62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS E SUA ASSOCIAÇÃO COM PARASITEMIA E NÍVEIS SÉRICOS DE CITOCINAS
Rafael de Souza Barros 1
Mauricio Llaguno 1
Valdo José Dias da Silva 2
Virmondes Rodrigues Junior 3
Eliane Lages-Silva 4
Dalmo Correia Filho 5
1. Depto. de Doenças Infecciosas e Parasitárias - UFTM
2. Depto. de Fisiologia - UFTM
3. Depto. de Imunologia - UFTM
4. Depto. de Parasitologia - UFTM
5. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Doenças Infecciosas e Parasitárias - UFTM
INTRODUÇÃO:
Os principais mecanismos envolvidos no desenvolvimento da cardiomiopatia chagásica são as disautonomias cardíacas, os distúrbios microvasculares, os danos miocárdicos dependentes do parasito, e a lesão miocárdica imunomediada. Evidências sobre a resposta imunológica e as alterações do balanço símpato-vagal na doença de Chagas ainda são controversas, e os fatores que determinam as diferentes manifestações clínicas, que levam às formas leve ou grave da doença, não estão completamente esclarecidos. O tratamento com benzonidazol induz destruição parasitária e disseminação de antígenos, alterando o equilíbrio imunológico e autonômico podendo ter um efeito benéfico ou prejudicial no prognóstico desta doença. Com o intuito de elucidar esta questão, realizamos um estudo longitudinal para avaliar o perfil parasitológico, imunológico e autonômico, antes e durante o tratamento específico, em pacientes chagásicos da forma clínica indeterminada e de formas clínicas determinadas de grau leve.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado na UFTM. Foram selecionados três grupos. O primeiro grupo, formado por 17 pacientes com doença de Chagas da forma indeterminada (FI), com idades entre 24 e 56 anos (mediana = 44), o segundo, por 12 pacientes com formas clínicas determinadas (FCD), com idades entre 32 e 60 anos (mediana = 56); destes, sete apresentavam a forma cardíaca, quatro a forma mista e um a forma digestiva e o último grupo, formado por 29 indivíduos controles saudáveis, com idades entre 24 e 60 anos (mediana = 49). Todos os pacientes chagásicos apresentaram hemocultura e/ou PCR positivas, recebendo tratamento específico, por um período de 60 dias, sendo acompanhados antes e durante o tratamento, nos dias sete, 15, 45 e 60. A parasitemia em pacientes chagásicos foi avaliada pela técnica da PCR e, também, pela hemocultura em meio LIT. A condição autonômica cardíaca foi avaliada pela análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) durante condições basais, no teste do esfriamento facial e em resposta ao ortostatismo passivo "Tilt Test", sendo obtidos os índices temporais, geométricos, espectrais e não-lineares usando o software "Kubios HRV versão 2,0". A produção das citocinas plasmáticas IL-1β, IL-4, IL-6, IL-10, IL-12, IL-13, IL-17, TNF-α e IFN-γ foi avaliada pelo teste de ELISA.
RESULTADOS:
A PCR e a hemocultura mostraram uma redução significativa dos casos positivos durante o tratamento (p= <0,05). Na avaliação da função autonômica cardíaca, observou-se, nos chagásicos FI, significância estatística na mediana do intervalo RR (P=0,008) e na frequência cardíaca (P=0,044). No grupo chagásico FCD, foram significantes a mediana dos intervalos RR (P=0,048) e a Entropia Shannon (P=0,012). Quanto à produção de citocinas, no grupo com FCD foi significativa a maior produção de IL-5 (P=0,04) e IL-10(P=0,021). Na FI foi significativa a IL-12 (P=0,03). Comparando os grupos chagásico FI e FCD, observou-se maior produção na FI de IFN-γ (P=0,028), TNF alfa (P=0,041) e IL-5 (P=0,021). Comparando os grupos FDC e FI com o controle, notou-se diferença significativa na produção de IL-4, IL-6, IL-10, IL-13, IL-17 e TNF-α, com P<0,001. Ambos os grupos de pacientes chagásicos apresentaram uma modulação vagal anormal e perfil similar de citocinas antes do tratamento. Já, durante o tratamento, cada grupo foi modulado de forma diferente, provavelmente, associado a uma resposta inflamatória desencadeada pelos antígenos parasitários liberados, ou por efeito da própria droga. Entretanto, no final do tratamento, em ambos os grupos, houve modulação do balanço autonômico cardíaco.
CONCLUSÃO:
Concluímos que houve maior produção de citocinas, redução da parasitemia por T. cruzi e melhora da variabilidade da freqüência cardíaca após tratamento nos pacientes chagásicos crônicos.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG
Palavras-chave: Doença de Chagas, Benzonidazol, Variabilidade da frequência cardíaca.