63ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 14. Engenharia
ANÁLISE DO NÍVEL DE CONTAMINAÇÃO MERCURIAL DE SEDIMENTOS DA VAZANTE DO LAGO DO GARIMPO DESATIVADO DE SERRA PELADA – PA
Rita de Cássia Bila Quezado 1
Ana Luiza Coelho Braga 1
Jordan Pacini Resplandes 1
Vinicius da Silva Moreira 1
Reginaldo Sabóia de Paiva 2
Raul Nunes de Carvalho Júnior 3
1. Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente, FEMMA, Marabá/ PA - UFPA
2. Prof. Dr./Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente, FEMMA, Marabá/ PA - UFPA
3. Prof. Dr./ Orientador - Depto de Engenharia Química, UFPA, Abaetetuba/PA
INTRODUÇÃO:
Há algumas versões para a descoberta da Serra Pelada, sudeste do Pará, dentre elas a mais difundida é a da compra, por um comerciante de grandes quantidades de ouro de garimpeiros advindos de uma região de serras sem vegetação, que espalhou essa notícia em Marabá-PA (Mathis, 1995). A forma mais barata de se concentrar o ouro é utilizando o mercúrio, sendo o custo do seu quilograma o mesmo que o de um grama de ouro (Trindade e Barbosa, 2002 apud. Veiga e Fernandes, 1990). Segundo Pfeiffer e Lacerda, 1988, para cada 1 Kg de ouro produzido, cerca de 1,3 Kg de mercúrio são perdidos para o meio ambiente, sendo que 55 a 65% são lançados à atmosfera e o restante se direciona aos rejeitos e rios. A importância do estudo da contaminação mercurial em sedimentos se baseia no entendimento do potencial de disseminação da contaminação e toxicidade para outras regiões. (Gonçalves, 2007). Uma vez presente no sedimento e dependendo das características bióticas e abióticas o mercúrio elementar pode ser metilado e assimilado pela biota. (Yallouz, 1997). Devido à grande quantidade de mercúrio utilizada na região da Serra Pelada nas décadas de oitenta e noventa no Pará, época que o garimpo encontrava-se em atividade, vê-se a relevância do estudo dos níveis de contaminação da área em questão.
METODOLOGIA:
Foram coletadas 10 amostras de sedimentos utilizando tubos de PVC a uma profundidade de 20 cm, cada amostra pesando em média 500 g. Optou-se por realizar amostragens no transcorrer do curso d’água e para escolha dos locais a serem amostrados foram adotados os seguintes critérios: a) os pontos SD-1, SD-2 e SD-3 se localizam em uma pequena bacia, onde a água transcorre lentamente, propiciando a deposição de metais pesados, além de se encontrar próxima ao lago; b) os sedimentos SD-4 e SD-5 são pontos onde há coleta de água por uma residência; c) toda a água vinda do lago se junta à água utilizada na garimpagem, portanto para avaliar o nível de contaminação antes e depois dessa junção, foi coletada uma amostra SD-6 antes e as amostras SD-7, SD-8, SD-9 e SD-10 depois da tal junção. Foram condicionadas em sacos plásticos colocados em caixa de isopor a baixas temperaturas e transportadas à Universidade Federal do Pará em Marabá-PA, onde se realizaram as análises. Após a secagem à temperatura ambiente as amostras foram peneiradas e homogeneizadas. A determinação do mercúrio foi realizada pelo método Allegra, detecção semi quantitativa de mercúrio para amostras ambientais. O método consiste no pré tratamento das amostras com água régia, levadas ao sistema de aquecimento e determinação.
RESULTADOS:
Os sedimentos analisados apresentaram valores de mercúrio superiores aos recomendados pela legislação, sendo esses valores consideravelmente altos comprovando a contaminação da área avaliada. Todas as 10 amostras de sedimentos coletadas apresentaram concentrações de mercúrio acima do valor permitido pela resolução 420 do CONAMA (2009), que estabelece as diretrizes de qualidade de solos no Brasil e estipula para Hg valores de prevenção (0,5 mg/kg). Nos pontos de coleta próximos ao lago SD-1, SD-2 e SD-3 foram encontrados altos teores de Hg, sendo > 2000ppm, entre 100-300ppm e 300-500 respectivamente. A detecção de teores de Hg acima de 2000ppm nos pontos SD- 4 e SD-5 é preocupante, em função da toxicidade do metal, pois essas amostras foram recolhidas onde há coleta de água por uma residência. Em relação aos pontos SD-6, SD-7, SD-8, SD-9 e SD-10 coletados na junção do lago com a água utilizada na garimpagem foi detectado maior teor de contaminação no ponto SD-6 > 1000ppm, enquanto os demais apresentaram teores menores, contudo acima dos valores aceitáveis de prevenção, < 100ppm e entre 100-300ppm. As atividades de garimpo de ouro na região da Serra Pelada foram desenvolvidas por meio da amalgamação do mercúrio, o que provavelmente deu origem à contaminação na área identificada.
CONCLUSÃO:
Os sedimentos apresentaram valores de mercúrio acima do valor permitido por lei para solo, comprovando a alteração química desse meio. A contaminação gerada vai muito além de regiões próximas ao garimpo desativado, os rios transportam o mercúrio para outras regiões, afetando outras populações e ecossistemas, favorecendo o processo de bioacumulação. Uma vez presente no sedimento, o mercúrio torna-se biodisponível à ação de bactérias e outras formas de metilação transformando o mercúrio metálico em metil-mercúrio, forma mais importante de contaminação do ambiente. Se alimentando de algas e plantas, os peixes são contaminados pelo metil-mercúrio, podendo contaminar posteriormente quem se alimenta deste pescado. Este seria um grande problema às populações ribeirinhas que tem o peixe como base de sua alimentação. Os danos a saúde são irreversíveis, afetando o sistema nervoso central. Vários autores atestam uma elevada concentração de mercúrio em peixes do lago da hidrelétrica de Tucuruí-PA, sendo resultado do transporte desse metal por dezenas de rios próximos a garimpos, que deságuam no rio Tocantins, no qual a hidrelétrica está instalada. Pela persistência ambiental, efeito cumulativo e elevada toxicidade sugere- se que todas as fontes de emissão de mercúrio sejam minimizadas.
Palavras-chave: Contaminação, Mercúrio, Serra Pelada-PA.