63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 7. Planejamento Urbano e Regional - 3. Serviços Urbanos e Regionais
Áreas verdes urbanas: dilemas e contradições do Projeto Parque de Madureira, Rio de Janeiro.
LAERTE COSTA SILVA 1,2,3
1. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional- IPPUR/ UFRJ
2. Departamento de Geografia- UFF
3. Faculdade de Serviço Social- FSS/ UERJ
INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta parte dos resultados obtidos pela monografia “Parque Urbano e Impactos Habitacionais: o caso do projeto do parque de Madureira, Rio de Janeiro” apresentada como exigência para a obtenção do título de especialista no curso Política e Planejamento Urbano, promovido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Pretende-se analisar o projeto do parque de Madureira (Rio de Janeiro), que se encontra em processo de implantação pela Secretaria Municipal de Urbanismo da cidade do Rio de Janeiro. Segundo idealização inicial, o parque representa um projeto ambicioso, pretendendo ser a terceira maior área verde da cidade do Rio de Janeiro, contando com mais de 1200 árvores, além de área de lazer (praça do samba, cinema ao ar livre, Internet livre).
No entanto, a implantação deste parque que, segundo estimativas oficiais, deverá ficar pronto até junho de 2012, envolve conflitos entre moradores do local (agricultores de uma horta urbano do bairro) que será ocupado pelo parque, visto que muitos terão de ser removidos do local (muitos já foram). O dilema envolvendo a implantação do parque confronta a visão oficial a respeito do projeto e a visão dos moradores do bairro, a quem é destinado tal serviço.
METODOLOGIA:
Utilizou-se de pesquisas de campo para entrevistar moradores do bairro de Madureira, diretamente atingidos pelo processo de implantação do parque, freqüentando-se ainda as reuniões promovidas pela associação de moradores do bairro dirigidas ao assunto. Apoiou-se ainda em fotografias das demolições já realizadas no local da implantação (retiradas pelo próprio autor em trabalho de campo).
Buscou-se ainda o projeto do Parque de Madureira em publicação do diário oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, além de extensa revisão bibliográfica a respeito dos impactos promovidos pelos parques públicos nas áreas urbanas.
Consultou-se ainda o Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis do Rio de Janeiro (SECOVI Rio) para analisar a influência da construção do parque no preço dos imóveis do bairro de Madureira e acompanhar a forma de apropriação do mesmo pelas construtoras imobiliárias.
Pesquisou-se ainda as abordagens a respeito da implantação destes parques em jornais e revistas do Rio de Janeiro.
RESULTADOS:
Obteve-se registros fotográficos das demolições realizadas no local de implantação do parque relato de moradores, registros de jornais, revistas e sites da Internet, representando a abordagem midiática, além do futuro parque sendo apropriado por construtoras imobiliárias em registros publicitários. Estes dados mostram os interesses conflitantes acerca da implantação do parque e retratam os dilemas associados a implantação do mesmo no bairro de Madureira.
O contato com os moradores do local de implantação do parque mostrou a predominância de uma visão negativa acerca do futuro parque, principalmente entre os que tiveram sua moradia removida. Muitos não acreditam na efetivação do mesmo, o que permitiu formular indagações, como: para quem será construído o parque?
CONCLUSÃO:
Conclui-se que a implantação de um parque urbano é algo muito complexo que envolve os interesses contraditórios de diferentes atores que compõem a sociedade de classes do sistema capitalista.
Os parques urbanos, embora vendidos como símbolos de sustentabilidade e tragam benefícios no que concerne a presença de vegetação nas cidades, que contribui para atenuar o efeito chamado “ilha de calor” e muitas vezes, como importante área de lazer, são, não raro, apropriados por empreiteiras imobiliárias e utilizados como instrumentos de valorização do solo urbano, provocando expulsão da população pobre do local de sua implantação e atraindo classes mais altas, originando o chamado processo de gentrificação.
Cabe a este trabalho indagar se o futuro parque pretende ser uma área de lazer destinada aos moradores do bairro ou se procura ser mais um ponto turístico da cidade, considerando, sobretudo, o contexto dos grandes eventos que serão realizados no Rio de Janeiro na década de 2010.
O parque será apropriado pelos habitantes do bairro de Madureira como uma área de lazer e descanso ou apenas por construtoras imobiliárias interessadas na valorização do solo urbano no bairro?
Palavras-chave: Parque Urbano, Áreas verdes urbanas, Planejamento Ambiental.