64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo |
O COTIDIANO ESCOLAR E SEUS TEMPOS |
Luciana Pacheco Marques 1 Sandrelena da Silva Monteiro 2 Cristiane Elvira de Assis Oliveira 3 Bianca da Silva Toledo 4 Jucélia de Paiva Silva 5 Nathália Flórence de Oliveira Gomes 6 |
1. Professora Dra. da Faculdade de Educação e do PPGE/UFJF 2. Doutoranda em Educação do PPGE/UFJF 3. Mestranda em Educação do PPGE/UFJF 4. Aluna do Curso de Pedagogia da UFJF/Bolsista PIBIC/CNPq 5. Aluna do Curso de Pedagogia da UFJF/Bolsista PROBIC/FAPEMIG 6. Aluna do Curso de Pedagogia da UFJF/Bolsista BIC/UFJF |
INTRODUÇÃO: |
Compreendemos que o tempo não é linear como nos iludimos que seja. A teoria das estruturas dissipativas de Prigogine, postulada em 1967, revelou que a ordem pode nascer da desordem, da ordem pode nascer o caos. As questões relacionadas à química apontaram para uma discussão mais ampla – a questão das incertezas, da complexidade. As perguntas formuladas por ele eram instigantes: o tempo tem um início? Como apareceu o tempo no universo? Precisamos procurar uma outra imagem da realidade ou o que há é a materialidade das coisas e não a realidade das coisas? Se as probabilidades destronam as certezas; se, longe do equilíbrio, a instabilidade mostra-se, parece razoável supor que o futuro não está determinado. Incerteza não é o contrário da dúvida. Habitualmente temos a consciência do tempo linear (o passado: que pode ser revisitado; o presente: tomado pelo “aqui” e “agora”; o futuro: que está pronto, previsível, lugar para se chegar). Construímos essa noção a partir de uma linha temporal contínua. Com base nesses argumentos cabe um questionamento sobre o tempo cronológico tomado como base para organizar o cotidiano escolar. Esta pesquisa teve como objetivo observar os usos que os sujeitos escolares fizeram dos tempos no cotidiano escolar de uma escola municipal de Juiz de Fora/MG. |
METODOLOGIA: |
Signatárias que somos do paradigma da complexidade, que parte da ideia de que complexus é o que está tecido por diferentes fios que se transformaram numa só coisa (MORIN, 1996), optamos pela modalidade de pesquisa que vem assumindo lugar dentre as metodologias no Brasil denominada pesquisa no/do/com o cotidiano. Pesquisar o cotidiano, mergulhar nele e se envolver por ele. Na perplexidade atual é preciso pensar o todo nas partes e as partes no todo, numa perspectiva holográfica, como um caleidoscópio. A pesquisa no/do/com o cotidiano busca romper com o saber científico como saber absoluto e soberano ao valorizar as situações cotidianas como uma outra forma de saber. No cotidiano, os acontecimentos aparecem/desaparecem/reaparecem, na denominada forma rizomática, pois o mesmo se constitui num espaço da complexidade (GARCIA, 2003). Mergulhamos no cotidiano de uma escola municipal de Juiz de Fora/MG, que se mantém praticando a experiência de organização em ciclo desde o ano 2000. A escola possuía, no ano de 2011, 9 turmas das séries iniciais do Ensino Fundamental. Utilizamos como instrumentos de pesquisa a videogravação e anotações em diários de campo, durante um ano letivo, capturando os indícios (GINZBURG, 2003) sobre os usos dos tempos no cotidiano da escola. |
RESULTADOS: |
Os resultados da pesquisa foram transformados em sete crônicas: tempo da escola, tempo pedagógico, enturmação, tempo da aprendizagem, tempo da brincadeira, tempo da professora, tempo dos alunos e das alunas. Para este texto trouxemos uma síntese de nossa crônica sobre o tempo da escola. "Portões abertos. Aos poucos todos e todas vão chegando. Barulho. O sino toca e os alunos e alunas se organizam em filas para ir para as salas de aula. Está definido o horário da merenda, do recreio para cada turma. Existe uma rotina já internalizada. Existe um conteúdo a ser ensinado num tempo determinado. As aulas são divididas entre disciplinas do núcleo comum e especializadas. Tento relacionar os conteúdos para otimizar a aprendizagem. Acabo dando mais ênfase ao aprendizado da leitura e da escrita. As datas comemorativas como Dia das Mães, Semana das Crianças, entre outras, modificam a rotina escolar. Lembrancinhas, ensaios de apresentações, passeios movimentam a escola. Escola é assim. Rotina estabelecida. Quebra da rotina. A escola articula as demandas da Secretaria, da diretoria, das professoras, das funcionárias, das famílias, dos alunos e alunas, da comunidade. Portões fechados. Silêncio. De um dia para o outro tudo se repete. De um ano para o outro tudo se repete." |
CONCLUSÃO: |
O que experenciamos nesta escola é o que vimos acontecer repetidamente nos cotidianos escolares. A presença de um tempo cronometrado, onde cada professora entra para sua sala de aula no início do turno escolar ao bater o sinal e sai quando determina-se que o tempo acabou. Onde o tempo pedagógico privilegia conteúdos e os demais tempos das professoras, alunos e alunas, da brincadeira ficam latentes no cotidiano escolar. Considerando a complexidade que é a organização do tempo escolar, pode-se equacionar diferentemente o tempo, estabelecendo uma relação harmoniosa entre a cronologia do relógio e a criação. Esta faceta do nosso caleidoscópio nos convida a ousar, romper com as rotinas e inventar cotidianidades escolares que possibilitem viver outros tempos: tempo da incerteza, tempo da imaginação. Que cotidiano escolar nos permitiria viver o tempo como “tempo de criação”? Certamente um cotidiano interativo, ilimitado, flexível. Uma outra configuração escolar ainda por se fazer nas escolas, que rompam as barreiras conteudistas que homogeneízam os tempos das crianças. Uma organização tal que pense o cotidiano para todos e todas, onde as diferenças sejam consideradas. Onde o tempo escolar envolva todas as formas de conhecimento. Um cotidiano onde se viva a alegria de aprender a cada momento. |
Palavras-chave: Tempo, Cotidiano, Escola. |