64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
OCORRÊNCIAS DOS FONEMAS /ʎ/ E /ɲ/ NA FALA DO TERESINENSE: um estudo sociolingüístico preliminar
Lucirene da Silva Carvalho 1
Lélia Ramires de Oliveira Silva 2
1. Profa Dra. (Orientadora) - Departamento de Letras/Português - UESPI
2. Departamento de Letras/português - UESPI
INTRODUÇÃO:
Este trabalho objetiva discutir o fenômeno fonético denominado despalatalização. Este fenômeno não tem tido um tratamento uniforme e coerente pelos dicionários e lingüistas no tocante à terminologia, definição e exemplificação. Em muitos, há uma confusão na diferença entre despalatalização e iodização. Outros, contudo, tratam a despalatalização e iodização como fenômenos idênticos. Neste sentido, busca-se inicialmente verificar se tais fenômenos realmente são diferentes ou se são iguais do ponto de vista fonético-fonógico.
METODOLOGIA:
Para isso, adotou-se a proposta metodológica da sociolingüística variacionista, tomando 12 informantes homens e mulheres, de faixa etária variando de 25 a 49 e mais de 50, contando também com escolaridades variadas, compreendendo analfabetos, informantes do ensino fundamental e médio, como propõe o modelo laboviano. O corpus levantado baseia-se em (41) quarenta e um itens lexicais, cujas palavras contam com a presença de nh e lhe, elicitadas em estilo semimonitorado junto a habitantes de alguns bairros da zona norte da cidade de Teresina. A partir desses dados, descrevem-se as múltiplas possibilidades de realização desses fonemas nas situações reais de uso, apontando-se os contextos de ocorrência de despalatalização e/ou iodização na fala do teresinense.Utilizou-se para tal propósito a técnica de questionários e módulos de conversação, neste caso, tem-se um questionário de leitura, com 35 palavras (para informantes alfabetizados) e uma lista de figuras, com 31 palavras (para informantes analfabetos). É relevante destacar que, somente 24 palavras são uniformes para todos os entrevistados, ou seja, são as mesmas. Por fim, os dados serão codificados, levando-se em conta as variáveis dependentes e independentes, com suas respectivas variantes e, finalmente, rodados no programa de computador Goldvarb X.
RESULTADOS:
A análise preliminar do corpus levou em conta quatro realizações possíveis: palatalização, despalatalização, iotização e apagamento do [ʎ] e do [ɲ]. Das realizações observadas, os resultados mostram que os teresinenses preferem mais a iotização e o apagamento do “nh” do que sua forma padrão. Quanto à iotização do “lh” esta é mais restrita a fala descuidada de pessoas pouco escolarizadas.
A iotização do [ɲ] ocorreu em palavras como ‘banheiro’ e ‘fronha’ realizadas respectivamente [bãˈỹeɾʊ] e [ˈfɾõỹǝ] na fala dos informantes. Verificou-se também o apagamento da nasal palatal [ɲ] diante da vogal alta anterior “i”, como observado no exemplo ‘ninho’ realizado por [ˈnĩʊ], comprovando-se, assim, os resultados já apontados por Aragão em estudos realizados sobre o falar de Fortaleza. Nesse sentido, a autora afirma que:
No corpus estudado há uma predominância, quase que absoluta, do apagamento do / ɲ / antecedido da vogal fechada / i /, restando, contudo, a nasalização, como nos casos de: [‘mîɲa > m ĩa ]; [kâ’mîɲu > kâ’mĩ];
[lago’îa > lago’ĩɲa ], e tantos outros casos. (ARAGÃO, 1996, p. 6).
Observou-se, também, a ocorrência da iotização da lateral palatal [ʎ] em palavras como, por exemplo, palhaço e orelha realizadas respectivamente como [pǝˈyasʊ] e [ʊˈɾeyǝ], na fala dos informantes.
É importante ressaltar que a iotização do [ʎ] é mais freqüente na fala de pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade, conforme constatou-se durante as entrevistas. Segundo Aguilera (1999, p. 158), ess
CONCLUSÃO:
A pesquisa de variação lingüística, com certeza, tem um importante papel social, além de lingüístico, uma vez que estes estudos proporcionam uma visão mais critica, ou seja, uma visão realista da língua. Como se percebe a língua vista como homogênea e estática, não tem mais lugar.
Ao desenvolver o estudo da despalatalização no falar de Teresina, talvez, possamos contribuir, não apenas para a descrição das variantes lingüísticas dessa região, mas também, dar mais um passo rumo a uma nova maneira de ver o fenômeno lingüístico, sem preconceitos.
Essa é apenas uma pequena parcela do que a pesquisa, ou melhor, do que a língua e suas várias faces têm nos mostrado. Nesse aspecto, após a codificação e rodagem de todos os dados, teremos uma descrição mais completa e de maior abrangência sobre as variantes lingüísticas, especialmente, a respeito das diversas maneiras de realizar as palatais /ɲ/ e /ʎ/ do falar teresinense.
Palavras-chave: Despalatalização, Iodização, Sociolingüística Variacionista.