64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E STRESS EM CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DOENÇA FALCIFORME
Paula Pereira Alves 1
Alex Zopeletto da Silva 1
Tatiane Lebre Dias 2
1. Depto. Psicologia, Curso de Psicologia, UFMT
2. Profa. Dra./ Orientadora – Depto. de Psicologia - UFMT
INTRODUÇÃO:
O modo como o indivíduo percebe cognitivamente a doença influência no seu comportamento diante da mesma. Em casos de doença crônica na infância, devido à necessidade de um apoio familiar, a maneira como os cuidadores percebem a doença, se ajustam emocionalmente à ela e lidam com a situação é fundamental para a adaptação em relação a doença. Além disso, é muito importante para que a criança se adapte à essa nova condição, a resposta que o cuidador dá a situação. Porém, esse processo de adaptação é bastante complexo, gerando muitos sofrimentos psicológicos aos cuidadores, podendo levá-los a experimentar stress diante de situações como o tratamento da doença na criança, as repetidas idas aos hospitais, visitas médicas, horários das medicações e outros fatores. As diferentes respostas que a família apresenta em relação ao stress podem ser influenciadas pela rede de apoio que possuem. Com base nesses aspectos, este trabalho teve por objetivo identificar a presença de stress nos cuidadores de crianças com Doença Falciforme (DF) e as estratégias de enfrentamento utilizadas por eles diante das crises dolorosas das crianças.
METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa nove cuidadores, com idade entre 27 e 60 anos, de crianças portadoras de Doença Falciforme, com idade entre 09 e 11 anos, que realizam tratamento em Unidade de Saúde de Cuiabá/MT. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: a) Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), desenvolvido por Lipp em 2000: instrumento utilizado na identificação de quadros característicos do stress e que possibilita diagnosticar o stress em adultos e a fase em que a pessoa se encontra; b) Inventário de Estratégias de Coping, adaptado por Savioa et al. em 1996: o inventário contém 66 itens, que englobam pensamentos e ações que as pessoas utilizam para lidar com demandas internas ou externas de um evento estressante específico. O instrumental foi aplicado individualmente em um encontro com cada cuidador. A análise dos dados envolveu a identificação da existência ou não de sintomas predominantes de stress nos participantes e a fase em que cada um se encontra, além das estratégias de enfrentamento utilizadas ou não utilizadas diante das crises de dor das crianças.
RESULTADOS:
Os resultados revelaram que dos nove cuidadores quatro apresentaram sintomas de stress, com sintomatologia predominantemente psicológica na fase de resistência (n=3). Em relação às estratégias de enfrentamento verificou-se de modo geral: a) estratégias não utilizadas ou utilizadas pouco: confronto (n= 8) - mostrar raiva e; afastamento (n=8) - fazer como se nada tivesse acontecido; b) estratégias utilizadas grande parte vezes ou algumas vezes: resolução de problema (n= 7) - fazer plano de ação e seguir; reavaliação positiva (n=7) - crescer positivamente com a pessoa. Comparando os resultados nas estratégias de enfrentamento dos cuidadores nos grupos sem stress (SS/n= 5) entre a aqueles com stress (CS/n=4), verificaram-se algumas diferenças: a) autocontrole (procurar guardar para si): não utilizada ou pouco utilizada pela maioria do grupo SS (n=4), e utilizada algumas vezes pela maioria do grupo CS (n=3); b) aceitação de responsabilidade (criticar-se): não utilizada ou pouco utilizada pela maioria no grupo SS (n=4) e algumas vezes utilizada no grupo CS (n=3); c) suporte social (conversar com outras pessoas sobre o problema): no grupo SS não utilizada ou utilizada pouco (n=2) e algumas vezes (n=2), enquanto que no grupo CS é utilizada pela grande parte das vezes (n=3).
CONCLUSÃO:
Com base nos resultados, observou-se que entre os participantes a diferença entre a quantidade de cuidadores que apresentaram sintomas predominantes de stress daqueles que não apresentaram foi pequena, podendo indicar que situações relacionadas à doença podem causar stress, corroborando com a literatura sobre essa temática. Quanto às estratégias de enfrentamento notou-se que resolução de problemas e reavaliação positiva foram estratégias usadas pelos cuidadores. Já as estratégias de confronto e afastamento foram consideradas não utilizadas ou utilizadas pouco por ambos os grupos. Porém, em outras estratégias verificou-se diferenciação entre os grupos. Enquanto o grupo SS não utilizou ou utilizou pouco o autocontrole e a aceitação de responsabilidade, o grupo CS utilizou algumas vezes essas estratégias. A estratégia de suporte social foi utilizada em grande parte das vezes pelo grupo CS, enquanto que no grupo SS não foi utilizada ou pouco utilizada. Com isso, observa-se a necessidade de aprofundar a investigação sobre o stress em cuidadores de crianças com DF. De todo modo nota-se a importância de propostas de intervenção que possam colaborar no enfrentamento à doença para os cuidadores, e assim, garantir uma qualidade de vida melhor ao cuidador e a criança com DF.
Palavras-chave: Doença Falciforme, Stress, Estratégias de enfrentamento.