63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
A CONSTRUÇÃO DE UMA (OUTRA) ESCOLA PARA OS SUJEITOS DO CAMPO: A QUESTÃO DAS ESPECIFICIDADES/SINGULARIDADES DO CAMPO
Odimar J. Peripolli 1
Alceu Zóia 1
Hélio Vieira Júnior 1
Irene Carrillo Romero Beber 1
1. Universidade do Estado de Mato Grosso - Unemat – campus de sinop
INTRODUÇÃO:
Neste texto nos propomos, basicamente, trazer algumas reflexões voltadas à Educação no/do Campo, tendo como pano de fundo, o entendimento de que esta se constitui a partir de uma determinada totalidade de relações que lhe são constitutivas. Ou seja, pensarmos a escola no/do campo, implica em pensarmos, antes (ou junto) o campo, pois, como pensamos o campo, pensamos a educação. Hoje, o campo/meio rural e a cidade/meio urbano são realidades que se opõem ou que se complementam? Com o avanço do capitalismo no campo, este teria (ou não) submetido todas as relações de produção às relações capitalistas, inclusiva as não capitalistas? Na sociedade capitalista, todas as relações estabelecidas estariam em consonância com as leis regidas pelo capital, não havendo, portanto, especificidade no campo e, conseqüentemente, a não necessidade de um currículo voltado a atender esta singularidade da escola que aí se insere? Como as políticas públicas/projetos/programas vêm lidando com estas questões? A importância destas respostas está no fato de que é destas que vão demandar determinadas políticas para o campo, dentre outras, as educacionais. Por isso da necessidade de, ao se olhar para a escola no/do campo, importa olhar primeiro para o campo. O desafio maior, ao propormos uma educação/escola no/do campo, ao que nos parece, está no esforço demandado em pensarmos a escola a partir da realidade que a cerca, ou seja, pensarmos primeiro o campo.
METODOLOGIA:
No artigo em questão faremos análise dos resultados de nossas reflexões sobre a educação do campo, especialmente sobre os problemas que os trabalhadores do campo e seus filhos encontram para ter o direito ao saber produzido na escola. Para contextualização do tema e para mostrar como estes espaços vem sendo construídos segundo projeto neoliberal para o campo apresentamos histórico e dados sobre a realidade dos assentamentos do Incra em Mato Grosso, especialmente na região Norte, nos municípios de Sinop, Claúdia, Vera e Santa Carmem. Para tanto recorremos a revisão de estudos que caracterizaram o modelo de reforma agrária implantado nesta região. Como estamos numa fase introdutória da pesquisa, apresentamos análise parcial dos dados históricos e documentais dos Assentamentos, e também da realização de entrevistas com os sujeitos do campo e com secretários municipais de educação responsáveis pela aplicação das políticas públicas para o campo nos municípios.
RESULTADOS:
As reflexões sobre o tema educação do campo sempre nos apontam para uma questão que, ao que nos parece, se coloca como orientadora do diálogo entre teorias e práticas voltadas a atender as demandas da educação para os povos do campo. Chamamos atenção para o fato de que, no conjunto das discussões sobre o tema, costuma-se deixar de lado uma questão que nos parece importante, qual seja: a da necessidade de buscar estabelecer uma relação entre a concepção que se tem de campo, e dos sujeitos que ali vivem e trabalham (os povos do campo), e o tipo de educação/escola a eles dispensada, isto é, a qualidade de ensino. Ao perguntarmos que escola, teríamos que nos perguntar, primeiro, que campo. Esta necessária compreensão tem sua importância maior na medida em que é da maneira de como se concebe um e outro (o meio e seus sujeitos) que são pautadas as políticas públicas para atender as demandas que ali existem, dentre outras, a educacional. Acreditamos que, frente ao desenfreado movimento do capital sobre o campo, é necessário evidenciar as novas necessidades que aí estão sendo criadas, dentre outras, a de uma outra escola, construídas sob novos paradigmas. Estes, obviamente, construídos pelos sujeitos que ali vivem, trabalham e estudam. É preciso re/construir outras concepções sobre o campo e seus sujeitos, levando-se em consideração os valores e princípios estabelecidos e vivenciados pelo o homem do campo.
CONCLUSÃO:
Levando estas considerações para o campo da educação, mais especificamente, para a educação do campo, há que se trazer para o leque das discussões alguns outros elementos que nos ajudarão a melhor encaminhar a temática voltada à proposta por uma Educação do Campo. Necessita-se substituir o termo “rural” (carregado de estigmas) pela expressão “campo”, concebendo-o, como um espaço social com vida, identidade cultural própria e práticas compartilhadas por aqueles que lá vivem e trabalham. Diferentemente da idéia do campo visto apenas como um espaço territorial, demarcador de área. O cultivo desta imagem negativa tem resultado, na prática, na oferta de uma educação de baixa qualidade, na contratação de professores sem qualificação adequada (“leigos”), em estruturas físicas precárias, transporte sucateado, métodos e conteúdos adaptados do meio urbano, distante das preocupações e necessidades dos alunos e da comunidade camponesa. O número ainda significativo de analfabetos no campo confirma isso. Acreditamos que para que haja justiça social no campo, começando por um trabalho que resulte na conquista de uma educação de qualidade para os filhos dos trabalhadores, seja necessário (re)construir, no imaginário da população que ali vive, uma nova visão do campo. O campo deve ser visto como um lugar de possibilidades, como espaço de transformação pelo trabalho e suas identidades e manifestações culturais dever ser valorizadas. Isso começará quando a escola formar novos sujeitos criadore
Palavras-chave: Educação do Campo, Projeto neoliberal, Reforma Agrária.