63ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
ESTIMATIVA DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS POR DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NA REGIÃO SUL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Mariane Martins Azevedo 1
Raul Cléverson Dolores 1
Camila Fernades Mari 1
Vagner Tebaldi de Queiroz 2
Adilson Vidal Costa 2
1. Depto de Zootecnia- Centro de Ciências Agrárias da UFES
2. Prof. Dr./Orientador- Depto de Zootecnia- Centro de Ciências Agrárias da UFES
INTRODUÇÃO:
O uso e a ocupação do solo refletem na poluição ambiental de corpos aquáticos de determinada região. Quando pesticidas são aplicados, particularmente na agricultura, as águas, sejam superficiais ou subterrâneas, são os principais destinos destes produtos (RIBEIRO,2007).
Embora o monitoramento ambiental forneça dados sobre a qualidade das águas de um recurso hídrico, a diversidade de ingredientes ativos de pesticidas utilizados nas práticas agrícolas oneram o custo e o tempo para a realização de análises laboratoriais nestes programas (RIBEIRO,2007)(SPADOTTO et al,2004). A análise das propriedades físico-químicas dos agrotóxicos usados representa uma alternativa para a identificação de ingredientes ativos com risco de contaminação das águas e, conseqüentemente, para seleção de quais devem ser priorizados em análises de laboratório (GOSS,1992)(COHEN et al ,1995).
Para analisar o risco de contaminação das águas subterrâneas, normalmente, são utilizados os critérios propostos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA)(COHEN et al,1995) ou o índice de GUS (GUSTAFSON,1989).
No presente trabalho, objetivou-se analisar o risco de contaminação de águas subterrâneas em função dos defensivos agrícolas utilizados na região cafeicultora da Bacia Hidrográfica do Rio Alegre, ES.
METODOLOGIA:
A definição da região de estudo foi feita em função do uso do solo em áreas incluídas na bacia do Rio Alegre, onde há predominância da cafeicultura com uso intensivo de agrotóxico. O levantamento dos produtos utilizados na cafeicultura e a época de aplicação dos mesmos foi obtido por meio de entrevistas com os cafeicultores. A identificação dos princípios ativos, da classe química e das classificações toxicológica e ambiental dos produtos utilizados foi realizada mediante consulta ao AGROFIT. As propriedades físico-químicas (constante de Henry-KH, coeficiente de adsorção à matéria orgânica do solo-Koc, solubilidade em água, t½ vida na água - DT50 água e t½ vida no solo - DT50 solo) dos ingredientes ativos foram obtidas a partir de consulta ao banco de dados FOOTPRINT. O programa AGROSCRE (GODINHO et al, 2009) foi utilizado para realizar a análise de risco a partir do índice de GUS e dos critérios da EPA. O índice de GUS foi calculado com base nos valores de DT50 solo e do Koc. Para determinação do índice da EPA foram usados os valores de solubilidade em água, Koc, KH, DT50 solo, DT50 água e as condições de campo que favorecem a percolação no solo, entre elas: pluviosidade anual de 1.417,5 mm, inexistência de aqüífero não confinado e presença de solo poroso na região de estudo.
RESULTADOS:
A análise do potencial de contaminação de águas subterrâneas revelou que os defensivos agrícolas contendo os ingredientes ativos 2,4-D, Tiametoxam, Triazofós, Picloram, Diuron, Flutriafol, Ciproconazol, Azoxistrobina, Tebuconazol e Epoxiconazol apresentam potencial de contaminação, atendendo tanto aos critérios da EPA quanto ao índice de GUS. As substâncias químicas acima mencionadas representam 52,63% dos ingredientes utilizados na cafeicultura regional.
A região da Bacia Hidrográfica do Rio Alegre prova relevo bastante ondulado e montanhoso. A sua hidrografia apresenta drenagem densa, diversificada e influenciada pela geologia e topografia do local, com a presença de cursos d’água e de áreas com declividade acentuada, correspondendo, respectivamente, à 14,60% e 24,66% da área total da Bacia (GODINHO et al, 2009). A cafeicultura ocupa 10,02% da área delimitada pela Bacia (NASCIMENTO et al,2006). Nesta região, quase toda a população rural é abastecida por água subterrânea e a maioria dos poços está em situação irregular, possui problemas construtivos e carece de manutenção (NEVES et al, 2008). As características supracitadas e os resultados encontrados evidenciam o risco de contaminação ambiental da região e, consequentemente, o comprometimento da saúde da população do entorno.
CONCLUSÃO:
As características da região de estudo (cursos d’água e poços artesianos, relevo com declividade acentuada, baixo teor de matéria orgânica do solo, alto índice pluviométrico e aplicação de defensivos agrícolas na estação quente/chuvosa) descrevem um cenário favorável à contaminação de poços artesianos. Os resultados enfatizam a necessidade da revisão dos agrotóxicos empregados na cafeicultura praticada na região da Bacia do Rio Alegre bem como a implantação de programas de monitoramento da qualidade das águas priorizando os ingredientes ativos com maior risco de contaminação das mesmas.
Palavras-chave: Cafeicultura, Agrotóxicos, águas subterrâneas.