63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
TRANSTORNO DISTÍMICO: uma perspectiva histórica
Lana Magna Sousa Braz 1,2
Mara Rúbia de Camargo Alves Orsini 3,2,4
1. Aluna vinculada ao Laboratório de Avaliação, Pesquisa e Intervenção em Saúde Mental e Personalidade – LabSAMP (CNPq)
2. Curso de Psicologia, FE – UFG
3. Profa. Dra./Orientadora
4. Coordenadora LabSAMP- CNPq
INTRODUÇÃO:
O Transtorno Distímico é crônico e se caracteriza pela presença constante dos sintomas cuja gravidade pode variar ao longo do tempo. Tem um aparecimento insidioso começando antes dos 25 anos em aproximadamente 50% dos pacientes, afetando de 3% a 5% da população geral e cerca de 30% a 50% dos pacientes clínicos psiquiátricos gerais. Os sintomas caracterizam-se principalmente pela presença de um humor deprimido (tristeza) ou falta de interesse pelas atividades habituais. Introduzido no eixo de Transtorno de Humor em 1980, os pacientes atualmente classificados com Transtorno Distímico eram diagnosticados como tendo Depressão Neurótica, alocados no eixo de Transtornos de Personalidade. Devido à recente inserção do Transtorno Distímico como Transtorno de Humor nos Manuais de Classificação, a presente pesquisa visa um estudo histórico de seu desenvolvimento, dos fatores que propiciaram essa classificação e, a partir disso, uma reflexão crítica sobre a validade dessa nova alocação.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa histórico bibliográfica sobre a concepção original da Distimia como um Transtorno Neurótico de Personalidade até chegarmos, atualmente, ao conceito de distimia como Transtorno do Humor. Após esse levantamento, foram realizadas leituras e fichamentos que propiciaram questionamentos e problematizações acerca das modificações que o conceito de Distimia sofreu ao longo do tempo. Posteriormente, foi feita uma análise do material pesquisado que contribuiu para a discussão que será apresentada, sobre o impasse que norteia a distimia e levanta questões pertinentes sobre sua melhor conceituação, seja como um Transtorno de Personalidade ou como um Transtorno do Humor.
RESULTADOS:
A pesquisa realizada revela que o conceito de distimia evoluiu e passou por várias modificações ao longo dos séculos, no entanto, tais modificações não foram aleatórias. Os conceitos que foram se firmando com Hipocrátes, Schneider, Kraepelin, Freud e Akiskal são produtos de estudos, observações e reflexões. Ao mesmo tempo, tais estudos são produtos de uma época com concepções de homem e de doença determinadas. Destaca-se nesse percurso, a influência da Psicanálise na formulação do conceito inicial de depressão neurótica e sua classificação no DSM I como um distúrbio de personalidade. Posteriormente, o DSM foi revisado em diversas ocasiões, alicerçado no esquema sinal-diagnóstico-tratamento. Essas revisões acabaram eliminando toda a terminologia elaborada pela psiquiatria dinâmica, dentre elas os conceitos de depressão neurótica (incluído no DSM-I e II). Pode-se afirmar que o Transtorno Distímico surge no bojo de um novo paradigma em psiquiatria, marcado pelo declínio da influência psicanalítica e por um novo sistema operacional de critérios diagnósticos.
CONCLUSÃO:
Pode-se inferir que a nova alocação do Transtorno Distímico como Transtorno de Humor aparece ancorada a uma concepção biologizante dos estados mentais, o que leva a questionar a pretensão dos novos manuais de classificação de fornecer descrições objetivas e ateóricas dos fenômenos psicopatológicos. Evidencia-se também que se o conceito de Depressão Neurótica (nos estudos realizados por Akiskal) não revelou significância clínica para constituir-se enquanto Transtorno de Personalidade, sendo por isso, alocado como Transtorno do Humor, este, por sua vez, também não tem apresentado diferença significativa do conceito de Personalidade Depressiva, cunhado pelo próprio Akiskal. Conforme assinala alguns autores como Tripicchio (2007), Cordás & Nardi (1997) e ORSINI (2008), ainda é extremamente difícil separar Transtorno Distímico de uma Personalidade Depressiva. Diante disso, o presente estudo levanta algumas dúvidas sobre se os critérios diagnósticos para Transtorno Distímico verdadeiramente cumprem tais normas ateóricas e até que ponto essa nova formulação corresponde a uma escuta do sofrimento psíquico. Assim, estudos mais criteriosos são necessários para que este transtorno, tão prevalente e oneroso, seja mais bem compreendido e melhor tratado.
Palavras-chave: Transtorno Distímico, Depressão Neurótica, Personalidade.