62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
A PERCEPÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL - DA COLÔNIA AO FIM DO IMPÉRIO: DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Samuel Silveira Martins 1
Felipe dos Santos Tartas 1
Eurico Antônio Gonzalez Cursino dos Santos 2
1. Depto. de Sociologia, Instituto de Ciências Sociais - UNB
2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Sociologia, Instituto de Ciências Sociais - UnB
INTRODUÇÃO:
A escravidão no Brasil constitui-se em um vigoroso objeto de análise da Sociologia Brasileira, sendo representativo em grandes autores de nossa literatura desde o século XVII. Este trabalho tem por finalidade discutir algumas problemáticas relacionadas ao sistema escravista, entendendo que este constitui-se não somente da relação econômica senhor/escravo, mas também na construção social de prerrogativas culturais que engendram a atuação desses atores nas sociedades vigentes em suas épocas. Abordaremos os elementos encontrados nas vozes de autores como Antonil, Azeredo Coutinho, Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Autores representativos de seu tempo, que em suas obras analisaram ou ilustraram uma perspectiva da vida colonial e/ou pós-colonial observada, cristalizando-as através de seus discursos.
METODOLOGIA:
Para alcançar a demanda almejada foi necessário o uso da técnica análise de discurso. Entendendo que o discurso é uma prática social, isto é, significa que é uma construção social e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social e as condições inerentes à sua produção. Para Fiorin (2000) significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, vinculada à dos seus autores e à sociedade em que vivem. Partindo desta premissa, primeiramente, analisamos o discurso e as prerrogativas deste na obra Cultura e Opulência do Brasil, de André João Antonil, escrita ainda no século XVII. Segundo, analisamos as Obras Econômicas de Azeredo Coutinho, publicadas no fim do século XVIII; e a obra O Abolicionismo de Joaquim Nabuco, escrita já na segunda metade do século XIX. Por último, analisamos o conto Pai contra Mãe de Machado de Assis, a fim de exemplificar o trato dado pela literatura machadiana à temática. Dessa maneira, fizemos um apanhado diacrônico do discurso sobre o escravismo em um espectro que abrange três séculos.
RESULTADOS:
Antonil nos possibilita uma visão econômica do sistema escravista, a dinâmica laboral do trabalho escravo, sua utilidade para a economia açucareira colonial no século XVII, além da conduta do Senhor de engenho na administração de suas propriedades, inclusive, o escravo, em uma abordagem que naturaliza o trabalho escravo. Coutinho, preocupado com a questão econômica, reflete sobre a necessidade de manutenção do trabalho escravo, fundindo um discurso filosófico que evoca o jusnaturalismo para legitimar a escravidão à defesa econômica da prática, posto que era o sustentáculo de um sistema colonial e extingui-la seria inviabilizar o próprio sistema. Nabuco, em seu discurso abolicionista, se preocupa com a formação de um país levando em conta não somente o aspecto econômico, mas também moral, tendo em vista que repercutia por gerações, adentrando todas as instituições da sociedade, permiti-la seria dar continuidade a um ciclo depreciativo perpétuo. Em Machado há tanto a naturalização da prática da escravidão, como elemento de uma estrutura econômica vigente, quanto há reflexividade da condição dessa estrutura como prática social excludente que vitimizara a sociedade de seu tempo, tanto escravos, quanto trabalhadores livres, porém pobres.
CONCLUSÃO:
As obras analisadas representam não somente um olhar, mas sim uma cosmovisão dos seus autores, no sentido antropológico, - homens de seu tempo, que em seus escritos conceberam não apenas versão personalista sobre uma prática social, mas sim uma tendência de pensamento e entendimento sobre o sistema escravista. Este, enquanto prática social, mesmo que abolido legalmente em 1888, reverbera suas reminiscências da sociedade colonial à república, passando pelo período imperial, chegando até os nossos dias. Seus tentáculos abrangem vários aspectos de nossa sociedade, mesmo que sua práxis tenha sido resignificada, porém mantém-se o dilema central: exclusão e inclusão. Parece-nos obvio a necessidade de retomarmos à leitura de textos, como os aqui apreciados, sempre que se almeja conhecer a "raiz" ou a pré-modernidade de nosso país, pois através destes textos temos a mão fonte riquíssima que possibilita análises diversas, ensejando pesquisas em variados âmbitos.
Palavras-chave: Sistema Escravista, Trabalho escravo, Brasil colonial .