63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal
CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DAS PINAS FOLIARES DE Astrocaryum murumuru Mart. (ARECACEAE).
Evandro José Linhares Ferreira 1,2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
2. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre
INTRODUÇÃO:
Os caracteres anatômicos das folhas das palmeiras tem valor diagnóstico não apenas ao nível genérico, mas também ao nível específico e se estima que entre 50 e 60 deles podem ter importância taxonômica, evolutiva ou biológica. O presente trabalho é uma contribuição ao estudo anatômico das folhas da palmeira murumuru ( Astrocaryum murumuru Mart.), uma espécie nativa de grande importância sócio-econômica na Amazônia cuja gordura extraída dos frutos é usada domesticamente para a elaboração de sabão e industrialmente na produção de cosméticos, especialmente cremes para a pele e cabelo. Ela ocorre naturalmente em florestas de várzea ou áreas ocasionalmente alagadas e se distribui por quase toda a Amazônia. No Brasil ocorre desde o Pará até o sul do Amazonas, inclusive Acre e em Rondônia. É uma palmeira cespitosa, fortemente armada com longos espinhos negros, de pequeno a médio porte e capaz de atingir até 15 m de altura. Apresenta 8-15 folhas pinadas, rígidas, com até 6 m de comprimento e 38-133 pinas lineares em cada lado da raque. As pinas estão regularmente arranjadas e dispostas em um plano. Os frutos maduros são amarelados, oblongos a obovóides, com 3,0-8,5 cm de comprimento e 2,0-4,5 cm de diâmetro, o epicarpo é espinuloso ou piloso e o mesocarpo carnoso e oleoso.
METODOLOGIA:
Para este estudo foram retiradas amostras de 3 exsicatas do herbário NY (Noblick et al. 5024; Prance et al. 30662; Beck & Souza 273). De cada uma, retirou-se 3-5 amostras de 4-5 cm de comprimento da porção mediana de folíolos da região central das folhas. Amostras, com nervura central (NC) e as margens foliares (MF), foram mantidas glicerina-álcool (70%). A reidratação durou 12-24 horas e incluiu vácuo (12 p.s.i.), 3 lavagens em água deionizada (15 min. cada) e fixação em FAA. Para o clareamento das folhas, seções de 2-3 cm com a NC e uma das MF foram colocadas em NaOH 5% na estufa (60°C) até o clareamento. No preparo de epidermes, amostras de 1 cm² foram mantidas em solução de Jeffrey (Ácido Nítrico 10% : Ácido crómico 10% + 10 g tetróxido de cromo) por 4-5 dias. As folhas clareadas e as epidermes foram coradas com Safranina (0,5%) e montadas com Kleermount. Para os cortes transversais, amostras com 1-2 cm, incluindo a NC e uma das MF, foram desidratadas (série alcoólica-etílica ascendente até álcool 100%), emblocadas em parafina e seccionadas em micrótomo rotativo (SPENCER). As secções foram coradas com solução aquosa de Safranina (1%) durante 12 horas e Astra Blue (0,5%) durante 1 hora e montadas com Kleermount. As lâminas foram examinadas e fotografadas em microscópio ótico.
RESULTADOS:
Nervura central (NC): proeminente acima; 2-3 camadas de clorênquima; parênquima com 2-5 feixes vasculares grandes e 3-4 feixes menores. Células de expansão: 2-3 camadas conspícuas adjacentes à NC. Pêlos: ausentes. Epiderme: cera epicuticular abundante, persistente, transversal e fusiforme; paredes celulares não sinuosas; células adaxiais costais e intercostais indistintas, romboedrais-retangulares, em filas distintas; células abaxiais distintas. Estômatos: restritos às regiões intercostais da face abaxial, em fileiras de 2-6 unidades; células subsidiárias terminais arqueadas sobre as células-guardas. Hipoderme: 1-camada em ambas as faces, comprimidas acima e abaixo das nervuras maiores. Clorênquima: mesófilo paliçádico em 2 camadas distintas, mesófilo esponjoso em 4-5 camadas compactas. Células de tanino: presentes. Fibras não vasculares: feixes cilíndrico-ovóides, adaxiais. Nervuras primárias: arredondadas, abaxiais, delimitadas por 1-2 camadas fibrosas. Nervuras secundárias: ovóides, proeminentes abaixo. Nervuras terciárias: arredondadas, não proeminentes. Nervuras quaternárias: ausentes. Nervura marginal: proeminente, com 3-6 camadas fibrosas externas. Floema: veias distintas nas grandes nervuras. Nervuras transversais: largas e curtas, formando um padrão irregular.
CONCLUSÃO:
A estrutura anatômica dos folíolos de Astrocaryum murumuru é similar a de outras espécies do gênero previamente estudadas (A. gynacanthum e A. jauari). Em comum, as espécies citadas apresentam estômatos dispostos em filas distintas apenas na face abaxial, abundante presença de cera epicuticular na face adaxial e nervuras transversais formando um padrão irregular ao longo da lâmina. A presença abundante de cera epicuticular nestas espécies Amazônicas de Astrocaryum não é fácil de ser justificada. Essa estrutura usualmente está mais associada com espécies encontradas em ambientes secos ou indivíduos na condição epifítica, pois ela serve como principal barreira protetora contra a perda de água por transpiração excessiva, radiação solar excessiva, ação de patógenos e entrada de contaminantes nos tecidos vegetais. A palmeira murumuru e outras espécies de Astrocaryum da Amazônia são geralmente espécies de sub-bosque que recebem pouca radiação solar direta, e crescem em ambientes temporariamente alagados, portanto, com abundante disponibilidade de água. Por outro lado, a presença de cera epicuticular se justifica nas espécies de Astrocaryum nativas do cerrado brasileiro, onde a disponibilidade de água é baixa e radiação solar elevada.
Palavras-chave: Astrocaryum, anatomia foliar, Palmeira.