64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
A CATEGORIA CRIANÇA NA SOCIEDADE AKWẼ-XERENTE
André de Souza Almeida 1
Odair Giraldin 2
1. Discente - Letras/Inglês - UFT
2. Prof. Dr./ Orientador - UFT
INTRODUÇÃO:
A Constituição Federal de 1988 garantiu aos povos indígenas, dentre outros pontos, que seus processos próprios de ensino-aprendizagem fossem respeitados no seu processo educacional. Atualmente, poucas escolas indígenas praticam o que prescreve a Constituição. Segundo Nolasco (2010) em censo Escolar Indígena realizado pelo Ministério da Educação em 2006, dentre 2.399 iniciativas, apenas 22 consideravam em seus currículos, práticas e calendários condizentes com a Constituição. No Tocantins, onde estão localizados os Akwẽ-Xerente, as escolas indígenas pouco se diferenciam das instituições escolares não-indígenas. De tal modo, como constatou Nolasco, nas escolas indígenas Akwẽ-Xerente são utilizados métodos opostos aos métodos Xerente de ensino-aprendizagem. Diante desta realidade, em 2010 foi lançado o projeto “Ouvir, ver, fazer aprender: um estudo comparativo dos processos próprio de ensino aprendizagem para os Akwẽ-Xerente, Krahô e Javaé”, coordenado pelo prof. Dr. Odair Giraldin, através do Núcleo de Estudos e Assuntos Indígenas (NEAI), junto à Universidade Federal do Tocantins. Dentro desta proposta de pesquisa, o presente trabalho busca identificar os processos próprios de ensino aprendizagem entre os Aikrde (criança), entendendo estas como agentes (conforme NUNES, 2003).
METODOLOGIA:
Este trabalho foi realizado através de levantamento bibliográfico referente ao assunto e foi realizado também trabalho de campo, no qual foram feitos diálogos junto aos anciãos e habitantes locais, como: crianças, jovens, mães, professores e lideranças nas aldeias Nrõzawi, Kripre e Ktẽpo. Os diálogos foram abordados através da observação participante, onde o mais importante são os significados subjetivos e as experiências que são construídas pelos participantes em suas vivências, e através da intersubjetividade, que se compreende por criar sentido a partir do significado dos outros (BURGESS, 1997, apud, NOLASCO, 2010, P. 14; TOREN, 1997). Foram feitas anotações, trabalho de campo no local e nas escolas Waῖkarnãse e Kburõῖkwa, além de registros fotográficos e filmagens do cotidiano deste povo nas mais diversas situações.
RESULTADOS:
Para entender a noção que a sociedade Xerente faz das crianças é preciso conhecer o papel que ela exerce sobre estas. A categoria criança entre este povo varia em idade, mas tinha como período limiar o momento que o indivíduo deixava o Warã (termo que designava no passado o pátio central da aldeia, casa dos homens e construção provisória feita na mata), entre 18 e 19 anos. Categorias de idade levantadas: Aiktepreri são semelhantes à criança de colo. Estes necessitam de cuidado especial para que a “alma” fique no corpo. Segundo Melo (2010), as crianças são vistas como frágeis e suscetíveis ao mundo não humano; os Turê e as Tarê são as crianças que já conversam e andam pelo warῖzdare (espaço correspondente ao quintal da casa [MELO]). Assim, estas aprendem primeiramente no ambiente doméstico, mas também acompanham as mães ou irmãos pelos arredores da aldeia; os Kwatbremῖ e as baknô/bakrda são as crianças entre 5 e 12 anos. Os Kwatbremῖ têm liberdade para circular pela aldeia e mata com outros garotos. Já as baknô/bakrda não têm tanta liberdade, pois ajudam nas tarefas domésticas e cuidam dos menores. Terminado este período os garotos entravam na categoria de idade Sipsa, onde recebiam treinamento para a vida, como pescar, caçar e histórias da sociedade.
CONCLUSÃO:
As crianças Xerente, como relataram meus interlocutores, diferentemente das de outras sociedades indígenas (NUNES, 2003), têm menor liberdade de circular pela aldeia, restringida em alguns locais, pois estas são entendidas como seres suscetíveis ao outro mundo e que, portanto, devem ser cuidadas e resguardadas destes locais onde estariam em risco. Estes lugares proibidos de visitação são o ritual fúnebre e a preparação do ritual de nominação. Já o conceito de infância que podemos notar entre este povo varia de aikrde para aikrde, mas tem relação com a entrada deste na categoria de idade Sipsa e consequentemente no Warã, sendo que ao fim deste, o indivíduo estaria apto para ser um ambâ (homem) e casar. Já as meninas, neste período, continuam em casa a ajudar as mães. Em se tratando das categorias de idade que compõem a infância, podemos notar que elas encarnam papéis específicos entre os gêneros e têm relação com a possibilidade destes escutarem estórias e se locomoverem pela residência, aldeia e seus arredores, sendo que no passado o Sipsa seria o limiar entre a infância e a vida adulta. Pode-se concluir ainda que o assunto é complexo e demanda de mais pesquisas no que tange o entendimento que a sociedade Akwẽ-Xerente faz da categoria criança.
Palavras-chave: Criança, Aprendizagem, Categorias de Idade.