64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social |
EM TERRAS DE CONFLITOS: das agressões físicas à violência de gênero |
Aldina da Silva Melo 1 Viviane de Oliveira Barbosa 2 |
1. Graduanda do curso de licenciatura em Ciências Humanas - UFMA 2. Profa. Ma./ Orientadora - Curso de Ciências Humanas - UFMA |
INTRODUÇÃO: |
Abordam-se as principais formas de violência sofridas por mulheres quebradeiras de coco nas comunidades de Monte Alegre, município de São Luiz Gonzaga – MA e São José dos Mouras, em Lima Campos – MA, tendo como recorte cronológico os anos de 1970 à 1990, quando os conflitos rurais no Maranhão chegaram ao auge, principalmente após a implantação da Lei Sarney de Terras, em 17 de julho de 1969 (Lei de nº 2.979), pelo então governador do estado José Sarney. Esse projeto de Lei propunha a privatização das terras públicas do estado incentivando a ampliação de projetos agropecuários e agroindustriais, que resultaram na expulsão de inúmeras trabalhadoras e trabalhadores rurais da terra e negaram-lhes o acesso aos babaçuais (BARBOSA, 2006). A relevância desta pesquisa dá-se pelo fato de que até o presente momento quase não se tem dados que tratem especificamente das situações de violência que envolveram diretamente as quebradeiras de coco dessas regiões. Assim, a presente análise mapeia e resgata um pouco da história de vida de diferentes mulheres trabalhadoras rurais de ambas as comunidades a partir da análise de suas memórias e sob um enfoque de gênero. |
METODOLOGIA: |
A análise foi empreendida com base na História Oral, tendo como metodologia a realização de entrevistas semiestruturadas com diferentes trabalhadoras(es) rurais. Em alguns casos foram realizadas apenas conversas informais devido à dificuldade que os entrevistados apresentaram em falar de certos temas e de se acessar certas memórias durante a pesquisa. Foram feitas cerca de sessenta entrevistas com homens e mulheres de faixa etária que varia entre 23 a 80 anos. A opção em trabalhar com sujeitos de ambos os sexos e com distintas opções sexuais foi relevante pelo fato de ter sido possível analisar as noções de violência, principalmente de gênero, para esses sujeitos. Já a escolha da faixa etária permitiu a coleta e análise de memórias de pessoas que viveram diretamente os acontecimentos e de pessoas que os viveram “por tabela” (POLLAK, 1992). São acontecimentos acerca dos conflitos pela terra e pelo livre acesso aos babaçuais. Para tal pesquisa foi indispensável também a perspectiva da História Social na interface com o trabalho de memórias que se debruça sobre a análise dos excluídos, dos marginalizados e das minorias. Para além da pesquisa in loco, fez-se levantamento bibliográfico dialogando com autores como Barbosa (2006), Dias (2011), Pollak (1989), dentre outros. |
RESULTADOS: |
“[...] a falta de segurança, a falta de políticas [...] é uma violência muito grande!” Essa é a definição de violência para a quebradeira de coco e atual presidente da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) Antônia Gomes de Souza, moradora de São José dos Mouras – MA. Esse discurso é presente na fala de outras mulheres dessa comunidade e de Monte Alegre, e explicita que violência não se restringe apenas a agressão física, mas engloba violências de gênero, patrimonial, psicológica e verbal, as quais essas mulheres já foram vítimas, principalmente entre as décadas de 1970 a 1990 devido aos inúmeros conflitos que atingiram o rural maranhense, estabelecendo notáveis relações desiguais de poder. A palmeira é representada pelas quebradeiras de coco dessas regiões como “mães de família” e/ou “banco”, então a derrubada destas inscreve-se no imaginário dessas trabalhadoras como a morte de uma mãe de família, a destruição de sua fonte de renda, como um ato de violência. Interessante que em ambas as comunidades a prática da extração da amêndoa do babaçu é um saber tradicional repassado de mãe para filha e na região estudada, bem como em outras regiões do Estado, é um trabalho considerado “feminino,” embora as entrevistas comprovem que há homens que quebram coco. |
CONCLUSÃO: |
Rememorar o rural maranhense no final do século XX significa para as quebradeiras de coco rememorar múltiplas violências a que inúmeros sujeitos, especialmente mulheres, foram expostos, e ainda são. Para os sujeitos entrevistados, violência não se restringe simplesmente às agressões físicas, seu conceito é bem mais abrangente, e recebe distintos significados quando interpretado por homens e mulheres. Ainda no tocante às questões de violência é importante observar que este deve ser um fenômeno analisado no plural, uma vez que se manifesta de diferentes formas no cotidiano dessas mulheres, causando traumas e deixando marcas que jamais serão esquecidas, talvez apenas silenciadas, pois são lembranças do vivido e sentido que causam dor e sofrimento quando relembrados. No intuito de refletir sobre os principais problemas enfrentados por essas mulheres foi possível ainda estabelecer uma relação de proximidade entre universidade e mulheres do campo, que a partir do babaçu criam estratégias de sobrevivência que são repassados aos seus filhos e filhas como saberes tradicionais. Assim, ser respeitada, ser reconhecida como quebradeira de coco e ter seu trabalho valorizado pela sociedade são demandas das quebradeiras de coco dessas duas comunidades. |
Palavras-chave: Quebradeira de Coco, Violência, Conflitos rurais. |