63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
CONDIÇÕES E QUALIDADE DE SONO EM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM ALERTA AOS EDUCADORES
Nathália Monteiro Andraus 1
Sylvia Beatriz Joffily 2
1. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF
2. Prof.ª Dr.ª/ Orientadora - Laboratório de Cognição e Linguagem – UENF
INTRODUÇÃO:
Pesquisas em Neuroeducação pregam a importância do sono na fixação das memórias, portanto, na aprendizagem.
Embora, não seja do conhecimento da maioria dos educadores, a sonolência diurna, provocada pela má qualidade e/ou pouca quantidade de sono noturno, responde pela irritabilidade, o mau humor, a impulsividade, e, sobretudo, pela impossibilidade de adquirir e reter novos conhecimentos. Fatores diretamente relacionados às condições habitacionais, como luminosidade, barulho e temperaturas excessivas, impedindo ou prejudicando a consolidação e a manutenção do sono saudável, também não favorecem a aprendizagem.
Para se avaliar como as condições habitacionais interferem no sono, e este na aprendizagem, foram pesquisados o sono, as qualidades habitacionais e o desempenho escolar de quarenta estudantes de dez e onze anos de idade cronológica, de ambos os sexos, cursando o 5º ano do ensino fundamental do turno diurno das redes pública e privada de ensino do município de Macaé.
A relevância da pesquisa encontra-se no forte apelo para a vigília da sociedade contemporânea e nos crescentes problemas educacionais que exigem dos familiares e professores maior consciência a respeito da importância do sono no desempenho afetivo-cognitivo dos homens.
METODOLOGIA:
Foram avaliados por amostragem do tipo acidental não probabilística, quarenta estudantes de ambos os sexos, com 10 e 11 anos de idade cronológica, cursando o 5º ano do ensino fundamental, sendo vinte estudantes da rede pública e vinte estudantes da rede privada de ensino, do município de Macaé.
Para caracterizar o perfil sócio- econômico- educacional dos sujeitos elaborou-se o “Questionário de caracterização da amostra”; para avaliar o desempenho escolar utilizou-se os boletins e fichas escolares (cedidos pelas escolas); para avaliar a qualidade do sono utilizou-se, o “Questionário de sono de Reimão e Lefèvre – QRL”; e para investigar as condições habitacionais/comportamentais elaborou-se o “Questionário de caracterização espacial da moradia e de hábitos”. Os questionários semi-estruturados foram aplicados nas próprias escolas.
Um termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos responsáveis pelos sujeitos da pesquisa e pelas diretoras das escolas participantes.
RESULTADOS:
De acordo com os responsáveis, os alunos da escola apresentam mais distúrbios de sono (alterações que impedem a conciliação e a manutenção do sono) do que os da escola particular. Entretanto, em ambos os subgrupos constatou-se problemas de sono familiares, sobretudo insônia.
A maior parte dos sujeitos declarou levar de 5 a 15 minutos para iniciar o sono (tempo de latência). Este dado indicador de insônia, em escolares e adolescentes, possui freqüentemente, cunho emocional.
O apelo da sociedade contemporânea para que os indivíduos mantenham-se acordados em períodos em que, naturalmente, deveriam permanecer dormindo é fonte de grave conflito, pois opõe os padrões sociais aos biológicos, gerando desvios comportamentais como o roer unhas, constatado em vários sujeitos da pesquisa.
Embora para cada indivíduo exista um padrão de sono, o mais esperado é que os jovens de 10 e 11 anos de idade durmam pelo menos 9h durante a noite. Entretanto, a maioria dos sujeitos da pesquisa declarou dormir menos do que 9 horas de sono noturno. Quanto ao sono diurno observou-se que, ao contrário do que acontecia com os estudantes da escola particular, os da escola pública costumavam dormir 2 horas ou mais durante o dia, influenciando negativamente a arquitetura do seu sono noturno.
CONCLUSÃO:
Segundo análise etimológica, o verbo aprender significa segurar, agarrar, prender; denunciando o caráter plástico e moldável que caracteriza o sistema nervoso dos animais de sangue quente. Neste sentido, considerando-se que as mudanças neurais decorrentes da aprendizagem são fixadas durante o estado de sono, torna-se fundamental conhecer as necessidades circadianas (ciclo sono vigília) de cada aluno.
Apesar do pequeno número dos componentes da amostra, pode-se constatar que muitas crianças são obrigadas a conviver com hábitos noturnos inadequados de familiares adultos que, por ignorância ou impossibilidade, não respeitam suas necessidades psico- fisiológicas. A privação ou má qualidade do sono refletindo-se no comportamento sonolento, irritável, agressivo, desinteressado e na dificuldade de aprender é, por sua vez, mal compreendida pelos professores que os consideram irrecuperáveis. Em uma sociedade que supervaloriza a visão e o estado de vigília as queixas relacionadas ao sono e às dificuldades de aprendizagem são enormes. Espera-se que a divulgação dos resultados obtidos, embora ainda incipientes, sirva para conscientizar professores e familiares da importância de uma política educacional que leve em conta a influência dos horários e das condições de sono no rendimento escolar.
Palavras-chave: sono, aprendizagem, condições habitacionais.