63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
AS PROPOSTAS DE GESTÃO DO CAPITAL DOS INTELECTUAIS LIGADOS À INDÚSTRIA NO BRASIL (1930-1937)
Rodrigo Oliveira de Araújo 1
João Alberto da Costa Pinto 2
1. FH - UFG
2. Prof. Dr./ Orientador - FH - UFG
INTRODUÇÃO:
O objetivo deste trabalho é o estudo das propostas de gestão do capital feita pelos gestores brasileiros ligados à indústria no período de 1930 a 1937. Este período corresponde ao momento anterior à formação do Estado Novo (1937-1945) e sua importância consiste na possibilidade de elucidar qual a real participação destes industriais na constituição do regime político pós 1937 e em que medida o Estado se moldou em relação às suas demandas.
O Brasil do início do século XX é um espaço marcado por profundas transformações em seu arranjo de classe. O crescimento das cidades - com a consequente criação de uma extensa rede burocrática e de serviços - marca a ascensão da Classe dos Gestores, que carrega consigo um novo leque de práticas, e que irá atuar junto à sociedade e ao Estado.
Neste contexto assiste-se ao surgimento de várias instituições corporativas e o exemplo máximo é o da formação da CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Esta instituição foi encabeçada pelo industrial Roberto C. Simonsen e enquanto corporativa atuará em dois níveis distintos: no nível de governo, procurando garantir sua autonomia de gestão do processo produtivo e de acumulação de capital; no nível da produção capitalista, garantindo a introdução de novos métodos de trabalho mais produtivos.
METODOLOGIA:
Metodologicamente utilizam-se duas referências principais, o linguista russo Mikhail Bakhtin e o escritor português João Bernardo. Bakhtin estrutura a análise dos discursos contidos nas fontes e Bernardo norteia a compreensão do contexto de disputas entre as classes sociais. Para Bakhtin os discursos não podem ser entendidos enquanto mera expressão de estruturas psicológicas e subjetivas, mas enquanto formas pelas quais o contexto social é interpretado pelos agentes em sua disputa sobre o todo social. De outro lado, Bernardo distingue na sociedade capitalista a existência de três classes sociais: a trabalhadora, a burguesa e a dos gestores. A especificidade desta última consiste em atuar diretamente sobre as Condições Gerais de Produção, que seriam os meios necessários para integração do sistema produtivo. Distingui-a assim da classe burguesa, que se caracteriza pela simples propriedade privada dos meios de produção.
Norteado por tais autores é que se estruturou o estudo das fontes, tais como As Crises no Brasil de 1930 em LIMA, H. F. 3 Industriais Brasileiros: Mauá, Rui Barbosa e Roberto Simonsen. São Paulo: Alfa-Omega, 1976; e Ordem Econômica e Padrão de Vida de 1934 em CARONE, E. A Segunda República. São Paulo: Difel, 1973, ambos os textos de autoria de Roberto Simonsen.
RESULTADOS:
No estudo verificou-se a especificidade das propostas dos gestores ligado à industria. Em Simonsen é explicito o objetivo do aperfeiçoamento Condições Gerais de Produção, pressionando o Estado, através de seus discursos, com a finalidade de viabilizar a construção de infraestrutura de comércio e circulação, para a articulação de um sistema financeiro eficiente, bem como a construção de um sistema educacional. Estas medidas visavam o aumento de produtividade, caracterizando assim a peculiaridade da atuação de sua classe.
Porém a especificidade do caso estudado consiste em sua ligação direta com a burguesia proprietária dos meios de produção, fazendo com que preferissem que o Estado atuasse de forma indireta sobre o aumento da produtividade. Deste modo objetivavam a não interferência deste agente sobre os seus próprios negócios, evitando com isto a projeção do Estado enquanto ator concorrente nas relações internas de dominação e exploração. Como alternativa preferiam que o Estado atuasse de forma a realocar recursos para sua atividade, que posteriormente seria gerida com autonomia pelos próprios gestores das indústrias.
CONCLUSÃO:
Com base no que foi pesquisado e considerando os objetivos da pesquisa, pôde-se verificar que a especificidade da atuação dos gestores ligados à industria fez com que este agentes preferissem a atuação indireta do Estado em relação às suas demandas.
Para realizar tal empreita de realizar o objetivo industrialista, foi necessário dar cobro à dispersão dos industriais e aglutiná-los. Neste momento que é criada a CIESP, que será a instituição corporativa dos industriais.
Na década de 1930 o Estado aparecia enfraquecido pelas disputas que ocorriam na sociedade, passando a depender ainda mais do sistema produtivo, o que o levou a incorporar este tipo de instituição em suas instâncias. Com este objetivo passou a criar órgãos técnicos que regularam a atividade estatal durante o período do Estado Novo (1937-1945). Este é precisamente o local onde a CIESP atuou. Pois enquanto órgão corporativo agiu ao mesmo tempo organizando seus quadros ideologicamente e pressionando para a criação deste espaço institucional. Com isto garantiu a execução de seus objetivos, de unidade de atuação e de ascensão ao Estado. Assim compreende-se que os gestores da indústria atuaram decisivamente para a instauração e legitimação de práticas corporativistas no Brasil, acarretando no fortalecimento do Estado.
Palavras-chave: Industriais, Classe dos Gestores, Corporativismo.