63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E OCUPACIONAL DOS COLETORES DE UVA DO VALE DO SÃO FRANCISCO
Camilla Reis Ramos Dantas e Dantas 1
Laiara Márcia Guimarães Santos 1
Ionara Magalhães de Souza 1
Thalles da Costa Lobê Pereira 1
Auxiliadora Rene de Melo Amaral 2
Ana Cláudia Conceição da Silva 3
1. Depto. de Saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Núcleo de Estudo e Pesquisa em Saúde do Trabalhador - NEST
2. Depto. de Saúde, Universidade de Pernambuco - UPE
3. Profª. Doutoranda/Orientadora - Depto. de Saúde, UESB, NEST
INTRODUÇÃO:
O trabalho exprime o modo pelo qual o homem adquire a subsistência, relaciona-se e se estabelece econômica, social e culturalmente. Contudo, a depender do tipo de trabalho, do ambiente e da forma organizacional, o trabalho tende a tornar-se elemento potencial de adoecimento. Acredita-se que trabalhar em condições precárias, com contrato temporário, baixos salários e escassos benefícios, alta produtividade, falta de reconhecimento e valorização profissional favoreça o sofrimento físico e mental da população trabalhadora. Os trabalhadores rurais, frequentemente, encontram-se expostos a diversos fatores de risco que podem levar ao adoecimento, como a exposição solar, uso de agrotóxicos, falta de equipamentos de proteção individual, falta de autonomia e valorização profissional. Nesta perspectiva, o desvelamento das condições de trabalho constitui-se medida de prevenção de possíveis agravos relacionados à saúde do trabalhador. O presente estudo teve por objetivo traçar o perfil sociodemográfico e ocupacional dos coletores de uva do Vale do São Francisco.
METODOLOGIA:
Estudo descritivo, de corte transversal, cuja população foi composta por 80 trabalhadores coletores de uva, de cinco propriedades do Vale do São Francisco, situadas nas cidades de Petrolina (PE) e Casa Nova (BA), nordeste brasileiro. A coleta de dados transcorreu na safra de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011, realizada através de entrevistas, utilizando um instrumento com três blocos, contendo questões relativas aos aspectos sociodemográficos (idade, sexo, etnia, estado civil, renda, escolaridade), variáveis relativas ao estilo de vida (consumo de bebida alcoólica, hábito de fumar, prática de exercícios físicos), variáveis ocupacionais (ocupação, turno de trabalho, se sindicalizado, jornada de trabalho diária, carga horária semanal, uso de equipamentos de proteção individual e ambiente de trabalho). As variáveis de interesse foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas. A análise de dados foi realizada por meio do software Microsoft Office Excel 2007® e EpiInfo Versão 6.04®. O estudo atendeu à resolução 196/96, autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
RESULTADOS:
Foram estudados 80 trabalhadores coletores de uva. O sexo masculino representou 70% e o feminino 30%, sendo a média de idade de 32,2±9,9 anos. Observou-se que 62,5% eram casados; 46,3% tinham renda familiar de até 1 salário mínimo, 36,3% de 1 a 2 salários mínimos; 43,8% não completaram o ensino fundamental. Cerca de 13,8% eram de Petrolina e 7,5% de Juazeiro. Em relação ao estilo de vida 33,8% afirmaram consumir bebida alcoólica, 21,5% tinham o hábito de fumar e 33,8% a prática regular de exercícios físicos. Quanto às características ocupacionais, em geral trabalhavam numa carga horária de 8 horas/dia e 44 horas/semanais; 60,5% eram sindicalizados e 97,5% referiram usar equipamentos de proteção individual. Os achados revelam predominância de trabalhadores do sexo masculino, casados, renda baixa, nível de escolaridade baixo, significativo consumo de bebida alcoólica, jornada de trabalho semanal com carga horária limite, assim como possuíam relação com instituição de controle social e utilizavam recurso de proteção a saúde. A maioria dos trabalhadores está em faixa etária produtiva, parcela expressiva da população trabalhadora, achado revelado por outros estudos em grupos ocupacionais, assim como o nível de escolaridade e renda baixo, frequente em população de trabalhadores rurais.
CONCLUSÃO:
Nesta perspectiva, o trabalho é compreendido como possível determinante do processo saúde-doença. Dentre os determinantes da saúde, estão compreendidos não apenas os fatores de risco ocupacionais, mas também os condicionantes sociais – má condição de vida e baixa escolaridade, os econômicos – remuneração inadequada, e os culturais – estilo de vida, consumo de bebida alcoólica e hábito de fumar que são potenciais fatores de risco à saúde. O exercício do trabalho, as condições ocupacionais, por vezes, impõe a necessidade de reorganização do trabalho quando as questões de invisibilidade suprimem a dignidade do trabalhador. O binômio saúde-trabalho envolve aspectos que incluem agravos, desgastes físicos e psicológicos, necessidade de prevenção e proteção social do trabalhador. Conhecer o perfil sociodemográfico e ocupacional dos trabalhadores expõe o lado humano do trabalho, a subjetividade intrínseca das condições de trabalho e estabelece uma forma de traçar novos paradigmas, buscar formas de proteção, de prevenção e assistência à saúde, condições favoráveis de vida e trabalho para a população trabalhadora rural.
Palavras-chave: Saúde do trabalhador, Agricultura, Condições de trabalho.