62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia da Saúde
AS REPRESENTAÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE AO ATENDIMENTO A PACIENTES COM COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS
Mayara Martins Tavares 1
Marta Rovery de Souza 2
1. Faculdade de Ciências Sociais/ Universidade Federal de Goiás (UFG)
2. Profa. Dra./ Orientadora - Faculdade de Ciências Sociais (UFG)
INTRODUÇÃO:

Em sua prática de trabalho os profissionais de saúde são confrontados por situações onde o elemento mais complexo não é necessariamente a doença ou a lesão a ser tratada, e sim o paciente em questão. Ao se colocar diante deste profissional, por vezes este paciente demanda muito mais que o atendimento clínico em si. Esta dimensão, no entanto, não é própria do ethos deste profissional, que tem sua formação calcada no modelo biomédico que o prepara para lidar com a doença, a lesão ou o trauma, e não necessariamente com os conflitos éticos e morais a que se sujeitará. Em um serviço médico de emergência esses profissionais se confrontam com as mais diversas situações e por conseguinte, com os mais diversos tipos de paciente. Nesse sentido, é o significado social atribuído aos casos que atende que se configura enquanto desafio ao profissional de saúde, uma vez que ele também não se abstrai de um possível juízo de valor. Trata-se pois, essa significação social, de uma dimensão não contemplada pelo modelo biomédico que manifesta as representações desses profissionais acerca dos casos e dos pacientes atendidos. Nesse sentido, uma investigação mais aprofundada acerca dessas relações estabelecidas em um momento, em geral crítico, bem como das representações dos profissionais acerca de determinados pacientes, mostrou-se de grande relevância para a compreensão das mesmas. Desde modo, este estudo se propôs a investigar as representações dos profissionais de saúde acerca do atendimento de emergência aos casos de tentativa de suicídio e as possíveis implicações para o mesmo.

METODOLOGIA:

A coleta de dados e a análise de resultados tiveram enfoque qualitativo. Como referencial foi utilizada a Teoria das Representações Sociais e como recursos metodológicos a coleta de dados através de entrevistas individuais e a técnica de análise de conteúdo. A seleção dos sujeitos da pesquisa foi feita a partir da rede de contato do pesquisador e de indicações dos próprios entrevistados. Como critério seletivo buscou-se compreender profissionais de saúde envolvidos em atendimentos de urgência e emergência. Quando contatados, os profissionais foram informados a respeito do caráter do estudo e convidados a participarem voluntariamente como sujeitos. A data e o local da entrevista foram definidos em comum acordo e precedendo o ato da entrevista era apresentado aos entrevistados o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que mediante a concordância com os termos descritos deveria ser assinado. A quantidade de entrevistas foi definida em campo, tendo sido realizadas sete entrevistas, quando então se atingiu o ponto de saturação. As entrevistas eram semi-estruturadas e obedeciam a um roteiro pré-estabelecido com tópicos a serem abordados. Por fim, o conteúdo das entrevistas foi analisado de modo a revelar as representações contidas evidenciando-se aspectos que expressassem interpretações, valores e simbolizações. Os resultados obtidos foram organizados a partir da convergência, divergência e similaridades encontradas nos relatos, que expressavam a natureza das representações que se configuram a partir do atendimento à pacientes com comportamentos autodestrutivos.

RESULTADOS:

Para categorização dos resultados obtidos foram definidos os seguintes eixos temáticos: a formação do profissional; o atendimento de urgência e emergência; a relação com o paciente no ambiente de emergência e o atendimento às tentativas de suicídio. Diante desse empenho de pesquisa foi possível se chegar aos seguintes resultados:

1) A formação muitas vezes é insuficiente para preparar o profissional de saúde para seu exercício pleno, principalmente no que se refere à relação com o paciente;

2) Os cursos complementares são oferecidos na maioria das vezes em caráter de obrigatoriedade pelos serviços de saúde e órgãos reguladores da profissão;

3) O atendimento de emergência é descrito como dinâmico e complexo, e por isso, mais abrangente que os demais, o que capacitaria os profissionais dessa área a atuar também em outras;

4) A relação com o paciente no ambiente de emergência restringe-se ao procedimento, tendo em vista a escassez de tempo e disponibilidade para a realização da mesma;

5) Algumas categorias de pacientes tendem a ser estigmatizadas, dentre as quais, presidiários, usuários de drogas, etilistas, portadores de doenças infecto-contagiosas, pacientes psiquiátricos e suicidas;

6) A intenção do paciente de autoextermínio entra em questão durante o atendimento, sendo perceptível se ele realmente intencionava morrer ou se tinha outra motivação para tal;

7) A tentativa de suicídio é relacionada a busca do paciente por atenção e acontece diante de problemas enfrentados pelo mesmo.

CONCLUSÃO:

A partir dos resultados encontrados, foi possível concluir que os profissionais de saúde não se abstraem de seus juízos de valor diante de seus atendimentos. Nas entrevistas, foram relatados vários casos em que esse juízo de valor compromete o atendimento do paciente, principalmente quando os pacientes carregam estigmas e interdições sociais. É preciso considerar que esse estudo não esgota as possibilidades acerca desse tema. Ao contrário, levanta questões que ainda precisam ser respondidas. Nesse sentido, a relação entre profissional de saúde e paciente, precisa ser repensada, tanto nos serviços de saúde como nos cursos de formação. Só assim, profissionais conscientes e bem treinados poderão exercer sua função plenamente, não só tratando, mas, sobretudo cuidando.

Instituição de Fomento: Programa Institucional de Iniciação Científica/ Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/ Universidade Federal de Goiás
Palavras-chave: Relação Profissional de Saúde-Paciente, Representações Sociais, Tentativa de Suicídio.