63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 9. Educação Permanente
CÍRCULO DE CULTURA: ESPAÇO CONSTITUIDO PELA HORIZONTALIDADE DE SABERES
Maria da Conceição Neves Silva 1
Marília Gabriela de Menezes Guedes 2
Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga 3
Janaína Regina Paixão Leite 4
1. Pesquisadora da Cátedra Paulo Freire/UFPE
2. UFPE
3. UFPE
4. UFPE
INTRODUÇÃO:
A existência humana se constitui do desejo de transformar, decidir, criar, recriar, dialogar (FREIRE, 1982), ou seja, de fazer cultura, cultura realizada a partir do envolvimento com o outro. É na feitura desse enlace coletivo criador e transformador de fazer o que ainda não foi feito, projetando-se e intervindo no/com mundo, que sujeitos percebem-se inacabados e anseiam construir suas histórias. É na “roda de conversa”, que as pessoas, através da fala e da escuta, pedra angular do Círculo de Cultura, trocam saberes, experiências, ensinam/aprendem, discorrem sobre as situações vivenciadas nas diferentes dimensões do seu cotidiano, sobre a maneira de ser e de viver (BRANDÃO, 2005). Assim sendo, a dialogicidade torna-se o “selo do conhecimento.” Nessa direção, a pesquisa fundamenta-se na compreensão de que o respeito e a liberdade são elementos constituidores do despertar da consciência crítica, que não prescinde da leitura da realidade em que se vive. Seu objetivo é identificar quais significações resultaram das problematizações geradas pelos participantes do Círculo de Cultura, que teve como temática de estudo Educação e Cultura, vivenciado no VII Colóquio Internacional Paulo Freire, realizado pelo Centro Paulo Freire – estudos e pesquisas, na UFPE no ano de 2010.
METODOLOGIA:
O estudo, de natureza qualitativa, realizou-se através de observação participante. Para alcançar o objetivo proposto, foram vivenciadas quatro fases. A primeira fase constou de encontros de estudo e preparação de todos os coordenadores que atuariam nos diferentes círculos de cultura. A segunda fase consistiu em reuniões para traçar as estratégias e organizar os materiais necessários ao desenvolvimento da vivência teórico-prática de base freireana no Círculo Educação e Cultura, pelas autoras do trabalho. A realização da terceira fase - vivência da metodologia propriamente dita - ocorreu em seis distintos momentos: dinâmica para a criação de vínculos entre os participantes; leitura e discussão da proposta do encontro para eventuais modificações que deveriam ser acordadas entre todos; elaboração e apresentação de questões com relação ao eixo temático “Educação e Cultura”; planejamento para o diálogo das aprendizagens e proposições de cada pequeno círculo; articulação final, a partir da produção de uma síntese criativa do trabalho realizado; avaliação colaborativa, por meio de palavras geradoras que expressassem o significado daquele encontro para os diferentes participantes. A quarta fase constou da análise dos elementos constituidores da relação educação-cultura.
RESULTADOS:
A roda de diálogo teve início a partir da inquietação, surgida no grupo, a respeito do significado de cultura, expressa pela questão: Por que, mesmo no universo da educação, a ideia de cultura ainda se limita ao campo das artes? Considerações surgidas no grupo ampliaram o entendimento de cultura, compreendendo-a como: elemento da formação do sujeito, carreando para a escola um papel fundamental; educação e cultura não podem ser dicotomizadas, pois estão dialeticamente interligadas, mediadas por um processo de conscientização do sujeito, ao problematizar o seu mundo, não aceitando a inexorabilidade da realidade. A intervenção dos coordenadores foi direcionada no sentido de buscar no pensamento freireano a compreensão de cultura. Segundo Paulo Freire, é a partir das relações do homem com a realidade, que ele “Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Faz cultura (FREIRE, 1991, p. 51). A partir dos elementos constituidores do pensamento de Paulo Freire, o grupo avançou no sentido de compreender que a cultura não se restringe ao âmbito das artes e nem ao passado, cabendo aos diferentes sujeitos dos espaços escolares/não escolares ampliar a visão da cultura, pois trata-se de um conceito dinâmico, polissêmico e multifacetado.
CONCLUSÃO:
O diálogo vivenciado no Círculo de Cultura sobre Educação e Cultura contribuiu para que todos os participantes ressignificassem suas compreensões a respeito da temática em foco, avançando no sentido de perceber que se o ser humano é produtor de cultura, caberá aos educadores progressistas reconhecerem o outro como sujeito e protagonista da história, estabelecendo uma profícua relação de fala-escuta. Foi evidenciada a necessidade de, cada vez mais, aprendermos em diálogo com o outro, compreendendo a realidade em que vivemos, para prosseguirmos na luta e labuta pela transformação e emancipação de nós, como gente, e da sociedade, âncora em que o coletivo se estabelece. O valor da experiência vivida por cada integrante foi socializado verbalmente, pelas palavras: esperança, vontade, partilha, luta, compromisso, releitura, reflexões, aprendizado, diálogo, inquietação, teimosia, alegria aplicabilidade, desafios, acolhimento, construção de saberes.
Palavras-chave: Círculo de Cultura, Saberes Coletivos, Dialogicidade.