64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 11. Economia
Metamorfose das Atividades no Comércio Informal do Centro de São Luís (MA)
Vicente Anchieta Júnior 1
João Claudino Tavares 2
1. Depto. de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
2. Prof. Dr. / Orientador – Departamento de Ciências Econômicas, UFMA
INTRODUÇÃO:
O ponto de partida para o estudo da metamorfose das profissões é a necessidade real, por parte do homem, de produção e reprodução de sua vida material. Ambas se submetem à lógica da acumulação capitalista enquanto instrumentos para a valorização do capital. Nesse sentido, destacam-se como objetivos do trabalho a identificação, qualificação e estudo das transformações experimentadas pelas atividades informais no Centro de São Luís entre 1995 e 2011, em especial o comércio de rua. É de extrema relevância assimilar quem são os agentes impessoais responsáveis por essas transformações e sobretudo os homens que estão submetidas a elas, e a partir disso, colocar em evidência a decadência de atividades tradicionais e o surgimento de novas atividades.
METODOLOGIA:
A observação in loco do comércio de rua foi essencial para definir que atividades estão “com seus dias contados” e quais as que emergem em meio à esse ambiente. Para chegar à realidade desses profissionais, foi elaborado um questionário com base em um mesmo elaborado por Karl Marx para estudar a situação da classe operária na França em 1880 e, adicionado ao mesmo alguns itens presentes no trabalho de Milton Santos (O Espaço Dividido) com a intenção de buscar, no Centro de São Luís, diferenças e similaridades em relação aos estudos anteriores. Foi acrescentada uma pergunta que pareceu importante, em se tratando de uma pesquisa que busca levantar quais ocupações surgem nesse espaço. Trata-se da classificação, por parte do entrevistado, de sua própria ocupação. Além disso, foram realizadas entrevistas com profissionais supostamente em decadência, tais como alfaiates, sapateiros e reparadores de malas e bolsas, tentando entender porque e como ainda se mantém nesses negócios. Nessas entrevistas, buscou-se fugir da rigidez de perguntas previamente elaboradas e deixar espaço para que o entrevistado expusesse como chegou à profissão, como se sustentou nela até então e como se pretende manter.
RESULTADOS:
As entrevistas indicaram a impossibilidade parcial de reprodução material dos indivíduos inseridos nas atividades de reparo de bolsas, sapatos e roupas. Parcial porque mesmo com os efeitos da modernização tecnológica, que exclui grande parte da força de trabalho do setor produtivo, esses profissionais ainda conseguem sobreviver, inclusive com perspectivas de crescimento do “negócio”, como foi verificado com os consertadores de malas e bolsas. A atividade comercial, especialmente aquela de menor porte, que é o caso dos comerciantes de rua, não exige uma habilidade específica e, portanto, não está submetida às mesmas modificações estruturais dos profissionais entrevistados. A natureza da atividade comercial não nos permite falar em metamorfose, pelo menos não aquela entendida a partir de mudança de técnicas. A metamorfose não se expressa no comércio de rua como uma nova técnica de atendimento ou uma nova forma de vender, mas se revela nos produtos que eles vendem. Modificam-se os produtos vendidos ao longo do ano, de acordo com os períodos de aquecimento no comércio. No início de ano, proliferam-se mochilas e bolsas para estudantes em início de período letivo ao passo que artigos para o período carnavalesco se amontoam. Após esse período, volta-se a vender os produtos habituais.
CONCLUSÃO:
Atividades supostamente em decadência ainda atendem uma parcela da população que não está inserida nas modernas formas de consumo ou que resiste às forças de inovação, ainda se prendendo ao costume. Essas atividades se resumem atualmente à consertos e pequenos reparos, característica ligada à dinâmica capitalista, que continuamente explora a força de trabalho social na produção das mercadorias, deixando ao indivíduo, simples e desprovido dos meios de produção, a opção de apenas reparar ou consertar essas mercadorias como “estratégia” de sobrevivência. Nesse sentido, relojoeiros que agora consertam relógios digitais e consertadores de celulares e de outros eletroeletrônicos, se apresentam como novas atividades, que se revelam como alternativa para consumidores de renda mais baixa. No comércio informal, o importante a frisar é que a atividade é extremamente sensível aos desejos dos consumidores. O comerciante informal está sempre disposto a oferecer descontos para ganhar o cliente. Vários deles, inclusive, modificam o conjunto de produtos que vendem, a fim de ganhar um pouco mais, de acordo com a época do ano.
Palavras-chave: Reprodução Material, Metamorfose das Profissões, Atividades Informais.