63ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 3. Medicina Veterinária Preventiva
Anticorpos contra vírus do grupo da língua azul em caprinos e ovinos do sertão de Pernambuco e inferências sobre sua epidemiologia em regiões semi-áridas
Iagmar Oliveira Mota 1
Sylvana Pontual Alencar 1
Zélia Inez Portela Lobato 2
Tércya Araújo Silva 1
Sérgio Alves do Nascimento 1
Roberto Soares Castro 3
1. Depto Med. Veterinária da UFRPE
2. Depto Med. Veterinária Preventiva da UFMG
3. Prof. orientador Depto Med. Veterinária da UFRPE
INTRODUÇÃO:
A Língua Azul (LA) é uma doença infecciosa, não contagiosa, de ruminantes, causada pelo vírus da LA (VLA), que é membro do gênero Orbivírus, família Reoviridae, e apresenta 24 sorotipos. O VLA é transmitido por insetos hematófagos do gênero Culicoides, que se infectam ao se alimentarem em animais virêmicos e passam a eliminá-lo por meio da saliva. Assim, a distribuição geográfica da LA está condicionada a uma complexa interação entre o vírus, o vetor e o hospedeiro, fortemente influenciada por fatores ambientais, sobretudo temperatura e precipitação pluviométrica.
A LA esta presente na África, Ásia, Austrália, Europa, Américas e várias ilhas tropicais e subtropicais. No Brasil a ocorrência da LA em foi relatada em1978. Levantamentos sorológicos realizados em diversas regiões do país demonstraram que o VLA está se difundindo silenciosamente pelo país, visto que são poucos os relatos de casos clínicos. Trabalhos sobre a epidemiologia da LA em condições tropicais semi-áridas são escassos. Este trabalho foi conduzido com o objetivo de estimar a prevalência de anticorpos contra o VLA em caprinos e ovinos no sertão do Estado de Pernambuco e avaliar, preliminarmente, as condições climáticas para a manutenção de Culicoides em ambientes tropicais semi-áridos.
METODOLOGIA:
O inquérito sorológico foi conduzido por amostragem probabilística em duas mesorregiões do estado de Pernambuco (Sertão Pernambucano e Sertão do São Francisco), onde foram colhidas amostras de 41 criações de caprinos e 40 de ovinos. O número de amostras (n) foi calculado com auxílio do programa Epi-info, considerando-se: p - prevalência esperada (50%); z - fator determinante do grau de confiança de 95%; e d - erro amostral (5%p). Assim, obteve-se n igual a 384 amostras. Em cada criação foram escolhidas aleatoriamente sete matrizes, um reprodutor e dois animais jovens (ainda não em idade reprodutiva).
Foram obtidas informações sobre as principais variáveis climáticas (precipitação pluviométrica, temperaturas máxima e mínima) que interferem na dinâmica da população e competência dos Culicoides para transmitir o vírus, correspondentes a uma série histórica de 30 anos, de todos os municípios amostrados.
As amostras de sangue foram colhidas no período de novembro de 2007 a fevereiro de 2008. Para detecção de anticorpos contra o VLA foi utilizada a imunodifusão em gel de ágar (IDGA) com antígeno grupo espécifico, produzido na Escola de Veterinária da UFMG.
As freqüências foram comparadas por meio da prova de Qui-quadrado ou Exata de Fisher, com auxílio do programa Epi-info.
RESULTADOS:
Animais soropositivos à IDGA foram encontrados em 24,4% (11,2≤p≤37,5) das criações de caprinos e em 27,5% (13,7≤p≤41,3) de ovinos distribuídas nas mesorregiões do Sertão, que apresentou 4,8% (2,5≤p≤7,5) de caprinos e 4,1% (1,8≤p≤6,4) de ovinos, e do São Francisco, 1,0% (0,0≤p≤2,9) de caprinos e 4,5% (0,6≤p≤8,4) de ovinos soropositivos. A prevalência estimada foi de 3,9% (2,0≤p≤5,8) e 4,2% (2,3≤p≤6,2) para caprinos e ovinos, respectivamente. Não houve diferenças significativas entre mesorregiões, espécies e categorias (P>0,05). Ficou bem caracterizado um período de chuvas, de dezembro a maio, e um seco, de junho a novembro. A presença de animais soropositivos para o VLA distribuídos homogeneamente entre os rebanhos e mesorregiões, evidencia que existem condições favoráveis à manutenção do vírus no semi-árido. No Brasil, observa-se que há áreas onde existem condições para multiplicação continua dos Culicoides e áreas que apresentam períodos desfavoráveis à sua multiplicação, como o semi-árido nordestino. Neste caso, esperava-se baixa prevalência da LA, como foi observado. O risco de surtos, entretanto, dependeria de mutações e da introdução de tipos do VLA de alta virulência e de modificações das condições ambientais que fossem mais favoráveis à multiplicação dos vetores.
CONCLUSÃO:
A prevalência de caprinos e ovinos soropositivos ao VLA no Sertão pernambucano é baixa.
Considerando-se a importância social e econômica da pecuária caprina e ovina para o semi-árido, é essencial como medida preventiva, o controle de importações de ruminantes para essas áreas, a fim de evitar introdução de amostras ou tipos do VLA de alta virulência, já que existem 24 sorotipos do VLA. Isto não deve ser negligenciado, pois as conseqüências da LA são imprevisíveis, a exemplo do que está ocorrendo atualmente no continente europeu, onde, contrariando o que classicamente estava estabelecido quanto à epidemiologia da LA, caprinos e ovinos têm apresentado alta letalidade e bovinos também têm sido afetados com quadros severos, devido a infecção pelo sorotipo 8 do VLA.
Palavras-chave: Lingua azul, Epidemiologia, Brasil.