63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Lingüística Histórica
HIPOSSEGMENTAÇÃO CLÍTICA NOS DOCUMENTOS INÁBEIS PORTUGUESES E BRASILEIROS
Joao Henrique Silva Pinto 1
Cristiane Namiuti-Temponi 2
Jorge Viana Santos 3
1. Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
3. Prof. Dr./co-Orientador – Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
INTRODUÇÃO:
Os manuscritos de época têm um grande alcance testemunhal da língua que se falava, por isso, muitos autores ressaltam a importância das fontes judiciais para o conhecimento da história da língua. Apresentaremos neste trabalho resultados do subprojeto de pesquisa “A colocação dos clíticos na escrita inábil portuguesa e nos documentos oitocentistas brasileiros” desenvolvido no âmbito do projeto “Textos e Gramáticas: O fronteamento de constituintes no corpus Tycho Brahe: à procura do Português Médio em textos sintaticamente anotados – Fase II”, e em parceria com o projeto “Memória Conquistense: Recuperação de Documentos Oitocentistas na Implementação de um Corpus Digital”. Procuramos observar pistas sobre o direcionamento da cliticização como uma possível preferência de amalgamas à esquerda ou a direita a depender do contexto sintático e da nacionalidade do documento, se português ou brasileiro. Espera-se encontrar maior incidência de amalgamas com bases à esquerda para os clíticos do português europeu (deume / queme deu), e à direita para os clíticos dos documentos brasileiros (medeu).
METODOLOGIA:
A presente proposta teve origem no projeto de iniciação científica SILVA-PINTO, NAMIUTI e SANTOS (2010) no qual iniciamos o trabalho com os corpora de documentos notariais portugueses e brasileiros. Para os textos portugueses utilizamos as cartas de denúncia da Inquisição portuguesa, disponíveis no Corpus Tycho Brahe, já transcritas e editadas por Rita Marquilhas (Universidade de Lisboa). As cartas de denúncia possuem um potencial valor lingüístico e foram, em sua maioria, escritos no século 17. Para os textos brasileiros investimos na transcrição de cartas de alforria oitocentistas pertencentes ao banco de textos do corpus DOViC. Após a transcrição das cartas e reportação dos manuscritos transcritos do corpus DOViC para o meio digital, levantamos os dados de variação de grafia, opondo os tipos de variação encontrada nos textos portugueses aos tipos atestados nos textos brasileiros, quantificamos estes dados agrupando-os por contexto, por texto e por corpus. E para a reflexão a que nos propomos na seqüência foi feita a descrição e catalogação dos casos com hipossegmentação envolvendo clíticos desses corpora.
RESULTADOS:
Comparando a hipossegmentação clítica, isto é, falta de inserção de branco gráfico entre unidades separáveis, no caso o verbo (ou outra palavra) e o clítico, os dados demonstraram que há diferença entre a preferência de amálgama considerando a nacionalidade do documento. Quando o texto é de nacionalidade portuguesa, o clítico tende a se juntar à palavra a sua esquerda, normalmente o verbo com um clítico em posição enclítica, (no nosso conjunto de textos portugueses nenhum clítico foi detectado amalgamado a outra palavra que não um verbo). Por outro lado, os dados dos textos de origem brasileira demonstraram que a preferência de amálgama é à direita, resultando normalmente em clítico-verbo, nos casos de próclise verbal, e, nos casos de ênclise ao verbo aparece casos que revelam a preferência de manter o clítico junto da palavra à direita, como mostra o exemplo extraído do corpus DOViC: epoderá gosar desua liberdade como sedeventre livre nascesse goardando metodo o respeito, egratidões. Pode-se perceber que o clítico “me”, mesmo em contexto de ênclise, está amalgamado à palavra “todo” à sua direita.
CONCLUSÃO:
Concluindo, tanto os dados do corpus Mãos Inábeis quanto os dados do corpus DOViC possuem quantidade significativa de dados envolvendo a hipossegmentação clítica. No entanto, há diferenças entre a direção da cliticização/amálgama a depender da “nacionalidade do documento” - se é português ou brasileiro. Nos textos portugueses, os clíticos se encontram amalgamados aos verbos à sua esquerda, já nos brasileiros, os clíticos podem aparecer amalgamados tanto a verbos como a outras palavras sempre à direita.
Palavras-chave: Clítico, Escrita inábil, Hipossegmentação.