63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 5. Zoologia Aplicada
Uso do estipe da palmeira paxiubão (Iriartea deltoidea Ruiz & Pavón) para a confecção de caixas-colmeias visando o manejo de melíponas nativas em comunidades isoladas no Estado do Acre, Brasil.
Nilson Alves Brilhante 1
Evandro José Linhares Ferreira 1,2
1. Laboratório de Entomologia do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC
2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, Núcleo do Acre
3. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC
INTRODUÇÃO:
Um dos maiores desafios para a popularização do manejo de melíponas nativas em comunidades isoladas do interior do Estado do Acre é a dificuldade de transportar as caixas convencionais de madeira prontas ou confeccioná-las no próprio local de uso em função das dificuldades de acesso, carência de equipamentos adequados e impossibilidade de uso de equipamentos elétricos em razão da inexistência de eletricidade na maioria destas comunidades. Diante desse problema, e observando que muitas famílias extrativistas usam troncos de plantas nativas extremamente resistentes à umidade para a confecção de calhas para coleta de água de chuva e canalização de esgoto doméstico, uma equipe de pesquisadores do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre resolveu testar o uso de troncos e estipes de árvores e palmeiras nativas para a confecção de caixas não convencionais visando o manejo das melíponas nativas encontradas nas diversas regiões do Estado. O objetivo do presente trabalho é descrever os resultados alcançados com o uso de caixas confeccionadas com estipe de paxiubão para o manejo de melíponas nativas na região central do Estado do Acre.
METODOLOGIA:
O desenvolvimento dos protótipos de caixas foi realizado na área do Parque Zoobotânico, em Rio Branco, AC (10º02’11”S; 67º47’43”W) e o uso experimental das mesmas está sendo feito por meliponicultores e apicultores profissionais do Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) ‘Humaitá’, localizado no município de Porto Acre (9°35’18”S; 67°31’57”W) e por seringueiros da Reserva Extrativista ‘Cazumbá-Iracema’ (9°05′46″S; 68°50′37″W), no município de Sena Madureira. O experimento foi realizado em conjunto com 4 meliponicultores/apicultores profissionais e 7 famílias extrativistas. Foram confeccionadas e distribuídas 47 caixas entre os produtores envolvidos no experimento.
RESULTADOS:
O estipe da paxiubão é cilíndrico e alongado, resistente e de fácil trabalhabilidade. Uma equipe de 2-3 pessoas leva em média 2 horas para preparar uma caixa, considerando o tempo de seleção, derrubada da palmeira e corte do estipe com motosserra ou serra manual, e limpeza interna com facão e formão. Uma caixa contem 1 base ou lixeira, 1 fundo em madeira, 2 ninhos, 2 melgueiras e 1 tampa em madeira resistente. Os segmentos circulares medem 50-90 cm de diâmetro e 10-15 cm de altura. A durabilidade das caixas variou entre 3-6 anos. O ataque de inimigos naturais é menor, pois as caixas são mais fáceis de vedar. A vedação, com fita crepe ou argila, deve ser feita durante a transferência do enxame, à nova caixa deve ser posicionado na mesma altura em que as abelhas voavam para adentrar o antigo ninho. A transferência do enxame para a nova caixa é feita no seu habitat natural e a mudança definitiva para o meliponário 5 dias depois. O meliponário deve oferecer segurança, fácil acesso, protegido do sol, chuva e próximo de abundantes floradas. A divisão do enxame pode ser feita após 2 anos. Dentre as espécies capturadas e adaptadas às novas caixas destacaram-se a jandaira-amarela Melipona rufiventris, uruçu-amarela Eburnea sp., uruçu-preta Melipona grandis e uruçu-rajada Melipona fuscopilosa.
CONCLUSÃO:
Apesar de ainda pouco difundidas, as caixas confeccionadas com estipe da palmeira paxiubão demonstraram que são de fácil e baixo custo de confecção, sendo possível sua elaboração com ferramentas simples, acessíveis para a maioria das famílias de comunidades isoladas. Além disso, é importante ressaltar que o paxiubão é uma das espécies nativas usadas naturalmente pelas melíponas para a instalação de seus ninhos.
Palavras-chave: Amazônia, Manejo, Melíponas.