64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 1. Antropologia da Religião
IDENTIDADE JUDAICA EM YENTL (BARBRA STREISAND) À LUZ DE ECCE HOMO (FRIEDRICH NIETZSCHE): ENSAIOS ACERCA DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA COMUNIDADE JUDAICA DE FLORIANÓPOLIS/SC.
Carlos Augusto Lima Campos 1,2,4
David Carlos Santos Sarges 1
Marina Lima Campos 2,3,4
Edna da Conceição Lima Campos 2,5,6
1. Universidade do Estado do Pará - UEPA
2. Universidade Federal do Pará - UFPA
3. Ministério Público do Estado do Pará - MPE/PA
4. Esp. Direito
5. Bacharelado e Licenciatura em Geografia
6. Profa. Esp./ Orientadora
INTRODUÇÃO:
As instituições judaicas no mundo inteiro apresentam forte sentimento nacionalista. Seria simplório e ingênuo afirmar que tal postura pode ser justificada com bases meramente históricas, vale dizer, como uma reação lógica à perseguição nazista e ao movimento antissemita dela decorrente. Em Yentl é possível compreender as modificações que culminaram na progressiva sedimentação da identidade judaica, no que diz respeito (I) aos papéis tradicionalmente desenvolvidos por gêneros (masculino e feminino) no seio de uma sociedade, bem como (II) o modo que cada membro desta vem se adaptando às novas necessidades (locais e globais), assim como (III) as dificuldades encontradas ao sopesar valores religiosos e demandas sociais. Aqui se pretende demonstrar que bases antropológicas e psicológicas do imaginário judeu reforçam a sedimentação da ideologia de uma unificação identitária de um povo que se vê enquanto nação eleita pelo “Deus verdadeiro”, sob a égide da obra Ecce Homo, de Friedrich Nietzsche.
METODOLOGIA:
Os estudos foram desenvolvidos entre os anos de 2009 e 2012. A pesquisa não se restringiu à (necessária) investigação teórica e à análise do filme Yentl. Abrangeu, também, um trabalho de campo, cujo objeto de estudo foi a AIC (Associação Israelita Catarinense). Outrossim, foram realizadas, no decorrer dos 4 (quatro) anos de investigação, 18 (dezoito) visitas à referida instituição. Quanto à investigação histórico-documental, foram realizadas visitas Museu Judaico do Rio de Janeiro, em proporção semelhante às viagens à Santa Catarina. O trabalho foi elaborado a partir de referenciais teóricos propugnados por Friedrich Nietzsche, Ronald Dworkin, H. L. A. Hart, Chaim Perelman, Robert Alexy, Immanuel Kant e Hannah Arendt.
RESULTADOS:
Os principais resultados obtidos demonstraram que: 1) Esboçar um perfil da comunidade judaica do Estado de Santa Catarina implicou concentrar o trabalho no estudo das linguagens da religião (símbolo, mito, rito e doutrina) e da tradição interpretativa da religião, incluindo suas narrativas fundantes (textuais ou orais) e as histórias das interpretações daí advindas; 2) as influências mais relevantes das estruturas pertencentes ao judaísmo que influenciam nos institutos jurídico-sociais que hodiernamente caracterizam a sociedade brasileira, notadamente a catarinense, estão relacionadas às distintas concepções de “vida” e “dignidade humana”; 3) Em sua maioria, os judeus entrevistados são jovens e de famílias que se estabeleceram em Florianópolis/SC em busca de qualidade de vida e que se inseriram e se integraram à vida social desta cidade por meio da construção de relações e vivências estabelecidas por afinidades, resultando em uma coletividade em que a maioria dos casamentos são denominados “mistos”; 4) grande parte dos estudos concentrados na Hermenêutica do Judaísmo podem ser aperfeiçoados se submetidos aos postulados de Robert Alexy (Teoria da Argumentação Jurídica) e de Jürgen Habermas (Teoria Discursiva), culminando em um novo prisma de observações.
CONCLUSÃO:
Os resultados desse estudo apontam para o fato de que, obviamente, o enlace entre pessoas que buscam “personas” para poderem alcançar seus objetivos não se inaugura em Yentl (1983). “Crepúsculo dos Deuses” (Billy WILDER, 1950), “O Fantasma da Ópera” (Andrew Lloyd WEBBER, 1986), “Meninos não Choram” (Kimberly PEIRCE, 2001) e “A Pele em que Habito” (ALMODÓVAR, 2011) são outros filmes em que, ainda que desprovidas da temática religiosa, é possível verificar as incessantes tentativas do ser humano em incorrer na longa jornada do auto-conhecimento. O diferencial, em Yentl, além de sua abordagem – é compreender que em um lugar onde até a mente mais determinada pode ser traída pelo corpo – quais as implicações de a protagonista (que, na verdade, é uma expressão da natureza humana) manter um segredo bem guardado dos seus novos amigos e do rapaz por quem se apaixonou. E neste ponto, o questionamento de Nietzsche (Ecce Homo, 1888) é tão conclusivo quanto inquietante (e sem dúvidas, válido): o quanto é capaz de suportar uma alma?
Palavras-chave: Identidade Judaica, Yentl, Nietzsche.