63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
DIAGNÓSTICO DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS DO SERTÃO ALAGOANO
Ricardo da Silva 1
1. Prof. Msc./ Autor - Campus do Sertão - UFAL
INTRODUÇÃO:
As ocorrências de violências nas escolas vêm se colocando como um grave problema social, que ultrapassa os muros escolares, afetando não somente as atividades inerentes ao espaço escolar, mas a sociedade como um todo. Não é certamente um fenômeno recente, e de pequena importância, pois, estudos sobre essa temática datam do início do século XX. Pouco tem sido feito acerca desse grave problema social que acaba interferindo na dinâmica e nos ambientes das instituições de ensino. O cenário atual é preocupante, educadores e educadoras, alunos e alunas, pais e mães estão se tornando reféns da violência e criminalidade dentro das escolas. A violência não pode ser considerada como algo isolado, descontextualizada, apartada dos demais fatores que margeiam a comunidade na qual a escola está situada. Seu processo desagregador inicia-se quando o dialogo é posto de lado, e dá lugar ao conflito. Nas escolas do sertão alagoano, este cenário não é diferente, principalmente no que diz respeito à falta de diálogo, ou até mesmo a quebra do nexo social. Por isso, o primordial para a educação é uma discussão apropriada sobre este tema, o qual envolva a comunidade, pais, alunos e professores, mas principalmente as políticas qualitativas e as ações de prevenção social.
METODOLOGIA:
O diagnóstico foi realizado através de pesquisa de campo. Construímos um questionário que foi respondido pelos dirigentes e ou coordenadores/as das instituições de ensino, a pesquisa foi feita em 26 escolas, ou seja, 95% das Escolas Municipais e Estaduais do Município de Delmiro Gouveia, localizado no alto Sertão do Estado de Alagoas e que faz divisa com os Estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. As entrevistas também foram gravadas e depois transcritas, de modo a assegurar a identidade dos participantes. A estrutura física dos ambientes das escolas foi fotografada com autorização dos responsáveis e compõe o material que servirá de análise a outras ações. Através deste diagnóstico podemos identificar os casos, relatos e estatísticas sobre violências que ocorreram ou que se relacionem no âmbito escolar, envolvendo os alunos, a comunidade e os trabalhadores da educação. Percebemos em muitos relatos dessas entrevistas, que a violência no alto sertão tem sido preocupante, muitos dos docentes entrevistados relatam que já sentiram ou sentem medo de ir à escola por conta da violência, e quase sempre se sentem impotentes perante os casos. Os dirigentes das instituições de ensino apontam em muitos momentos das entrevistas que o poder público jogou a responsabilidade para a escola.
RESULTADOS:
Em relação à estrutura física das escolas participantes deste diagnóstico foram apontados 427 casos de depredação do patrimônio público, principalmente em locais de acesso como portas e janelas. Fato comum são os muros pinchados, portões amassados e janelas quebradas. As situações envolvendo pessoas somam 855 casos, identificados como agressões físicas ou verbas, entre alunos e alunos, alunos e professores, alunos e técnicos da escola, professores e pais, pais e pais e alunos e pessoas da comunidade. Constatamos a priori a presença marcante da violência simbólica. A maior parte das incidências das ocorrências se deu no turno da tarde com 46% dos casos. 50% dos dirigentes das escolas, responderam que os casos de violência aumentaram nos últimos anos. A pesquisa constatou que em 85% das escolas não têm policiamento ostensivo ou preventivo. 20% afirmaram que a indisciplina está incontrolável no ambiente escolar, e que os professores e professoras não estão preparados para agir em casos de violência, constatou-se em 80%. 60% dos que participaram das entrevistas responderam que sentem medo de ir trabalhar. Constatamos também que 65% das escolas nunca desenvolveram atividades relacionadas à temática violência na escola. Os desafios estão lançados à prática docente.
CONCLUSÃO:
A angústia social que acarreta a sociedade é fruto de uma construção histórica, definida pelas relações de poder e desigualdades que fizeram da escola um lugar de conflitos, que até então se distanciava veladamente das questões relacionadas à violência. Cabe aqui evidenciar que a escola tem um papel fundamental nessa tomada de posição, no chamamento imediato da sociedade brasileira para que possamos discutir a questão sob o prisma amplo das condições postas, das possibilidades e impossibilidades da atuação da escola neste cenário atual. As questões relacionadas à violência exigem dos professores/as uma carga de conhecimentos e principalmente outra postura no desenvolvimento de suas atividades, com vistas a uma cultura de paz, e não de silêncio forçado, intimidação e medo. Os dados da pesquisa nos permitem pensar numa nova etapa para o projeto de extensão, haja vista a necessidade de um processo de formação continua para os/as docentes da região sertaneja. Saber agir em casos de violência é o passo inicial, contudo, não devemos perder de vista que a melhor forma de combater à violência é preveni-la na sua origem, na sua composição, de forma dialógica e em defesa pela garantia dos direitos humanos.
Palavras-chave: Educação, Violência, Docentes.