63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 1. Enfermagem de Doenças Contagiosas
Fatores Associados à Sobrevivência e ao Diagnóstico Tardio em Mulheres Vivendo com HIV/AIDS Atendidas em Goiânia-Goiás
Christiane Moreira Souza 1
Letícia Dogakiuchi Silva 1
Sandra Maria Brunini de Souza 2
1. Faculdade de Enfermagem - UFG
2. Profa. Dra./Orientadora - Faculdade de Enfermagem – UFG
INTRODUÇÃO:
A síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) continua como um dos maiores agravos à saúde pública. Sendo que nas últimas décadas mudanças no perfil epidemiológico como heterossexualização, feminização, interiorização e pauperização criaram um novo cenário da infecção, antes restrita aos homossexuais, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. Entre os heterossexuais, as mulheres têm contribuído significativamente para o aumento da incidência da infecção neste grupo populacional. A introdução da terapia anti-retroviral (TARV), o aprimoramento dos serviços, diagnósticos precoces e o monitoramento laboratorial mudaram o curso natural da doença, aumentando a sobrevida e a qualidade de vida dos portadores do vírus. Estudos epidemiológicos que analisem a sobrevida de pessoas infectadas pelo HIV são de grande relevância para o acompanhamento da epidemia, sendo poucos os estudos que no Brasil abordam esta temática, especialmente entre as mulheres. Os objetivos do estudo foram caracterizar epidemiológica e clinicamente mulheres vivendo com HIV/aids, atendidas pela primeira vez nos serviços de referência da capital e que sobreviveram à infecção por 12 meses ou mais após a primeira visita clínica e identificar os fatores associados ao diagnóstico tardio entre elas.
METODOLOGIA:
Estudo de coorte com população de mulheres infectadas pelo HIV, com ou sem aids, admitidas para tratamento em dois hospitais de referência em Goiás, no período de 01/janeiro de 2007 a 01/janeiro de 2008 as quais foram acompanhadas por 12 meses a contar da data do primeiro atendimento nas unidades. A coleta de dados ocorreu de julho/2009 a janeiro/2010, sendo os dados coletados diretamente de prontuários médicos, utilizando-se um questionário estruturado. Foram critérios de elegibilidade mulheres com sorologia positiva para o HIV, sem história de TARV prévio, com idade igual ou superior a 13 anos e que realizaram a primeira visita clínica no período acima determinado. Foram variáveis de estudo: variáveis sócio-demográficas, comportamentais e clínico-laboratoriais. A análise descritiva foi realizada por meio de distribuição de freqüências, médias e desvio padrão. Na fase analítica construiu-se um modelo univariado tendo como medida de efeito o risco relativo para estimar os fatores de risco associados ao diagnóstico tardio. Assumiu-se nesta pesquisa como um indicador de diagnóstico tardio valores de linfócitos T CD4+ ≤ 350 céls/mm3. Este estudo foi submetido e aprovado pelos Comitês de Ética e Pesquisa das duas unidades.
RESULTADOS:
Foram admitidas, no período, em ambos os hospitais 237 mulheres, destas 26 morreram. Os dados serão referentes às 211 mulheres sobreviventes após 365 dias do primeiro atendimento. A média de idade foi de 31 anos, 70,6% eram de uma unidade, 29,4% eram gestantes da outra unidade e 38,4% eram casadas ou amasiadas. A maioria (53,1%) estudou no máximo até o ensino fundamental e 57,8% eram donas de casa. Sexo desprotegido foi referido por 48/52 mulheres com esta informação, ser profissional do sexo representou 0,9% e usuária de drogas 8,5%. Pelo caráter transitório do acompanhamento clínico das 62 gestantes, elas serão desconsideradas nas próximas descrições. Das 149 mulheres, 55% possuíam linfócitos T CD4+ > 350 céls/mm3 no primeiro atendimento, 57,3% contagem de carga viral (CV) de no máximo 10 mil cópias/mm3, 71,1% não apresentavam doença oportunista e 6,0% as desenvolveram após seis meses do primeiro atendimento. Mulheres maiores de 30 anos apresentaram risco 1,7 (IC:1,2 -2,3) vezes maior de terem T CD4+ ≤ 350 céls/mm3 no primeiro atendimento; possuir CV acima de 10 mil cópias/mm3 apresentou o dobro de chances de possuírem T CD4+ ≤ 350 céls/mm3 e, mulheres com CD4+ ≤ 350 céls/mm3 obtiveram 5,4 (IC: 2,2 - 13,7) vezes mais chances de apresentarem doença oportunista no diagnóstico.
CONCLUSÃO:
As mulheres deste estudo, que sobreviveram por 12 meses ou mais após o diagnóstico da infecção pelo HIV, tinham média de idade de 31 anos; baixa escolaridade; 38,4% com relacionamento estável e como profissão, 57,8% referiu ser dona de casa. A maioria (55,0%) foi admitida com contagem de CD4+ maior que 350céls/mm3, sem qualquer doença oportunista (71,1%), e com carga viral menor que 10 mil cópias/mm3 (53,7%). Houve indicação de TARV para 70,5% das mulheres. Foi associado ao diagnóstico tardio da infecção pelo HIV, possuir idade acima de 30 anos, ter contagem de CV acima de 10 mil cópias/mm3 e possuir doença oportunista na primeira consulta clínica. No decorrer deste estudo, percebeu-se a necessidade de padronizar para aprimorar a qualidade das informações produzidas por essas importantes fontes dados do nosso Estado e Região.
Palavras-chave: Mulheres, Sobrevivência, HIV/AIDS.