64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde
VELHICE E DROGADIÇÃO: INFLUENCIA DE ASPECTOS SOCIAIS NO USO DE DROGAS POR IDOSOS.
Maria Valéria Duarte de Souza 1
Paula Andréia Ferreira 2
1. Profa.MsC./Orientadora-Curso de Serviço Social - Universidade Católica de Brasília-UCB
2. Universidade Católica de Brasília-UCB
INTRODUÇÃO:
O envelhecimento da população é um fenômeno mundial, apontando a necessidade de estudos sobre temas que, até pouco tempo, não eram associados aos idosos. A drogadição é um desses temas. O uso de álcool e tabaco, embora bastante tratado pela literatura, é pouco explorado quando voltado para a população idosa. Se considerarmos o uso de drogas ilícitas ( maconha, cocaína, crack) por idosos, os estudos são ainda mais escassos. O presente estudo justifica-se enquanto contribuição ao tema (drogadição em idosos) e teve por objetivo verificar aspectos sociais que influenciam no uso de substâncias psicoativas por idosos. Os determinantes sociais foram escolhidos por se constituírem objeto de interesse do Serviço Social cuja atuação se faz presente em diversas instituições de atendimento a idosos, sejam elas públicas, privadas ou organizações não governamentais. A pesquisa, realizada no âmbito do Curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, teve como hipótese de trabalho a premissa segundo a qual aspectos de natureza social influenciam o uso de drogas por idosos. O referencial teórico utilizou, entre outros autores, os trabalhos de Claude Olievenstein (1990), Regina Mioto (1997) e Vicente Faleiros (2007).
METODOLOGIA:
O estudo considera como sendo idosas as pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, tal como previsto na Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842/1994) e no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003). Foi realizada pesquisa qualiquantitativa de natureza exploratória e documental, a partir de investigação em prontuários de idosos atendidos no Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-ad), localizado na cidade do Guará, no Distrito Federal/Brasil. A escolha do CAPS-ad/Guará para a pesquisa, deveu-se ao fato de ser esta uma instituição de referência no tratamento de usuários de álcool e outras drogas no Distrito Federal. Foram consultados 31 (trinta e um) prontuários, correspondendo ao número de idosos atendidos entre agosto e novembro de 2011. Os dados quantitativos e qualitativos obtidos na análise dos prontuários foram agrupados de forma a identificar o perfil do idoso atendido, com destaque para aspectos relativos ao seu contexto social. Assim, foram abordados aspectos tais como: sexo, escolaridade, substâncias consumidas, vínculos de trabalho/emprego, relações familiares, bem como a ocorrência de eventos marcantes na trajetória de vida dos idosos atendidos. O tratamento dos dados obtidos foi feito por meio da análise de conteúdo.
RESULTADOS:
O estudo mostrou que, dos 31 prontuários, 26 (84%) são de usuários do sexo masculino e 5 prontuários (16%) são do sexo feminino. Entre as substâncias consumidas, o álcool aparece em 56% dos idosos, seguido pelo tabaco (30%), pela maconha (6%) e pela cocaína (2%), além dos dependentes de medicamentos (6%). Entre os idosos atendidos no CAPS-ad, 88% referiram um tempo de consumo superior a dez anos e, no caso do álcool e do tabaco, o consumo vem desde a adolescência. Quanto ao grau de escolaridade, 55% dos idosos atendidos têm apenas o ensino fundamental ou não são alfabetizados. Este baixo índice de escolaridade teve impacto na situação de trabalho/emprego dos idosos atendidos: 49% oscilaram entre o desemprego e a informalidade. A precariedade das relações de trabalho foi referida como determinante nas tensões familiares e ambos os aspectos (trabalho e família) foram relacionados a eventos marcantes na trajetória de vida dos idosos incluídos neste percentual. Se, 58% dos idosos atendidos mantém algum laço familiar, 42% destes relataram ter sofrido violência por parte de familiares; 52% relataram dificuldades na convivência familiar: rejeição, preconceito, etc. Relevante também é o fato de 22% do grupo analisado possuir na família histórico de uso de algum tipo de droga.
CONCLUSÃO:
O estudo realizado a partir das informações obtidas nos prontuários dos idosos atendidos no CAPS-ad/Guará revela que aspectos sociais, como trabalho e contexto familiar estão diretamente vinculados ao consumo de drogas (lícitas ou ilícitas) pelos idosos atendidos. Cabe ressaltar que a drogadição, ao mesmo tempo em que é influenciada pelos aspectos sociais acima mencionados, também exerce influencia sobre eles, provocando tensões ou agravando as já existentes. É importante destacar que, embora assumindo contornos mais dramáticos na população idosa, o consumo de drogas no grupo estudado não começou na velhice, mas em períodos anteriores, o que demonstra a necessidade de políticas públicas de caráter preventivo que trabalhem a informação, os aspectos psicológicos, mas também aspectos sociais de populações, que, durante toda a sua trajetória de vida são alijadas das condições necessárias para lhes garantir um envelhecimento tranquilo e digno. O grupo estudado revela que a drogadição em idosos não é um fenômeno isolado, a ser tratado apenas do ponto de vista clínico, mas deve considerar aspectos do contexto social para que se construam estratégias integradas para a busca de soluções efetivas.
Palavras-chave: Idosos, Drogadição, Aspectos Sociais.