heterossexualidade das roupas ou que as roupas têm sexo.
Duas linhas de roupas – femininas e masculinas – que se comunicam e mostram para as crianças, como leitores e leitoras, dois modos de ser e de se vestir e, por conseguinte, com papéis sociais a desempenhar como homens e mulheres.
CONCLUSÃO:
Por intermédio dos livros as crianças são levadas a conhecer a história da moda e que este aprendizado é feito de maneira a que princípios e padrões sociais e culturais de corpo, beleza e comportamentos sejam reafirmados. Nesse sentido, as leitoras e os leitores aprendem que há roupas e comportamentos para homens e para mulheres, “eternizando” noções que acabam por parecer aos olhos das crianças como “naturais”.
As obras criam um guarda-roupa histórico com as representações acerca da existência de roupas apropriadas para homens e mulheres, repercutem na escola e na cultura infantil, condicionando as práticas de vestir e de consumo. Em outras palavras, o aprendizado levará a crianças a reproduzirem os modelos consagrados de feminilidade e de masculinidade, consumindo roupas e comportamento consoante aos gêneros.
A reprodução de conceitos articulados à heterossexualidade das roupas levarão as crianças aos preconceitos contra aqueles que se vestem de forma “diferente”. O mundo das roupas, “naturalmente” cindido entre linhas e formas indumentárias para homens e mulheres, produz olhares preconceituosos sobre aqueles/aquelas que se vestem ou se comportam de maneira diferente. A moda, transforma-se, assim, em esfera e instância que estimula os preconceitos de gênero.
Palavras-chave: Literatura Infantil, Moda, Gênero.