63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Lingüística
O TÓPICO DISCURSIVO EM SALA DE AULA DE GRADUAÇÃO: OBSERVANDO AS ESTRATÉGIAS DE ARTICULAÇÃO TÓPICA
Márcia Rejane Brilhante Campêlo 1
Marise Adriana Mamede Galvão 2
1. Centro de Ensino Superior do Seridó – UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Ciências Sociais e Humanas – UFRN
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é o recorte de uma pesquisa que visa descrever, analisar e interpretar a organização tópica de interações em aulas de graduação, compreendendo a categoria tópico discursivo como os assuntos construídos pelos alunos e o professor. Tais eventos apresentam estratégias de articulação tópica relevantes para o desenvolvimento dos conteúdos, sobretudo as que marcam a abertura e o fechamento dos tópicos. Sendo assim, os objetivos consistem em investigar como ocorre a articulação tópica na aula de graduação, tendo em vista as funções textuais-interativas desempenhadas pelos articuladores na manutenção da coesão e da coerência do texto. Para tanto, como aporte teórico, foram utilizados os estudos de Marcuschi (2005), Jubran (2006), Pinheiro (2005) e Urbano (1993), entre outros autores. Dessa forma, a importância de compreender as funções da articulação tópica na aula da graduação pode ser justificada pela dupla relevância desse assunto: há uma preocupação linguística - na perspectiva da organização discursiva - e outra didática, haja vista que é o modo como os falantes usam a língua em uma situação interativa real que propicia a construção dos conhecimentos científicos na instituição de ensino.
METODOLOGIA:
Para a realização da pesquisa, adotou-se a abordagem de natureza qualitativa e o método indutivo-interpretativista. Em especial, teve por base a Etnografia, a partir dos estudos de André (1998) e Erickson (2001), uma vez que os interesses consistiram em descrever o processo de organização discursiva, partindo de fatos empíricos e tendo sempre em vista o contexto sociocultural no qual a investigação está imersa. Em outras palavras, consideramos a própria sala de aula como uma microcultura. Para a geração do corpus a ser analisado, houve a colaboração de alunos e professores dos cursos de graduação em Letras e Turismo, tendo, como cenário, salas de aula de uma universidade pública na cidade de Currais Novos/RN. Os procedimentos empregados para a geração dos dados constituíram-se em observação de aulas, elaboração de notas de campo e gravação em áudio dos eventos; em seguida, foram realizadas as transcrições e sistematização do material gravado, de acordo com normas específicas para os estudos da oralidade (PRETI, 2008). Tendo em vista a perspectiva etnográfica, o texto transcrito foi submetido à leitura dos colaboradores, a fim de que fossem esclarecidos alguns aspectos interpretados pelos analistas, com relação ao conteúdo da aula e aos aspectos da interação.
RESULTADOS:
A análise dos dados evidenciou a variedade dos recursos linguísticos empregados na articulação tópica, tanto no plano hierárquico, na constituição dos quadros tópicos, quanto linear, com a função de dar continuidade aos assuntos. O tipo de articulador utilizado, em especial na organização hierárquica, tende a variar conforme o formato da aula. Na aula de Teoria Literária II, a abertura do tópico em análise ocorreu via formulação metadiscursiva; o fechamento foi realizado por pergunta. Na aula de Geografia Aplicada ao Turismo, aparece uma formulação metadiscursiva na introdução, em seguida, o tópico é concluído por uma combinação de marcadores discursivos com formulações metadiscursivas, compondo uma paráfrase. Cabe ressaltar que um mesmo tipo de articulador pode desenvolver múltiplas funções na organização textual, é o caso da paráfrase, que, nos tópicos em estudo, contribui para o desenvolvimento, expandindo e/ou explicando o assunto (aula de Filosofia); e para o fechamento do tópico (aula de Geografia aplicada ao Turismo). Sendo assim, as funções apresentadas por esses elementos não apenas organizam coerentemente o discurso, mas também revelam uma preocupação pragmática, tendo em vista o interesse de atrair a atenção do ouvinte, a fim de propiciar o desenvolvimento do evento.
CONCLUSÃO:
Os resultados obtidos comprovaram que os articuladores discursivos desempenham variadas funções na organização textual-interativa das aulas universitárias analisadas. Este fato possui relevância tanto numa perspectiva linguística quanto interativa. Desse modo, é possível perceber que a construção e mediação dos conhecimentos em ambientes acadêmicos dependem, também, de como é materializado o discurso, ou seja, da escolha dentre os mecanismos da língua, selecionando os mais adequados para atuarem como estratégias de desenvolvimento dos assuntos em foco. Nesse sentido, é pertinente destacar que essa dinâmica está imersa numa situação comunicativa real e, portanto, os falantes pretendem alcançar aos propósitos sócio-interativos estabelecidos, trata-se então de uma finalidade didática. Com isso, conclui-se que estudos dessa natureza apresentam consideráveis subsídios para a compreensão de como ocorrem os eventos de ensino-aprendizagem, cujo êxito depende, em grande parte, da coerência presente nos textos produzidos oralmente no contexto da sala de aula. Em suma, o linguístico não se separa do social.
Palavras-chave: Interação em sala de aula, Tópicos discursivos, Articulação tópica.