63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Lingüística Aplicada |
ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO EM TEXTOS ESCRITOS E REESCRITOS POR ACADÊMICOS DE LETRAS |
Jolnei da Silva Cavalheiro 1 Rute Izabel Simões Conceição 1,2 |
1. Graduando - Fac. de Comunicação, Artes e Letras/UFGD 2. Profa. Dra/Orientadora |
INTRODUÇÃO: |
A Gramática Normativa e os estudos Linguísticos têm visões diferentes sobre a questão da relativização, em especial no que diz respeito às chamadas orações relativas regidas de preposição. As Gramáticas Normativas brasileiras prescrevem como correta a existência de apenas uma estratégia de relativização, a relativa padrão, em que a preposição aparece obrigatoriamente no contexto do sintagma. Os estudos linguísticos têm mostrado que aparecem no português falado por brasileiros em geral, outras duas estratégias de relativização – a relativa cortadora e a relativa copiadora. Partindo do pressuposto de que já está comprovado pelas pesquisas científicas (ABAURRE e RODRIGUES, 2002; NEVES, 2000) que o português falado no Brasil não tem se sujeitado totalmente às normas prescritas pelas Gramáticas Normativas, neste estudo procuramos verificar, nas práticas linguísticas de escrita de alunos de Letras, a existência dessas diferenças, por meio do estudo das estratégias de relativização em contexto linguístico em que aparece o pronome relativo “que” e verbos que exigem preposição, com o objetivo de reconhecer os usos praticados na escrita e de tomar consciência da diversidade linguística brasileira. |
METODOLOGIA: |
O corpus é formado por 103 textos escritos e rescritos por 16 sujeitos, sendo 23 textos em primeira versão e 80 reescritos (da segunda à sétima versão). Os sujeitos estavam matriculados no 3º ano do Curso de Letras/UFGD e, durante um semestre, participaram de uma experiência de produção textual aplicada nas aulas da disciplina Prática de Leitura e Produção Textual II. A coleta e análise dos dados foram efetivadas em duas fases. Na primeira, fizermos uma sondagem inicial com os autores dos textos para descobrir o que eles pensavam sobre o uso das construções relativas em sua escrita. Elaboramos três orações com as estratégias de relativização objeto de investigação e apresentamos aos sujeitos para que eles escolhessem a alternativa que julgassem mais adequada. Na segunda fase, analisamos os três tipos de relativa nos 103 textos, com a finalidade levantar as construções relativas efetivamente utilizadas. Posteriormente, agrupamos e quantificamos os sintagmas encontrados em três grandes grupos: 1) relativas padrão; 2) relativas copiadoras; e 3) relativas cortadoras. Procuramos responder, durante a análise dos dados, à seguinte questão norteadora: Qual a tendência mais frequente de utilização apresentada: o uso “+ padrão” ou o uso “– padrão”? |
RESULTADOS: |
Os resultados da análise permitiram constatar ocorrências dos três tipos de relativas utilizadas no português falado, cada uma delas com diferentes frequências e, mesmo sendo uma pesquisa em textos escritos, a presença maior de uso não recaiu sobre o tipo chamado padrão. A tendência de uso nos textos escritos concentrou-se, sobretudo, no uso da relativa cortadora. Esse uso teve um total de 169 ocorrências, ou 66% do total das construções analisadas. A frequência de uso da relativa padrão (49 ocorrências) correspondeu a 20% do total verificado no corpus. A estratégia com o menor índice de ocorrências foi a relativa copiadora, com 14%. No geral, a tendência de uso, ficou em 20% para a relativa “+ padrão” e 80% para as relativas “– padrão”. Tal fato pode ser considerado um alerta aos professores que ainda tratam a questão dos usos linguísticos de forma dicotômica, como “erro” ou “acerto”. Destacamos que, na primeira fase, quando levantou-se os tipos de relativa que os sujeitos julgavam considerar mais adequados e assumiram como uma forma linguística que utilizariam no dia a dia, verificamos que a relativa cortadora foi assumida pela maior parte, por 66,66% e relativa padrão foi assumida como um uso preferencial por 33,34% dos sujeitos. A relativa copiadora teve 100% de rejeição. |
CONCLUSÃO: |
De um modo geral, a comparação entre os resultados da sondagem inicial e entre os resultados da segunda fase de análise dos dados da pesquisa mostra que as construções relativas em língua portuguesa passam por três diferentes situações. Por um lado, há evidências de que o uso da relativa cortadora já pode ser considerado corriqueiro, tanto na fala quanto na escrita. Por outro lado, mostra que a relativa padrão está caindo em desuso. E, por fim, a ausência de escolha da relativa copiadora por parte de estudantes universitários revela que, quando incentivados a escolherem o uso preferido, a relativa copiadora é um uso estigmatizado. Os resultados encontrados colocam em pauta a discussão sobre o abismo que existe, em muitos casos, entre a norma-padrão e os usos reais do português. Coloca também em pauta a discussão de que a variação não atinge somente a língua falada, mas também a escrita. Nesse sentido, as aulas de língua portuguesa, a partir dos cursos de Letras, devem também conscientizar os estudantes de que a língua é usada não só como elemento de promoção social, mas também como elemento de discriminação, por isso devem ser alertados sobre a importância de disporem de uma variedade de opções linguísticas que poderão ser empregadas de acordo com as necessidades de interação. |
Palavras-chave: Usos linguísticos, Língua-padrão, Reescrita textual.. |