63ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 3. Medicina Veterinária Preventiva
MAPEAMENTO DE ABRIGOS DE MORCEGOS HEMATÓFAGOS (Desmodus rotundus E Diphylla ecaudata) NO NORTE FLUMINENSE E SUL DO ESPÍRITO SANTO
Thiago Bernardo Pedro 1
Luiz Fernando Pereira Vieira 1
Sílvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira 2
1. Setor de Virologia e Viroses, Lab. de Sanidade Animal – CCTA / HV – UENF
2. Profa. Dra./Orientadora - Setor de Virologia e Viroses, Lab. de Sanidade Animal – CCTA / HV – UENF
INTRODUÇÃO:
A raiva é uma das mais importantes enfermidades que acometem o sistema nervoso. Possui alta letalidade e ampla distribuição geográfica, além de prejudicar a pecuária e a saúde pública. No Brasil, a doença é transmitida aos herbívoros domésticos pelos morcegos hematófagos (raiva rural). Há cerca de 150 espécies de morcegos no Brasil e apenas três espécies são hematófagas – Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi, classificadas na subordem Microchiroptera associada à transmissão da raiva rural. Habitando abrigos naturais ou artificiais, para auxiliar na sua orientação, a subordem Microchiroptera utiliza um sistema chamado ecolocalização que consiste em emitir ultrassons, ecoando no que estiver à sua frente. Esse eco é captado pelos seus ouvidos, que são muito sensíveis. Dessa forma, calculam a que distâncias estão os obstáculos e seus alimentos (Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro – SESDEC/RJ, 2008). O presente trabalho teve como objetivo mapear os abrigos de morcegos hematófagos em áreas rurais do Norte Fluminense e do Sul do Espírito Santo.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado no período de agosto de 2009 a abril de 2010, em áreas rurais de municípios pertencentes às regiões Norte e Noroeste Fluminense, e ao polo Cachoeiro no Sul do Espírito Santo. Todas eram munidas de certos materiais ou equipamentos, próprios do Setor de Virologia e Viroses – UENF: seis luvas do tipo ‘‘raspa de couro’’, resistentes à mordedura de morcegos; um puçá (passaguá); duas gaiolas de transporte, confeccionadas em alumínio; duas ‘‘redes de neblina’’ (mist nets), nas dimensões de 2,5 x 7 m; um ‘‘facão para mato’’; e um aparelho sensor geográfico de posição GPS (eTrex Vista C – GARMIN). Em nenhum dos dias programados para as saídas choveu ou ventou excessivamente (na saída para Miracema houve uma chuva fraca). Todo o procedimento a campo foi baseado na metodologia utilizada pela SESDEC/RJ (2008). Foram levantadas as coordenadas nos locais com abrigos de morcegos hematófagos, utilizando-se o aparelho sensor de GPS. Após a conexão com os satélites, o sensor de GPS calcula a localização da unidade e a salva em um arquivo.
RESULTADOS:
Na 1ª. saída a campo, para Cardoso Moreira, encontrou-se um pequeno abrigo natural, a S21o32’29,9’’ e W041o36’31,8’’, próximo à rodovia BR-356, e não houve captura. Na 2ª. saída, para Miracema, encontrou-se um abrigo artificial, em túnel concretado (para escoamento de água) sob a RJ-116, localizado a S21o19’29,1’’ e W042o07’49,1’’, e foram capturados 11 morcegos. Na 3ª. saída, para Bom Jesus do Norte, encontrou-se um abrigo artificial, em túnel sob a ES-484, a S21o06’45,8’’ e W041o40’55,6’’, e foram capturados 05 morcegos. Na 4ª. saída, para Italva, encontrou-se um abrigo natural, em propriedade privada, a S21o27’06,4’’ e W041o43’34,2’, e foram capturados 22 morcegos. Em todos os abrigos foram encontrados D. rotundus, e em um (Italva) foram encontrados também D. ecaudata. Em regiões de economia pecuária, D. rotundus vive como sinantrópico, suas populações são grandes, a alimentação depende do gado, e ataques aos humanos são raros. No ecossistema com escassa produção de gado, populações de D. rotundus são muito menores, a alimentação depende de diferentes espécies e ataques a humanos são frequentes (Delpietro & Russo, 2002). D. rotundus é o principal reservatório do vírus rábico nas áreas rurais, mas as outras espécies hematófagas também podem transmiti-lo (Franzo et al., 2007).
CONCLUSÃO:
Os morcegos Desmodus rotundus e Diphylla ecaudata no Norte Fluminense e no Sul do Espírito Santo convivem de forma saudável em abrigos naturais ou artificiais que sejam afastados de áreas urbanas ou comunidades humanas. Apesar disso, D. rotundus e D. ecaudata preferem habitar locais próximos a rodovias movimentadas. Quanto à preferência dos morcegos estudados por abrigos próximos a rodovias, é possível observar que os túneis concretados apresentam condições de vida ideais para os morcegos (pouca luminosidade, alto grau de umidade, etc.). Há maior adaptação dos D. rotundus às regiões pesquisadas, do que as outras espécies de morcegos hematófagos. É preciso que haja mais estudos sobre mapeamento de abrigos de morcegos hematófagos nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, visto que, estes morcegos são os principais transmissores da raiva em áreas rurais.
Palavras-chave: Lyssavirus, Raiva, Controle epidemiológico.